O papa Francisco fará sua quinta viagem apostólica à África de 2 a 7 de julho, desta vez à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul. A expectativa dos países é que a visita de Francisco os ajude a alcançar a paz e a reconciliação.

De 2 a 5 de julho Francisco visitará pela primeira vez a República Democrática do Congo, o segundo maior país do continente. Há mais de 25 anos enfrenta ataques das Forças Democráticas Aliadas, grupo extremista que em 2019 jurou fidelidade ao Estado Islâmico na África Central.

As Forças Democráticas Aliadas estão principalmente no nordeste do país, nas províncias de Ituri e Kivu Norte, onde também opera a milícia Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (CODECO), surgida em 2018.

"O papa vem nos dizer: 'Congoleses, reconciliem-se'. A República Democrática do Congo é um país enorme, muito rico, mas onde há muito sofrimento na sociedade”, disse dom Timothée Bodika Manyisai, bispo de Kikwit, no centro-oeste do país, em declarações à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) divulgadas ontem (18).

“O papa vem a nós em um momento tumultuado na vida de nosso país. Por exemplo, ele irá para Goma, capital de Kivu do Norte, onde há muita tensão, onde há grupos armados que espalham o terror por interesses egoístas; apesar de ser a parte mais rica do país”, disse o bispo.

Dom Timothée lembrou que o convite foi feito ao papa Francisco em 2014 e afirmou que a visita gerou muita expectativa, já que o último papa que viajou ao país foi são João Paulo II em 1980 e 1987.

O bispo de Kikwit disse que a Igreja está priorizando a preparação espiritual dos fiéis, para lhes transmitir que quem chegará é o sucessor de Pedro para confirmá-los na fé.

Papa Francisco também visitará o país mais novo

Depois da República Democrática do Congo, o papa Francisco estará no Sudão do Sul de 5 a 7 de julho, uma visita que "será muito importante para a paz", disse a freira comboniana Beta Almendra, que vive na província de Wau desde o início do 2021.

A freira portuguesa de 52 anos relatou que a população depende da Igreja, principalmente em tempos de violência.

“Se há algum conflito, perguntam logo: ‘onde é que está a Igreja? Onde é que estão os líderes da igreja?’. Mas perguntam mesmo e contam conosco, com o nosso apoio, com a nossa ajuda, com a nossa oração, com tudo aquilo que pudermos fazer pela paz neste país”, disse.

O Sudão do Sul é um estado independente desde julho de 2011 e, segundo o censo do mesmo ano, 70% dos habitants são cristãos, 20% professam religiões animistas e entre 3% e 5% são muçulmana.

Desde 1956 fazia parte da República do Sudão, com uma população de maioria muçulmana no norte. Ambas as regiões se enfrentaram em duas guerras civis, a segunda ocorreu entre 1983 e 2005, quando foi assinado um acordo de paz que permitiu a realização do referendo de independência em 2011.

No entanto, em dezembro de 2013 eclodiu uma guerra civil que culminou no acordo de 2018 para estabelecer um governo unificado, que deveria governar o país a partir de 12 de maio de 2019.

Em abril daquele ano, o papa Francisco convidou as autoridades civis e religiosas do Sudão do Sul para um retiro espiritual no Vaticano, ao final do qual fez o gesto humilde de beijar os pés de quatro dos participantes. Entre eles estavam o presidente Salva Kiir e opositores, os vice-presidentes recém-nomeados Riek Machar e Rebecca Nyandeng.

No entanto, a paz no Sudão do Sul "continua frágil", disse a ACN em nota enviada à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, ontem (18).

A irmã Beta disse que “muita desta gente aqui do Sudão do Sul viveu sempre em guerra, são gerações que cresceram e viveram conhecendo somente a guerra. E a última guerra foi muito má. Destruiu muita coisa, escolas, estruturas, hospitais, igrejas, destruiu vidas, muitas mulheres, crianças, e também procurou acabar com as pessoas que já tinham uma certa educação escolar, que podiam ser futuros líderes”.

A freira disse que o gesto do papa em abril de 2019 ainda está na memória das pessoas, porque diante do perigo de um novo conflito "um dos nossos líderes da Igreja foi falar com o presidente, foi falar com o vice-presidente, e disse-lhes: ‘vocês não se lembram do gesto que o papa fez? E vocês disseram publicamente que isso mudou a vossa vida, que não mais haveria guerra no Sudão do Sul...”

"Foi essa memória, foi esse gesto novamente que fez com estes líderes chegassem a mais um acordo, a mais uma tentativa de diálogo, a mais um passo para a paz concreta", disse.

Neste sentido, a freira comboniana disse que espera que com esta visita apostólica “as pessoas realmente entendam que a paz é possível” e que é “o único meio de desenvolver este país”.

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