Em ano eleitoral no Brasil, quando os cidadãos irão às urnas para escolha de presidente, governadores, senadores, deputados estaduais e federais, o vice-presidente da CNBB, Dom Murilo Krieger, chamou a atenção para o fato de que a população está mais consciente de que não se pode tolerar a corrupção, que “é um câncer”.

“A época pré-eleitoral é excelente para conhecermos a realidade do país, pois todos os que desejam se candidatar mostram problemas e necessidades aos quais prometem dar uma resposta adequada”, assinalou o também Arcebispo de Salvador (BA) em entrevista ao site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Para Dom Murilo, “se a partir dos debates crescer a consciência de que é preciso um verdadeiro mutirão, envolvendo não só políticos, mas toda a sociedade civil, para dar um novo impulso ao nosso país, ótimo!”.

Nesse sentido, fez referência a dois problemas concretos na sociedade brasileira, o desemprego e a corrupção.

Quanto ao primeiro, sublinhou que “não podemos continuar com os índices atuais de desemprego; é ruim para todos, mas muito mais para os pobres”

Já em relação à corrupção, observou que “cresce a consciência” de que esta prática “não pode mais ser tolerada”, pois “é um câncer que destrói o país a partir de dentro”.

“Interessante que quando o povo se manifesta sobre o país que deseja, não diz que quer um país em que todos sejam ricos e famosos, mas que quer um país em que todos tenham os mesmos direitos, e que os direitos de todos sejam respeitados, em que se respeita os bens públicos etc.”, indicou.

Neste período em que os partidos estão discutindo sobre suas possíveis candidaturas, o Arcebispo lamentou que a escolha desses nomes muitas vezes fica restrita à cúpula partidária.

“Quem viveu os tempos da ditadura militar se lembra de que algumas candidaturas – refiro-me às do partido que expressava o pensamento de quem comandava o país – nasciam em gabinetes e eram impostas”, recordou.

Quanto aos tempos atuais, porém, salientou que “são marcados por algumas particularidades: uma multiplicação de partidos sem expressão alguma, que tentam negociar seu limitado tempo na televisão – tempo que, repito, é limitado, mas que somado ao ‘limitado tempo’ de mais alguns partidos inexpressivos, torna-se importante”.

“Infelizmente – expressou Dom Murilo –, o povo, em geral, é um mero assistente desse processo, com quase nenhuma participação na escolha dos candidatos. Mesmo quem está filiado a algum partido, acaba apenas sacramentando os nomes que a cúpula escolheu”.

Assim, “de certa forma, continua, ao menos em parte, a escolha feita em gabinete pelos que dirigem os partidos”.

Além disso, o vice-presidente da CNBB alertou sobre a tendência de se prestar mais atenção às candidaturas aos cargos do Executivo – presidente e governadores – a deixar de lado a análise dos candidatos ao Legislativo.

“O problema é que, nessa situação, ‘velhos’ políticos – muitas vezes ‘velhos’ também nos defeitos – conseguem se candidatar, têm grandes possibilidades de se reeleger como deputados e senadores, com o risco de tudo continuar como antes”, advertiu.

Por isso, aconselhou que seria “importante que as comunidades convoquem candidatos para debates, apresentem valores que querem ver defendidos no Parlamento e votem com um cuidado especial naquele que será seu deputado estadual, deputado federal ou senador”.

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