Com o tempo para resgatar civis que fogem do Talibã acabando, cristãos afegãos estão sendo barrados no aeroporto da capital Cabul, disseram representantes de organismos de ajuda à CNA, agência em inglês do grupo ACI.

“Meus contatos em vários grupos que trabalham no resgate dos que ainda estão em perigo no Afeganistão _que devem ficar anônimos_ dizem que o Departamento de Estado (dos EUA) não está seguindo as listas que pediu que as organizações compilassem _mesmo tendo elas mandado as listas várias vezes.” Disse Faith McDonnell, da Katartismos Global, organização anglicana com sede na Virginia, EUA. “Parece que, no momento, ninguém tem prioridade, a não ser que tenha algum tipo de conexão especial dentro do aeroporto”, disse ela.

“Várias organizações relataram que, mesmo que os aviões dessas organizações tenham listas de pssageiros, o pessoal do aeroporto está embarcando pessoas diferentes das que estão na lista nos aviões que estão partindo”, disse McDonnell. “Outros relataram que, às vezes, uma agência do governo rejeita pessoas que outra agência do governo aprovou e tentou trazer ao aeroporto”.

Rondando a crise humanitária que se aprofunda, há um prazo que expira na sexta-feira para as operações de retirada de civis no aeroporto de Cabul, para abrir caminho para o transporte dos 5,4 mil militares que ainda estão no país e têm que sair até 31 de agosto, data estabelecida meses atrás pelo presidente americano, Joe Biden, para a completa retirdada dos EUA do Afeganistão.

Segundo a Casa Branca, os Estados Unidos retiraram e facilitaram a retirada em voos militares de cerca de 87,9 mil pessoas do Afeganistão desde o fim de julho. Dezenas de milhares ainda tentam sair do país por Cabul nos próximos dias.

Somando-se à crescente ansiedade de cristãos e membros de outros grupos religiosos cuja fé põe sob risco de perseguição pelos radicais muçulmanos do Talibã, funcionários de organizações de ajuda disseram que a designação P-2 que determina prioridades na retirada não inclui cristãos ou ou membros de outras minorias religiosas. A designação dá prioridade a “mulheres em risco”, jornalistas, acadêmicos, pilotos, e “populações minoritárias”, entre outros.

A Comissão sobre Liberdade Religiosa dos EUA, uma comissão governamental bipartidária e independente, pediu na quarta-feira 25 de agosto que o governo americano amplie a designação para “incluir explícitamente as minorias religiosas afegãs, reconhecendo os graves riscos que eles já enfrentam, que só vão aumentar depois do fim da retirada dos EUA”, segundo Frederick Davie, membro da comissão.

Entre os grupos de ajuda apanhados no caos está o Fundo Nazareno, do apresentador de talk show conservador Glenn Beck. O fundo arrecadou mais de US$ 28 milhões para tirar cristãos do Afeganistão, segundo Beck. Em um vídeo postado no Instagram, Beck disse que seu grupo tem pelo menos 20 aviões à disposição, incluido Boeings 737 e 757, e espera tirar 7 mil pessoas até sexta-feira. Beck disse que, depois de um dia de atrasos, os primeiros aviões, carregando 1,2 mil pessoas, decolaram do aeroporto na terça-feira. Na guerra espiritual que está sendo travada, disse Beck “tudo tem sido uma batalha. É uma batalha do bem contra o mal”.

Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse à CNA no sábado que o governo americano não está organizando vôos charter privados de retirada nem endossando alegações de outros sobre acesso ao aeroporto de Cabul.

O governo alemão teria negociado com o Talibã que a retirada de civis continue além do prazo de 31 de agosto, segundo o jornal americano Wall Street Journal, “como pré-requisito para uma presença diplomática e humanitária no país.”

A Alemanha daria “assistência imediata de US$ 100 milhões para o Afeganistão, com a possibilidade de outros US$ 600 milhões”, com o dinheiro passando por organizações humanitárias, disse o jornal.

Nina Shea, diretora do Centro para Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, de Washington DC, fez um relato sobre o desespero dos que querem sair do Afeganistão à CNA. “Comecei a receber emails de cristãos afegãos em pânico, através de conhecidos ocidentais deles. Eles não estão sendo autorizados a embarcar em voos do governo americano em Cabul. Eu os estou aconselhando a tentar embarcar em voos de Glenn Beck”, disse Shea.

Jason Jones, produtor de cinema, escritor e podcaster conservador que dirige uma organização humanitária chamada Projeto Pessoas Vulneráveis, disse que está trabalhando para passar os nomes desses desesperados para escapar ao gabinete do deputado americano Chris Smith, republicano de Nova Jersey, que está tentando pôr essas pessoas nas listas de retirada do governo americano."

“Cabul está esmoronando e nosso pessoal está em pânico”, disse Jones em um email à CNA. “As próximas 72 horas serão muito escuras. Cabul está decaindo para o caos e a confusão e nossos cidadãos e amigos estão entrando em colapso pelo desespero. As pessoas estão sendo procuradas pelo Departamento de Estado e orientadas a ir para o aeroporto só para serem mandadas embora.”

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