Os delegados do Caminho Sinodal Alemão aprovaram no sábado (11) medidas para pressionar a Igreja Católica a incorporar a ideologia de gênero e a ordenação de mulheres ao diaconato sacramental.

A votação ocorreu no último dia da assembleia de encerramento do processo, em Frankfurt de 9 a 11 de março. Nos últimos dias, os delegados votaram majoritariamente a favor das bênçãos de uniões homossexuais, de normalizar a pregação leiga na missa e pedir a Roma que "reexamine" a disciplina do celibato sacerdotal.

O documento adotado não contém mudanças canônicas ou doutrinais diretas, mas sim recomendações à Conferência Episcopal Alemã (DBK), ao papa e ao Colégio dos cardeais.

Caminho Sinodal vota a favor da ideologia de gênero

O texto “Abordar a diversidade de gênero” foi aprovado com o apoio de 96% dos 197 delegados com direito a voto. Dos bispos, 38 a favor, 13 se abstiveram e só sete votaram contra.

Segundo um padrão que se repete em toda a assembleia, haveria votos suficientes para não aprovar a medida se os 13 bispos que se abstiveram tivessem votado contra. Os críticos do Caminho Sinodal dizem que a remoção do voto secreto pelos organizadores criou uma atmosfera de medo que fez com que vários bispos não votassem livremente.

A resolução pede "melhorias concretas para os fiéis intersexuais e transgêneros", que incluem mudar os registros de batismo para corresponder ao gênero com que a pessoa se identifica ou que a "identidade de gênero" possa ser considerada para funções no ministério pastoral sem proibições.

Também promove a educação obrigatória para padres e funcionários da igreja, a fim de abordar "o tema da diversidade de gênero".

O texto também proíbe que sejam usadas as "características sexuais externas" como critério para "aceitar um homem como candidato ao sacerdócio", medida que poderia abrir as portas para a ordenação de mulheres que se identificam como homens ou de homens que se identificam como mulheres.

Durante o debate, uma minoria de bispos se opôs à medida, destacando que a Igreja deveria melhorar seu cuidado pastoral com aqueles que se identificam como “transgêneros”.

O bispo auxiliar de Bistum Münster, dom Stefan Zekorn, disse que não poderia apoiar um texto baseado na ideologia de gênero. Para o bispo de Passau, dom Stefen Oster, o documento não enfatiza que a identidade principal de um cristão deve estar enraizada em Jesus Cristo.

A maioria dos que tomaram a palavra manifestaram o seu apoio à medida.

Gregor Podschun, líder da heterodoxa Federação da Juventude Católica Alemã, disse que as afirmações da ideologia de gênero são "um fato científico" e que a negação da Igreja estava levando as pessoas a cometer suicídio.

Segundo Julianne Eckstein, professora de teologia na Universidade Johannes Gutenberg em Mainz, o livro de Gênesis era uma base inadequada para as questões de antropologia sexual. E Viola Kohlberger, de Augsburg, disse que não há "norma" na questão de gênero e que a tradição da Igreja Católica está impedindo o progresso. "Gostaria de romper com isso hoje", disse ela.

Quando a votação terminou, os delegados se levantaram para aplaudir, enquanto alguns agitavam bandeiras de arco-íris em apoio à homossexualidade e à ideologia de gênero.

Caminho Sinodal promove a ordenação de mulheres

Os delegados também aprovaram o texto “Mulheres no Ministério Sacramental: Perspectivas para o diálogo universal da Igreja” por uma margem igualmente ampla.

Só dez dos 58 bispos votaram contra a medida, que conclama os bispos alemães a avançar no tema da ordenação sacramental de mulheres a nível continental e universal.

Uma moção adotada pela assembleia substituiu o apelo para o estabelecimento de um "diaconato sacramental das mulheres" com o de "abrir o diaconato sacramental para as mulheres".

A distinção deixou claro que o Caminho Sinodal está pressionando para que as mulheres sejam integradas às ordens sagradas já existentes, o que a Igreja afirmou repetidamente que é impossível.

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Os delegados adotaram outra moção que mudou as prioridades relacionadas ao sacerdócio exclusivamente masculino, pedindo que a prática fosse simplesmente reexaminada, em vez de eliminada, universalmente.

O arcebispo de Munique e Freising, cardeal Reinhard Marx, disse que a moção era necessária para "construir consenso" para mudanças no ensinamento dogmático da Igreja relacionado ao sacerdócio.

Outros estavam menos interessados ​​na abordagem cautelosa. Várias delegadas choraram após a votação, entristecidas porque o texto não pedia explicitamente mulheres sacerdotes.

“A discriminação contra alguém por causa de seu gênero na Igreja Católica deve acabar”, disse a delegada Susanne Schumacher-Godemann.

“O patriarcado deve ser destruído”, acrescentou Podschun.

O bispo de Regensburg, dom Rudolf Voderholzer, se manifestou contra o texto, alegando que o esforço por ordenar mulheres ao diaconato é "um primeiro passo para a abertura" do sacerdócio e do episcopado também.

A assembleia do Caminho Sinodal Alemão se absteve de cruzar a linha estabelecida pela Santa Sé sobre o estabelecimento de "conselhos sinodais" a nível nacional, diocesano e paroquial. A Santa Sé disse que o modelo do conselho sinodal, que implica um governo compartilhado entre bispos e leigos, não é coerente com a eclesiologia católica.

A assembleia sinodal decidiu adiar a votação da proposta. Em vez disso, será considerado por um comitê sinodal recém-criado para os próximos três anos, enquanto a liderança do Caminho Sinodal tenta mudar a opinião das autoridades da Santa Sé e assim obter uma aprovação mais ampla na Igreja Universal.

Na coletiva de imprensa final, o bispo de Limburg, dom Georg Bätzing, presidente da conferência dos bispos, disse que os resultados dão um mandato aos bispos para fazer algumas mudanças na Alemanha agora, enquanto pressionam por uma reforma mais ampla.

“A Igreja está mudando visivelmente, e isso é importante”, disse dom Bätzing.

Irme Stetter-Karp, presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), disse que os resultados mostram que o Caminho Sinodal na Alemanha continuará.

“Isso não acaba aqui. É só o começo", disse.

Os observadores, entre eles 103 bispos internacionais, assinaram uma carta alertando que o Caminho Sinodal pode levar ao cisma, expressaram preocupação com as ideias heterodoxas promovidas pelo processo e o efeito que poderia ter na Igreja em geral se não houver uma intervenção suficiente da Santa Sé.

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