“No Novo Testamento”, disse o cardeal Raniero Cantalamessa na homilia que pronunciou na celebração da Paixão do Senhor na Basílica de São Pedro, “a palavra ‘irmão’ indica sempre mais claramente uma categoria particular de pessoas. Irmãos entre si são os discípulos de Jesus, aqueles que acolhem seu ensinamento.”

A cerimônia foi presidida pelo papa Francisco e celebrada no Altar da Cátedra da Basílica de São Pedro, para um pequeno grupo de convidados por causa das medidas de combate à pandemia de Covid 19.

Depois da leitura da Paixão segundo São João e ants da Adoração da Cruz, Cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia, ressaltou em sua homilia que esses irmãos também são irmãos de sangue. “Mas do sangue de Cristo.”

Inspirado pela encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco que trata da fraternidade, o cardeal ressaltou um parágrafo da encíclica em que “o fundamento evangélico da fraternidade é reassumido em poucas, mas vibrantes palavras”.

O parágrafo se encontra no final da encíclica e diz: “Outros bebem de outras fontes. Para nós, essa fonte de dignidade humana e de fraternidade está no Evangelho de Jesus Cristo”.

Cantalamessa comentou que “isso faz da fraternidade em Cristo alguma coisa de único e de transcendente em relação a todos os outros tipos de fraternidade e se deve ao fato de que Cristo é também Deus.”

A fraternidade em Cristo, ressaltou o cardeal, “não substitui aos outros tipos de fraternidade baseadas na família, nação ou raça, mas as coroa. Todos os seres humanos são irmãos enquanto criaturas do mesmo Deus e Pai. A isso a fé cristã adiciona uma segunda e decisiva razão. Somos irmãos não só a titulo de criação mas também de redenção: não porque temos todos os mesmo par, mas porque temos todos o mesmo irmãos, Cristo, ‘primogênito entre muitos irmãos’”, disse o cardeal citando São Paulo (Romanos 8, 29).

Pregando na Celebração da Paixão e Morte de Jesus, o pregador da Casa Pontifícia observou que “o mistério que estamos celebrando instiga a nos concentrar propriamente neste fundamento cristológico da fraternidade, porque é sobre a cruz que ela foi inaugurada.”

O cardeal Cantalamessa lamentou no entanto que “a fraternidade católica esta ferida!” Ressalvando que a verdadeira “túnica de Cristo, seu corpo místico animado pelo Espírito Santo, ninguém poderá jamais rasgar”, o pregador afirma que o elemento humano da Igreja Católica “está feito em pedaços”.

“Qual é a causa mais comum das divisões entre os católicos”, perguntou o cardeal.

“Não é o dogma, não são os sacramentos e os ministérios: todas essas coisas que, por graça particular de Deus, conservamos íntegros e unânimes. É a opção política”, respondeu Cantalamessa. Quando essa opção toma a precedência sobre a dimensão religiosa e eclesial e defende “uma ideologia, esquecendo completamente o valor e o dever da obediência na Igreja.”

Se, como recordou o cardeal “aos olhos de Deus a Igreja é una, santa, católica e apostólica e assim permanecerá até o fim do mundo, isso não desculpa nossas divisões mas as tornam mais culpáveis e devem nos instigar com mais força a saná-las.”

Para Cantalamessa, em certas partes do mundo é esse o verdadeiro fator de divisão, “ainda que calado ou desdenhosamente negado”.

“Isso é um pecado, no sentido mais estrito do termo. Quer dizer que ‘o Reino dete mundo’ tornou-se mais importante, no próprio coração, do que o Reino de Deus.”

Por isso, conclui o cardeal Cantalamessa “creio que somos todos chamados a fazer sobre isso um exame de consciência e nos converter”. Essa divisão, afirmou o Pregador, “é por excelência a obra daquele cujo nome é ‘diabolos’ (diabo em grego), isto é o divisor, o inimigo que semeia a cizânia, como o define Jesus em sua parábola (Mateus 13, 25)

“Devemos começar do Evangelho e do exemplo de Jesus”, ensinou o pregador do papa. “Ao redor dele havia uma forte polarização política. Existiam quatro partidos: os fariseus, os saduceus, os herodianos e os zelotas”. Segundo o cardeal, Jesus “resistiu energicamente à tentativa de arrastá-lo a uma parte ou outra. A comunidade primitiva cristã seguiu-o fielmente nessa escolha.” Cantalamessa ressaltou que “esse é um exemplo sobretudo para os pastores que devem ser pastores de todo o rebanho, não só de uma parte dele.”

“Esses pastores, por isso, são os primeiros a dever fazer um exame de consciência e pereguntar-se aonde estão levando o próprio rebanho: se de sua própria parte ou da parte de Jesus.”

A Sexta-feira Santa se encerra com a Via Crucis que neste ano, pelo segundo ano seguido, não será realizada no Coliseu de Roma, por causa das medidas de combate à pandemia, mas na praça São Pedro e presidida pelo Papa Francisco.

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