Monsenhor Jonas dos Santos Lisboa é membro do clero da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, de Campos dos Goytacazes (RJ) e, há 12 anos, atua na arquidiocese de São Paulo (SP), onde celebra a missa na forma extraordinária do rito romano. Para ele, o motu proprio Traditiones custodes, do papa Francisco, que estabeleceu restrições à missa tradicional, será “um divisor de águas” e despertará mais interesse pela missa tridentina.

“Certamente este documento vai despertar ainda mais o interesse pela missa na forma antiga. O Traditionis custodes vai ser também um divisor de água. Os que querem estar em comunhão com as legítimas autoridades constituídas por Nosso Senhor na Igreja vão acatar com toda a humildade e docilidade as novas normas. Os que não aceitam a autoridade do papa na teoria ou na prática continuarão agindo à revelia, à semelhança dos que seguem a teoria do livre exame”, disse à ACI Digital.

O motu proprio de Francisco revoga a permissão que Bento XVI havia concedido, por meio da carta apostólica Summorum pontificum, para que todos os sacerdotes pudessem rezar a missa segundo o Missal Romano de 1962. A partir de agora, cabe ao bispo autorizar o uso da missa tradicional em sua diocese. Além disso, o bispo deve indicar um ou mais lugares onde se pode usar a liturgia na forma extraordinária, “mas não em igrejas paroquiais e sem erigir novas paróquias pessoais”.

A Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, criada em 2002 pelo papa São João Paulo II, tem como rito oficial a forma antiga da missa e alguns de seus sacerdotes atuam fora de sua circunscrição. Segundo monsenhor Jonas Lisboa, os bispos das 12 dioceses onde estes sacerdotes atuam “não só não têm reclamado da atuação dos nossos padres, mas têm se mostrado satisfeitos com trabalho pastoral em plena concordância e plena comunhão com a igreja local”.

“Como todos nós que atuamos fora da circunscrição da Administração estamos cientes das novas determinações advindas do motu proprio Traditionis custodes, colocamo-nos ao inteiro dispor das autoridades eclesiásticas locais. Ao (arce)bispo de cada (arqui)diocese cabe fazer as implementações que achar por bem pôr em prática, conforme as primeiras palavras do motu proprio: ‘Guardiões da tradição, os bispos, em comunhão com o bispo de Roma, constituem o fundamento da unidade nas suas Igrejas particulares’ e são eles que as governam”, disse.

Na arquidiocese de São Paulo, onde monsenhor Lisboa atua, o arcebispo, cardeal Odilo Pedro Scherer, afirmou que as novas determinações “já passaram a valer imediatamente após a publicação do motu proprio nos órgãos oficiais de divulgação da Santa Sé”. Em entrevista ao site arquidiocesano ‘O São Paulo’, o cardeal disse que irão divulgar as novas disposições do motu proprio na arquidiocese, “para que sejam conhecidas e acolhidas por todos”. “Além disso, teremos de retomar a formação litúrgica, conforme é desejado pelo Concílio Vaticano II. Uma das recomendações mais insistentes da reforma litúrgica é a boa formação litúrgica, para que o povo de Deus participe ativa, consciente e piedosamente das ações litúrgicas e tirem o máximo proveito delas”, declarou.

Segundo monsenhor Jonas Lisboa, “há uma procura crescente de pessoas pelo rito antigo” e “são fiéis que muitas vezes ficam insatisfeitos presenciando certas missas celebradas com excesso de criatividade e de pouco silêncio”. “O papa Bento XVI no Summorum pontificum por duas vezes fala que o que mais atrai no rito antigo é a ‘sacralidade’ que lhe é peculiar”, disse.

Entretanto, no motu proprio Traditionis custodes, o papa Francisco diz que “uma oportunidade oferecida por São João Paulo II e, com ainda maior magnanimidade, por Bento XVI, destinada a recuperar a unidade de um corpo eclesial com diversas sensibilidades litúrgicas, foi explorada para alargar as lacunas, reforçar as divergências, e encorajar discórdias que ferem a Igreja, bloqueiam o seu caminho, e a expõem ao perigo da divisão”. O papa afirma que se entristece com os abusos nas celebrações litúrgicas “de um lado e do outro”, mas também por um “uso instrumental do Missale Romanum de 1962, cada vez mais caracterizado por uma crescente rejeição não só da reforma litúrgica, mas do Concílio Vaticano II”.

Nesse sentido, em janeiro deste ano, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Edmar Peron, disse em uma entrevista ao programa Bispos do Brasil, da TV Evangelizar, que “gostaria que as pessoas lessem um livro dos textos de liturgia de Bento XVI” e “não ficassem com alguns videozinhos de Youtube de algum gesto de Bento XVI sobre a Liturgia”.

“Leia o Tomo sobre Liturgia de Bento XVI, aí a gente pode falar de Liturgia de Bento XVI, pois se evoca a autoridade dele para fazer coisas que ele jamais iria aprovar, assim como muito evocam a autoridade do Concílio Vaticano II para fazer coisas horríveis na liturgia que jamais o Concílio Vaticano II propôs”, afirmou na ocasião.

No Brasil, após a divulgação de Traditionis custodes, ainda não foram publicadas nos sites das dioceses ou da conferência episcopal quaisquer determinações ou orientações dos bispos sobre este motu proprio.

Confira também: