Dois arcebispos americanos reagiram nesta semana à tentativa de suspender a discussão de um documento sobre a comunhão a políticos que defendem o aborto pela Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB). A comunhão para políticos pró-aborto divide os bispos americanos. Joe Biden, o segundo presidente católico da história dos EUA, e a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, são católicos e apoiam o aborto.

O cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago que apoia a presidência de Joe Biden, escreveu a dom José Gomez, arcebispo de Los Angeles e presidente da USCBB, pedindo-lhe para adiar qualquer discussão sobre “a dignidade da Eucaristia e outras questões levantadas pela Santa Sé” até que a conferência possa se reunir novamente de modo presencial. Cupich alega que a seriedade da questão exige um debate cara a cara. O cardeal mencionou a carta do cardel Luis Ladaria, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ao arcebispo Gomez dizendo que, se os bispos americanos querem estabelecer uma “política nacional” de recusa da comunhão a figuras públicas católicas pró-aborto, é necessário um amplo e “sereno” diálogo para garantir a unidade entre eles. Para Cupich, essa unidade não pode ser alcançada em uma conferência virtual.

“A natureza séria dessas questões, especialmente o imperativo de forjar uma unidade substantiva, torna impossível abordá-las de forma produtiva no ambiente fragmentado e isolado de um encontro distante”, escreveu o cardeal Cupich. “O elevado nível de consenso entre nós e de manutenção da unidade com a Santa Sé e a Igreja universal, tal como estabelecido pelo cardeal Ladaria, está longe de ser alcançado neste momento”, acrescentou. Além disso, continuou o cardeal, “dado que os sólidos conselhos teológicos e pastorais do prefeito abrem um novo caminho, devemos aproveitar esta oportunidade para repensar a melhor estrutura colegiada para alcançá-lo”. Cupich quer que os bispos primeiro discutam o assunto, pessoalmente, por regiões, antes de se encontrarem pessoalmente para discutir um possível documentos de orientação sobre a Eucaristia.

A carta de Cupich desagradou o arcebispo de São Francisco, dom Salvatore Cordileone. “Estou profundamente triste com a crescente aspereza pública entre bispos e a adoção de manobras a portas fechadas para interferir nos procedimentos aceitos, normais e concordados da USCCB”, disse Cordileone, em nota dirigida nesta terça-feira à CNA, agência de língua inglesa do grupo ACI. “Os que que não querem publicar um documento sobre a coerência eucarística devem estar abertos para discutir o assunto de forma objetiva e justa com seus irmãos bispos, em vez de tentar inviabilizar o processo”, acrescentou. No início de maio Cordileone publicou uma carta pastoral em que defendeu recusar a comunhão para pessoas que defendem publicamente o aborto.

O arcebispo de Denver, dom Samuel Aquila, declarou na terça-feira: “Como já escrevi, a questão da coerência eucarística é antes de tudo uma questão de amor, uma questão de caridade para com o próximo”. “São Paulo deixou claro que a alma corre perigo se receber o corpo e o sangue de nosso Senhor de forma indigna”, disse o arcebispo. “Como bispos, falharemos em nosso dever de pastores se ignorarmos essa verdade e como ela se manifesta na sociedade de hoje, especialmente com relação a aqueles em posições de destaque que rejeitam os ensinamentos fundamentais da Igreja e insistem em que sejam autorizados a receber a Comunhão”, disse Aquila.

Em um memorando dirigido aos bispos dos Estados Unidos no dia 22 de maio, dom Gomez delineou o processo pelo qual os bispos discutirão e votarão se será ou não escrito um documento orientador sobre a Eucaristia, à luz das diretrizes dadas pelo Vaticano. O documento proposto terá como foco a doutrina da Igreja sobre a centralidade da Eucaristia. Segundo Gomez, essa “é a melhor maneira de ajudar as pessoas a compreenderem a beleza e o mistério da Eucaristia como centro de vida cristã”. Segundo o arcebispo, os bispos simplesmente votarão se redigirão ou não um documento desse tipo sobre a Eucaristia, e não sobre a aprovação final de qualquer texto. “Se aprovado, a Comissão de Doutrina vai preparar um texto”, disse.

O bispo de Fort Wayne-South Bend, Dom Kevin Rhoades, é o presidente do comitê doutrinário da USCCB, que propôs a discussão, na reunião da primavera, sobre escrever ou não “uma declaração formal sobre o significado da Eucaristia na vida da Igreja”.

O Bispo Gomez disse que o comitê seguiu o procedimento da conferência ao solicitar a inclusão do tema na pauta da reunião da primavera. Além disso, o esboço feito pela comissão para debater o tema “reflete a orientação recente da Santa Sé”, escreveu o arcebispo.

Se os bispos aprovarem a moção para redigir um documento orientador sobre a Eucaristia, seu “processo usual de consulta, modificação e emenda ocorrerá quando o documento for apresentado para consideração em uma futura Assembleia Plenária”, disse Dom Gomez.

Em sua declaração na terça-feira, dom Cordileone insistiu que a unidade episcopal solicitada pelo Vaticano não pode ocorrer enquanto os bispos se criticam por canais indiretos.

“Quando eu ainda era um bispo recente, lembro-me de uma conversa que tive com um padre da Alemanha, um antigo colega meu de Roma. Ele me contou como os bispos da Alemanha se criticavam em público, através dos meios de comunicação”, disse Cordileone. “Lembro-me de ter ficado chocado com isso e de ter me sentir agradecido por ser um bispo americano: embora tenhamos nossas diferenças, eu disse a ele, nos respeitamos e não faríamos nada em público para obstruir a unidade na Igreja”, disse ele.

“Agradeço ao arcebispo Gomez pela sua integridade ao assegurar que os procedimentos de nossa conferência episcopal sejam seguidos, pois é a única forma de garantir o respeito e a igualdade para todos”, acrescentou.

Cordileone disse esperar que em “junho se realize o diálogo sereno ao qual o cardeal Ladaria nos exorta em sua carta ao arcebispo Gomez, para que possamos discernir 'o melhor caminho que devemos percorrer para que a Igreja nos Estados Unidos testifique a grave responsabilidade moral dos funcionários públicos católicos de proteger a vida humana em todas as fases”.

Dom Aquila disse que as diretrizes do Vaticano exigem o diálogo no encontro da primavera. Segundo ele, o Vaticano foi “claro” na sua explicação e ao animar a USCCB a “discutir e debater esta importante questão”. “Ao contrário, a publicação da carta pedindo a interrupção da discussão em nosso encontro de junho sobre este assunto vital corre o risco de criar uma atmosfera de facções entre os bispos, ao invés de unidade”, acrescentou o arcebispo.

Na sua proposta, o Comitê de Doutrina para a reunião da primavera afirmou: “À luz das pesquisas recentes, é claro que há uma falta de compreensão entre muitos católicos sobre a natureza e o significado da Eucaristia”.

“Este documento orientador abordará as doutrinas fundamentais sobre a Eucaristia que a Igreja, como um todo, precisa recuperar e reviver”, declarou o comitê, acrescentando que o documento seria destinado a todos os católicos.

Finalmente, o comitê afirmou que documento pretende incluir “o fundamento teológico da disciplina da Igreja em relação à recepção da Sagrada Comunhão e um apelo especial para que os católicos que são líderes culturais, políticos ou paroquiais deem testemunho da fé”.

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