Cerca de 2 mil fiéis lotaram a igreja de São Sulpício, a segunda maior de Paris, depois da catedral de Notre-Dame no dia 10 de dezembro para a despedida do arcebispo Michel Aupetit, vitima de várias acusações na imprensa, cuja renúncia foi aceita pelo papa Francisco "no altar da hipocrisia", como disse o próprio papa.

As acusações de autoritarismo por parte do clero de Paris e as de uma relação imprópria com uma mulher, que o arcebispo sempre negou ter sido romântica ou sexual não esvaziaram a igreja.

A revista Paris Match disse que o arcebispo que se perdeu por amor, insinuando o suposto caso com uma muher.

«É verdade”, disse o arcebispo Aupetit na missa de despedida de sua diocese, “mas o jornalista esqueceu o fim da frase. A frase completa é: o arcebispo de Paris se perdeu por amor a Cristo”.

Em uma homilia sincera, Aupetit não falou dos boatos que o derrubaram. E não usou o púlpito para responder a ataques ideológicos. Limitou-se a sublinhar que a sua preocupação é antes de tudo a unidade da Igreja e contou como ele, médico de vocação tardia, decidiu realmente perder tudo por Cristo.

“Ontem, perdi a vida por amor de Cristo, quando entrei no seminário. Hoje, perdi minha vida pelo amor de Deus. Amanhã, vou perder minha vida novamente, pelo amor de Deus. Lembro-me das palavras do Senhor: Quem perder a vida por mim, salva-la-á”, disse Aupetit.

O agora arcebispo emérito de Paris quis então sublinhar a diferença entre a necessidade de obter consenso e a liberdade de Cristo, que "não é político" e, portanto, não tem laços seculares. Cristo é livre a ponto de poder amar e, assim, "correr riscos", como o fazia "comendo com pecadores ou permitindo que uma mulher de reputação duvidosa lhe lavasse os pés". E o fez “para salvar aquelas pessoas”, porque “o amor é um risco permanente”. O arcebispo concluiu a homilia dizendo que, no alfabeto divino, que é o alfabeto do amor, o Z é "amar os inimigos".

Uma homilia que contém espiritualmente a história humana do arcebispo à frente de Paris desde 2018. Aupetit teve que enfrentar o incêndio de Notre-Dame de Paris, mas também o difícil debate sobre a lei de bioética na França em que ele, como médico de formação, sempre esteve na linha da frente, terminando com a publicação do relatório do CIASE sobre os abusos na França. Relatório sobre o qual nunca fez grandes afirmações, e isso foi notado por seus críticos, justamente por acreditar que a metodologia do relatório é falha e deveria ser, no mínimo, contextualizada. Opinião que o papa Francisco também manifestou na semana passada.

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