Os esposos cristãos Shafqat Emmanuel (43) e Shagufta Kausar (40) vivem um verdadeiro pesadelo: foram caluniados e estão condenados a morte sob a lei de blasfêmia no Paquistão. Para tentar salvá-los Joseph Anwar, irmão da Shagufta, viajou ao Vaticano para pedir a ajuda do Papa Francisco.

Joseph relatou a ACI Digtial que em 2009 radicais islâmicos atacaram 70 casas de cristãos na cidade da Gorja. Nesse ataque, seu cunhado Shafqat recebeu vários disparos e ficou paraplégico.

Entretanto, “a tragédia só havia iniciado”, pois a sua irmã Shagufta perdeu o celular (que só usava para falar, pois não sabe escrever mensagens de texto). A cristã chegou a denunciar a perda “às autoridades policiais” e foi “em várias ocasiões à loja de telefonia para bloquear o seu cartão”. Mas, posteriormente, do seu número telefônico foram enviadas mensagens de ódio ao islã a alguns muçulmanos.

“Com data posterior ao roubo, desse telefone foram enviadas mensagens de texto blasfemos ao presidente de uma associação de advogados e à líder de uma mesquita”, relatou Joseph. O jovem disse que sua irmã não pode ser a responsável pelas mensagens porque não sabe escrever e não conhece as pessoas que receberam as mensagens. Além disso “minha irmã sabe que isto está punido com a pena capital, por isso é impossível que ela o tenha feito”.

Entretanto, em julho de 2013 os dois foram presos, acusados falsamente por grupos radicais de terem enviado as mensagens blasfemas.

Conforme relatou o jovem, torturaram seu cunhado diante de sua mulher e de seus quatro filhos menores de idade, e ameaçaram torturar também a ela. Para evitá-lo, Shafqat Emmanuel se declarou culpado.

Duas horas depois da detenção de sua irmã, a polícia chamou por telefone a Joseph e ameaçou dizendo que ele seria o próximo a ser torturado: “Está ouvindo esses gritos? São do seu cunhado. Depois vai você”, disseram-lhe.

Diante do risco, Joseph apagou o celular e fugiu. Saiu do Paquistão de maneira clandestina ajudado por um sacerdote e um jornalista. Sua família, de âmbito rural, pertence a uma minoria católica do norte do país que é atendida pelos frades dominicanos.

Há ano e meio vive na Espanha protegido pelo estatuto do refugiado religioso. Não pode voltar para seu país porque seria aprisionado e encarcerado.

A condenação

Em 5 de abril de 2014, apesar de ter mostrado a cópia da boletim de ocorrência do roubo do celular, e de provar que não conhecem o idioma no qual forame escritas as mensagens, um tribunal da cidade de Toba Tek Sing, pressionado por dirigentes radicais, condenou-os à morte porque o cartão SIM do telefone do qual saíram os SMS estava registrado no nome de Shagufta.

Depois da prisão os quatro filhos menores de idade, que têm entre 6 e 12 anos, são atendidos pela ONG World vision in progress, mas Joseph não pode dizer onde se encontram porque correriam perigo.

A ONG já apelou para a Corte Suprema do Paquistão para que reverta a condenação, mas até hoje a situação continua sendo a mesma.

Deseja falar com o Papa

Agora Joseph tem o desejo de ir a Roma para falar diretamente com o Papa Francisco e “contar a história de perseguição da minha família e do meu povo, pedir consolo, ver se ele pode mediar de algum modo”.

Ainda não há data para o encontro com o Santo Padre. Por outro lado, Joseph Anwar também garantiu que nem ele nem sua família renunciaram à fé: “ser cristão no Paquistão nos dá forma. Acreditamos em Cristo, vamos à paróquia e estudamos a Bíblia” e isto “fortalece nossa fé”.

“Cristo é nossa verdadeira força, inclusive em momentos tão duros como estes de perseguição. Sabemos que nossos inimigos podem causar dano ao nosso corpo, mas não demolir a nossa fé. Deus nos dá luz na escuridão da perseguição ou da prisão e não nos abandona”, assegura.

Joseph afirma que desde que se encontra na Espanha teve oportunidade de falar com bispos, sacerdotes, e distintas comunidades religiosas que pediram que lhes contasse seu testemunho. Todos me dão esperança e rezam por minha irmã e minha família. “Contar com esta oração nos dá força para não decair”, disse o rapaz. Além disso, “tenho que agradecer a acolhida que me deram os Salesianos me proporcionando um alojamento em um de seus lares Dom Bosco e a generosidade da Cáritas”.