Pertencentes ao Caminho Neocatecumenato, Emanuel e Patrícia Cirera formam com os seis filhos - um deles no Céu - uma família missionária. Brasilienses, foram enviados para a Ucrânia, em 2019, pela paróquia do movimento, Nossa Senhora da Assunção, e o então arcebispo de Brasília, cardeal Sergio da Rocha. Mas, nunca esperaram que uma guerra iria interromper a missão familiar.

Casados há seis anos, os dois foram com os filhos em missão para a cidade ucraniana de Vinnitsya, onde boa parte da população fala russo.

A rotina da família entre os deveres domiciliares, laborais e de missão era intensa. A cada dia pela manhã, eles rezavam as laudes, oração que toda a Igreja reza pela manhã. Depois, Emanuel ia preparar o carro: remover a neve, esquentá-lo. Enquanto isso, Patrícia preparava as crianças para irem à escola.

O pai deixava as crianças na escola e ia ao trabalho de contador que, da Ucrânia, exercia online em um escritório do Brasil. As crianças ficavam na escola até o horário do almoço. Nesse período, Patrícia ficava em casa com as crianças pequenas e estudava o idioma ucraniano.

Na parte da tarde iniciavam a missão: sair e anunciar através das próprias vidas a boa notícia de que Cristo venceu a morte, que Deus ama incondicionalmente, independente da condição de pecadores. Já no período da noite faziam catequese para as pessoas que queriam receber uma palavra, que buscavam respostas diante dos sofrimentos.

“Era maravilhoso! Sentíamos que o Senhor nos queria ali. Deixamos casa, carro, trabalho no Brasil e fomos morar em um bairro pobre na Ucrânia. Ali encontramos Jesus Cristo. Foi maravilhoso não por ser Ucrânia, mas por estar vivendo conforme a vontade de Deus”, lembra Emanuel.

Desde 2014 existem conflitos diários na Ucrânia, mas a família nunca imaginou que isso poderia se tornar algo tão grande ao ponto de culminar em uma guerra. Mas, mesmo nesse cenário, Deus se manifestou fazendo uma grande obra por meio dos padres e católicos que seguem dando a vida pelo anúncio do Evangelho no país.

“Passamos por todo esse tempo com tranquilidade. Estivemos lá nos 10 primeiros dias de guerra. Tínhamos medo, incertezas, porque somos assim, seres humanos débeis. Mas ao mesmo tempo Deus nos deu a graça de seguir com as catequeses, encontros, mesmo ao som de sirenes de alerta de bombas e também abaixo de bombardeios. Era uma graça que não vem de nós!”, conta o missionário.

Da mesma forma que a família se colocou disponível a ir onde fosse preciso levar o anúncio a Deus, também estiveram no país pelo tempo que a Igreja discerniu ser necessário. A decisão de voltar ao Brasil se deu em uma conversa com os responsáveis pelo Caminho Neocatecumenal e também com os catequistas responsáveis pela família.

A volta não chegou a ser feita por corredores humanitários, mas por uma rota normal, um caminho que já tinham feito algumas vezes durante as férias. “Saímos com uma dor no coração por deixar amigos, jovens ucranianos com os quais tínhamos relação constante nesse tempo. Mas a experiência é que o Senhor estava indo à nossa frente, abrindo os caminhos. Passamos de verdade no vale tenebroso e nada nos tocou. A experiência é que o Senhor é sempre fiel”, afirma Emanuel.

Mesmo com a volta para a cidade natal, a família mantém o ardor missionário: seguem disponíveis. Se a Igreja os enviar para voltar à Ucrânia, para ir a outro país ou mesmo seguir em missão no Brasil, a família Cirera fará tudo com muita alegria. “Como fala Jesus com Nicodemos: vivemos conforme o Espírito, como o vento. Hoje, aqui; amanhã já não se sabe. Estamos disponíveis para ir onde seja necessário anunciar o amor de Deus”, finaliza o missionário.

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