O candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na sexta-feira (2) que o Estado é laico e “não pode ter religião” e que “a igreja não pode ter partido”. Em outras ocasiões, porém, Lula já afirmou que a Igreja Católica, sobretudo a ala ligada à Teologia da Libertação, contribuiu “na construção do PT”.

"O Estado brasileiro não pode ter religião. O Estado é laico e eu sou católico. E, eu acho, que da mesma forma que o Estado não pode ter religião, a igreja não pode ter partido", declarou Lula durante um encontro com etnias indígenas em Belém (PA).

Esta não foi a primeira fez que o candidato adotou este discurso durante a campanha. Em um comício no centro de São Paulo (SP), em 20 de agosto, Lula também se referiu ao tema. “E eu quero dizer para vocês: Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, defendo o Estado laico. O Estado não tem que ter religião, todas as religiões tem que ser defendidas pelo Estado. Mas também quero dizer: as igrejas não têm que ter partido político porque as igrejas têm que cuidar da fé, da espiritualidade das pessoas e não cuidar de candidaturas, de falsos profetas ou de fariseus que estão enganando esse povo o dia inteiro”, disse na ocasião.

Lula lidera a disputa eleitoral. Segundo pesquisa de intenção de voto BTG/FSB divulgada nesta segunda-feira (5), o petista tem 42% das intenções de votos, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com 34%. O levantamento também mostrou as intenções de voto de acordo com a religião. Enquanto Lula lidera entre os católicos – tem 47% contra 30% de Bolsonaro, o atual presidente tem a maioria entre os evangélicos, com 47% contra 30% do petista.

Em fevereiro deste ano, em entrevista à Rádio Brasil Campinas, da arquidiocese de Campinas (SP), o petista disse que a Igreja “teve muito a ver” com sua “formação política, com o sucesso que tivemos nas coisas que fizemos na vida, sobretudo na luta sindical, muita solidariedade, quando a gente fazia greves, e também na construção do PT”.

Lula, que é fundador e principal líder do PT, contou que em todos os lugares para onde “viajava no Brasil, tinha uma igreja progressista, um padre progressista, uma casa paroquial, lá haveria uma reunião com a comunidade católica, para a gente discutir política”.

Em julho de 2020, Lula exaltou a relação do PT com a Teologia da Libertação, durante uma conversa ao vivo no Youtube com o teólogo e ex-padre franciscano Leonardo Boff. O petista afirmou que “o PT não existiria se não fosse a Teologia da Libertação".

“O PT não existiria do jeito que ele existe se não fossem as Comunidades Eclesiais de Base. Eu que viajei o Brasil inteiro para construir esse partido, eu sei o valor de um padre progressista", disse e acrescentou: “As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) não entraram no PT, as CEBs fundaram as células do PT”.

As CEBs surgiram por volta do final da década de 1960, promovendo a opção preferencial pelos pobres. Foi promovida por intelectuais ligados à Teologia da Libertação como o frade dominicano Frei Betto e Boff. Com o tempo, passaram a ser marcadas pelo vínculo com os movimentos sociais, como o Movimento Sem Terra (MST), e partidos de cunho socialista como PT e PCdoB.

Após a declaração de Lula sobre política e religião na sexta-feira, ACI Digital entrou em contato com a assessoria da campanha petista para comentar sobre a mudança no discurso do candidato. Por e-mail, foi perguntado: “Lula já reconheceu publicamente que, sem a Igreja Católica, especialmente a ala ligada à Teologia da Libertação, não teria sido possível formar o Partido dos Trabalhadores. Por que agora, que as pesquisas indicam que o candidato tem pouca penetração entre evangélicos, Lula defende a neutralidade da Igreja?”

A assessoria da campanha de Lula não respondeu até o fechamento desta matéria.

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