O padre Eduardo Hayen Cuarón alertou que nos próximos dias a Igreja na Alemanha fará algo “pior” do que a recente bênção a uniões homossexuais: darão a Comunhão eucarística aos protestantes que a solicitarem. Hayen é diretor do semanário Presencia da diocese de Ciudad Juárez, México.

No artigo “Cisma na Alemanha”, publicado em seu blog, o padre criticou a bênção de uniões homossexuais ocorrida em 109 paróquias e centros da Igreja no país. Para ele, foi “um ato de rebeldia ao documento da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) que proíbe” essas bênçãos.

No dia 15 de março, a CDF publicou um documento, com a aprovação do papa Francisco, na qual se proíbe a bênção de uniões homossexuais. A proibição foi muito criticada epecialmente nos países de língua alemã. Até bispos importantes, como o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, Áustria, criticaram a medida.

Várias paróquias colocaram bandeiras do movimento LGBT em suas igrejas e um grupo de mais de 200 teólogos assinou declaração criticando a Santa Sé.

Para o padre mexicano, com as bênçãos às uniões homossexuais “um grupo de padres iniciou, o que muitos consideram, um novo cisma”. Há 500 anos Martinho Lutero rompeu com a Igreja e deu início à Reforma Protestante, escreveu o padre, o que “marcou, com muita dor, a história da Igreja e da Europa”.

Numericamente o evento de bênçãos a uniões homossexuais não foi relevante. As 109 igrejas e centros religiosos são apenas um por cento do total das comunidades paroquiais da Alemanha.

“Embora os números sejam irrelevantes, o impacto midiático no mundo foi tremendo. É um ato de desobediência e desrespeito ao papa, à doutrina católica e um ultraje ao Corpo Místico de Cristo - a Igreja - que confunde e escandaliza os mais vulneráveis”, escreve Hayen.

“Porém, o pior é o que está programado para 15 de maio. O presidente da conferência episcopal alemã, dom Georg Bätzing, disse que nesse dia haverá uma festa na qual convidarão para receber a comunhão católicos e protestantes que, em consciência, se aproximem para comungar”, alerta o sacerdote mexicano.

Entre os dias 13 e 16 de maio, as igrejas cristãs na Alemanha realizam o terceiro encontro ecumênico no país, evento que acontecerá principalmente de forma virtual e cujo dia principal é o sábado, dia 15.

O presidente da conferência episcopal alemã, dom Georg Bätzing, bispo de Limburg, disse que o evento de Frankfurt deveria ser "ecumenicamente sensível" quando se trata de dar o sacramento da Eucaristia aos protestantes.

Segundo a CNA Deutsch, agência em alemão do grupo ACI, o bispo disse que a celebração do sábado “não é uma intercomunhão no sentido de um convite recíproco geral para participar na Eucaristia e na Ceia do Senhor, mas se trata de como tratamos a consciência pessoal dos indivíduos cristãos católicos ou protestantes”.

No entanto, em uma entrevista publicada por KNA, a agência dos bispos alemães, dom Bätzing disse que “eu daria a comunhão se chegasse alguém que acredita no que nós católicos acreditamos e quer receber o corpo do Senhor na fé na presença real de Jesus Cristo”.

O bispo de Limburg também instruiu os padres de sua diocese a dar a comunhão aos protestantes que a pedirem.

Isso contradiz o estabelecido pelo Código de Direito Canônico, a lei que regulamenta a Igreja Católica, que no Cânon 844 afirma que “os ministros católicos só administram licitamente os sacra­mentos aos fiéis católicos, os quais de igual modo somente os recebem licitamente dos ministros católicos”.

Uma exceção a essa regra com os protestantes é se houver "perigo de morte" e "quando eles não puderem ir a um ministro de sua própria comunidade".

Esta condição não foi mencionada por Bätzing como um requisito para a recepção da Eucaristia pelos protestantes.

Para o padre Hayen, dar a Eucaristia aos protestantes “é muito mais grave do que abençoar casais homossexuais. É uma ofensa à Eucaristia feita em massa, à presença real de Jesus Cristo, que é o mais sagrado que a Igreja custodia”.

“Sabemos que para receber o Corpo do Senhor, sacerdotes e fiéis, devemos estar em estado de graça. Comungar em estado de pecado grave - afirma São Paulo - torna-nos culpados de morte espiritual (1Cor 11,27), e o Código de Direito Canônico o declara como sacrilégio”, explica.

O sacerdote mexicano disse que “na Igreja, uma das causas da excomunhão latae sententiae–que ocorre de forma automática ao se cometer certos crimes ou pecados– é a profanação deliberada das espécies eucarísticas”.

Nesse sentido, prosseguiu, “se a Eucaristia for profanada da forma descarada que esses bispos e padres pretendem fazer, milhões de católicos no mundo ficarão confusos e escandalizados. Se há bispos e padres que dão a Sagrada Comunhão a qualquer pessoa, inclusive aos não católicos, os sacramentos do batismo e da confissão perdem o seu sentido”.

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O padre questionou depois por que “esse grupo de clérigos alemães e austríacos não se retirou da Igreja para fundar suas próprias comunidades. Talvez os novos reformadores sintam e acreditem que, permanecendo nas fileiras do catolicismo, poderão fazer com que muitos, de diferentes partes do mundo, sigam suas propostas. Desta forma, eles poderiam desmembrar ainda mais a unidade da Igreja”.

“A situação é gravíssima e requer uma intervenção especial da autoridade da Igreja para trazer a ordem e evitar consequências piores”, disse o padre Hayen.

Depois de enfatizar que ninguém quer cismas na Igreja e que "certamente o papa os convidou a dialogar e reconsiderar", o sacerdote disse que "o grande risco é que esses escândalos fiquem impunes e assim se transmita a mensagem de que as pessoas podem fazer o que quiserem na igreja que nada acontece”.

“Lutero teve tempo para se retratar. Nunca o fez e a sentença de excomunhão foi decretada em janeiro de 1521, há 500 anos”, concluiu.

A bênção de uniões homossexuais na Alemanha

Na segunda-feira, 10 de maio, padres e agentes pastorais da Igreja na Alemanha abençoaram casais homossexuais em um evento intitulado "O amor vence", em desafio aberto à proibição explícita do Vaticano, que em 15 de março declarou que esse tipo de bênção não é possível.

Segundo a mídia alemã, um dos locais onde aconteceu foi a cidade de Geldern. Dois padres católicos abençoaram 35 casais do mesmo sexo no dia 7 de maio, diante de um altar coberto com a bandeira do lobby LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais).

Os mais de 100 lugares onde essas bênçãos estão sendo realizadas de 1º a 16 de maio, estão listados no site: https://www.liebegewinnt.de/.

No site lê-se uma declaração que diz: “Diante da recusa da Congregação para a Doutrina da Fé em abençoar as uniões homossexuais, levantamos nossa voz e dizemos: continuaremos acompanhando as pessoas em uma união vinculante para o futuro e vamos abençoar seu relacionamento".

“Não rejeitamos uma cerimônia de bênção para eles. Fazemos isso em nossa responsabilidade como pastores, que prometem às pessoas em momentos importantes de suas vidas as bênçãos que só Deus dá”, acrescenta o texto.

Um participante que participou de uma cerimônia de bênção em Colônia disse à CNA Deutsch que foi mais como um "evento político". Após algumas declarações políticas, o Evangelho foi lido em voz alta, seguido de um discurso. "Não houve rito, nem liturgia, mas em geral uma atmosfera triste”, disse. Finalmente, tocou a música de crítica religiosa “Imagine” de John Lennon.

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