O deputado estadual Frederico D’Ávila (PSL) pediu desculpas “pelas palavras e exagero” em seu discurso no dia 14 de outubro na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), quando xingou o papa Francisco, o arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes, e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). D’Ávila, no entanto, reafirmou que seu discurso foi em resposta a “líderes religiosos que ultrapassam os limites da propagação da fé e da espiritualidade para fazer proselitismo político”. Na segunda-feira, 18 de outubro, representantes da CNBB entregaram ao presidente da Alesp, deputado Carlão Pignatari (PSDB), a carta aberta na qual pedem que a casa legislativa tome medidas cabíveis contra o discurso de D’Ávila.

Durante a sessão plenária na Alesp em 14 de outubro, o deputado Frederico D’Ávila se referiu à homilia de dom Orlando Brandes no dia 12 de outubro, no Santuário de Aparecida, quando o arcebispo disse que “para ser pátria amada não pode ser pátria armada” numa de várias alusões claras a políticas do presidente Jair Bolsonaro. O parlamentar usou termos como “safados”, “vagabundos” e “pedófilos” ao se referir ao arcebispo, ao papa e à conferência episcopal brasileira.

Após o episódio, a CNBB publicou uma carta aberta pedindo que a Alesp adote “medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade”. A entidade também disse que “tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis”. A carta foi entregue ao presidente da Alesp na segunda-feira pelo presidente do Regional Sul 1 da CNBB e bispo de Mogi das Cruzes (SP), dom Pedro Luiz Stringhini.

Também na segunda-feira, o deputado Frederico D’Ávila publicou em seu site uma carta aberta e afirmou que seu pronunciamento motivado pela homilia de dom Orlando Brandes “foi inapropriado e exagerado pelo calor do momento”. “Lembro, no entanto, que o mesmo clérigo que fez críticas à política armamentista do Presidente, disse outrora que a ‘Direita é Injusta e Violenta’, frase esta que ofendeu a mim e muitas outras pessoas. Portanto a minha manifestação tratou-se, pois, de uma reação a injustas agressões contra o Presidente da República e os 57 milhões de brasileiros que o elegeram”, afirmou.

O deputado estadual citou ainda uma publicação feita pelo bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Vicente Ferreira, no Twitter, “chamando o MST para a luta, invocando Pátria Livre e que para vencer o primeiro passo seria o ‘#FORABOLSONARO’”. Na postagem de 16 de outubro, dom Ferreira comentou sobre o discurso de D’Ávila. “Deputado bolsonarista chamando o papa e o arcebispo de vagabundos, a CNBB de câncer e incitando a violência contra as vias campesinas. Se os ricos estão nervosos é porque estamos no caminho certo. MST! A Luta é pra valer. Pátria livre! Venceremos. Primeiro passo: #ForaBolsonaro”, escreveu o bispo.

Em sua carta, D’Ávila também disse que não teve a intenção de “desrespeitar o Papa Francisco, líder sacrossanto e chefe de Estado”. “Inserir o Papa em minha fala foi um erro, pelo qual humildemente peço desculpas a todos os católicos do Brasil e do mundo, pois não considerei a figura espiritual que ele representa”.

Segundo o deputado, seu discurso foi “inflamado por problemas havidos nos dias anteriores”. Ele contou que no dia 12 de outubro quase foi “vítima de homicídio” em frente à sua esposa e filhos em São Paulo. No mesmo dia, disse, soube da homilia de “dom Orlando Brandes, referente à política contra o armamento das pessoas de bem”. Outro episódio que inflamou seu discurso, segundo D’Ávila, foi “a invasão da APROSOJA” (Associação dos Produtores de Soja) em Brasília “pelo MST e Via Campesina”. Tais fatos, disse, “me geraram grande inconformismo”.

Na Alesp, durante abertura da sessão plenária de segunda-feira, o deputado Carlão Pignatari se manifestou sobre o caso. “Em nome de todo o parlamento paulista, como presidente desta Casa, repudio todo e qualquer uso da palavra que vá além da crítica e que se constitua em ataques, extrapolando os limites da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar, concedida aos representantes públicos eleitos”, disse. Também pediu desculpas ao papa Francisco, a dom Orlando Brandes e “a todos que se sentiram ofendidos pelas palavras que não representam a opinião da Assembleia Legislativa de São Paulo”.

Segundo o jornal ‘O Globo’, só na segunda-feira, o deputado Frederico D’Ávila foi alvo de quatro representações por quebra de decoro no Conselho de Ética da Alesp. Ao site, a presidente do Conselho, deputada Maria Lucia Amary (PSDB), disse que “os pedidos serão encaminhados a todos os integrantes do Conselho de Ética, o deputado Frederico D’Ávila será notificado para apresentar a defesa em até cinco dias”. Após a apresentação da defesa, o conselho vota se as representações serão aceitas ou não e, então, tem início o processo por quebra de decoro.

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