Um grupo de 49 especialistas que são assessores externos do Pontifício Instituto João Paulo II solicitou às suas autoridades que revertam as dispensas dos renomados professores Mons. Livio Melina e Pe. José Noriega para que o centro mantenha seu alto perfil acadêmico e reputação internacional.

A carta desses especialistas se junta à onda de críticas aos novos estatutos do Instituto que estabelecem, entre outras coisas, que o desenvolvimento do currículo e a contratação de novos professores estarão sob o controle absoluto do Grão-Chanceler, Dom Vincenzo Paglia, através de um complexo sistema de normas, quando antes havia uma maior participação dos professores para garantir a idoneidade dos candidatos.

As reações também se focaram na decisão do Instituto de não contar mais com dois de seus principais professores, Mons. Livio Melina e Pe. José Noriega.

Embora tecnicamente ambos não serão demitidos, não terão seus contratos renovados, embora possam continuar trabalhando com os alunos concluindo dissertações sob sua direção.

Mons. Melina foi o primeiro a obter um doutorado no Pontifício Instituto João Paulo II, em 1985, e chegou a presidi-lo por vários anos. Pe. Noriega é conhecido por sua linha favorável às encíclicas Humanae vitae, de São Paulo VI, e Veritatis splendor, de São João Paulo II.

“Não vemos nenhum motivo convincente de caráter científico-acadêmico, tampouco doutrinário ou disciplinar, que justifique a retirada de seus cargos”, afirmam os acadêmicos sobre Pe. Noriega e Mons. Melina na carta dirigida a Dom Paglia e a Mons. Pierangelo Sequeri, presidente da instituição.

"Se seu Instituto deseja manter um alto perfil acadêmico e sua reputação internacional, rogamos-lhes que suspendam esta revogatória e reintegrem estes estudiosos ao corpo docente do instituto”, ressaltam.

Os signatários da carta, indicam, são "docentes e pesquisadores de várias instituições acadêmicas eclesiásticas e estatais de todo o mundo" que tiveram "o privilégio de participar do último grande empreendimento científico de seu instituto: o Dicionário sobre sexo, amor e fecundidade”, um texto de 1.102 páginas publicado recentemente por Edições Cantagalli, em junho de 2019.

Na carta, explicam que o Dicionário “foi uma colaboração científica muito frutífera e profissional, que destacou o altíssimo perfil acadêmico de seu instituto e as grandes competências científicas do principal curador do Dicionário, Professor José Noriega”.

“Com grande consternação soubemos da notícia da retirada surpresa de dois professores ordinários, José Noriega e Livio Melina, junto a outros colegas como Maria Luisa Di Pietro, Stanisław Grygiel, Monika Grygiel, Przemysław Kwiatkowski, Vittorina Marini, alguns dos quais são autores do Dicionário junto conosco, sendo todos estudiosos de excelente reputação internacional”, destaca a carta.

O que é o Dicionário sobre sexo, amor e fecundidade?

O Dicionário sobre sexo, amor e fecundidade é uma obra elaborada pelos professores José Noriega e René e Isabelle Ecochard. Foi aprovado pelo Conselho do Pontifício Instituto João Paulo II em junho de 2016, quando seu presidente era Mons. Livio Melina.

O Dicionário foi publicado no marco dos 50 anos da Humanae vitae. A obra contou com a colaboração de muitos consultores externos.

O texto aborda o tema da sexualidade humana de maneira correta, ressaltando a importância de compreendê-la no âmbito do amor e da fecundidade dos esposos, para enfrentar a desumanização que se sofre atualmente.

O Dicionário analisa vários temas da sexualidade, como o erotismo, o corpo, o amor, o sacramento, a maternidade, a paternidade, que são vistos a partir de várias ciências humanas, como a sociologia, a psicologia, a pedagogia e a medicina.

Quando a refundação do Instituto João Paulo II foi anunciada, Mons. Sequeri comentou que toda a operação estava no contexto do diálogo das ideias.

Segundo disse ao Grupo ACI uma fonte confiável dentro do Instituto, se este não reintegrar “os dois professores ordinários expulsos (Noriega e Melina), junto com o restante dos professores que foram despedidos – incluindo a maioria da presença polonesa –, o Instituto ficará fora de qualquer diálogo de ideias, porque terá substituído esse diálogo pela imposição arbitrária de uma linha ideológica”.

Quem assina a carta ao Instituto João Paulo II?

Alguns dos 49 signatários da carta dirigida às autoridades do Instituto são: Francesco Botturi, professor emérito de Filosofia Moral da Universidade Católica de Milão (Itália); John Crosby, Professor de Filosofia na Franciscan University of Steubenvillenos (Estados Unidos); Ignacio de Ribera-Martin, professor assistente na Escola de Filosofia da Universidade Católica da América (Estados Unidos); Alfonso Fernández Benito, professor de Teologia Moral do Instituto Superior de Estudos Teológicos São Ildefonso de Toledo e professor visitante de Teologia Moral na Universidade Eclesiástica de San Dámaso, em Madri (Espanha).

Outros signatários são Kevin L. Flannery, professor de História da Filosofia Antiga na Universidade Gregoriana de Roma e membro da Pontifícia Academia de Santo Tomás; Stefano Fontana, diretor do Observatório Internacional Cardeal Van Thuan sobre a Doutrina Social da Igreja; Elio-Alfonso Gallego, professor associado de Teoria Política e Filosofia do Direito na Universidade São Paulo CEU, em Madri.

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Do mesmo modo, assinam Daniel Granada Cañada, professor associado de Teologia Moral Fundamental da Universidade de Navarra e de Ética Pessoal no Centro de Estudos Teológicos de Aragão; Gabriele Kuby, socióloga e escritora; María Lacalle, Professora de Filosofia do Direito, Diretora do Centro de Estudos da Família e Vice-reitora da Universidade Francisco de Vittoria, em Madri; Carlos Alberto Scarponi, docente de Teologia Moral Fundamental da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica da Argentina.

Há também outros especialistas de países como Itália, Austrália, França, Áustria e Alemanha.

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