O Arcebispo de Caracas, Cardeal Jorge Urosa Sabino, fustigou ao governo da Venezuela pela falta de segurança e a complacência que permitiram que um grupo de chavistas mascarados, liderados por uma manifestante de rua, tomassem durante mais de três horas as instalações do Arcebispado de Caracas.

"Esta escalada de violência deve cessar e isso lhe corresponde ao Governo. Todos os setores devem contribuir a que exista paz, harmonia, concórdia. As diferenças se elucidam com diálogo e em democracia", disse o Arcebispo de Caracas ao canal privado Globovisión, alvo dos ataques dos manifestantes.

O grupo invasor esteve liderado pela dirigente popular Lina Ron, cabeça da minoritária e radical Unidade Popular Venezuelana (UPV), uma organização de fachada chavista, que na última eleição obteve os votos de 0,68 por cento dos cidadãos.

O Cardeal Urosa lamentou que nenhuma autoridade atendesse suas ligações telefônicas para denunciar a invasão da sede arcebispal e exigiu "respeito para a Igreja", assim como para os que trabalham com ele, para sua pessoa e para os sacerdotes.

O Cardeal vinculou a ação de hoje com os ataques verbais lançados recentemente por algumas personalidades oficiais contra a posição do episcopado venezuelano a favor de uma anistia ampla e um autêntico respeito às práticas democráticas.

"Não é casual que faz poucos dias altos representantes do Governo agredissem verbalmente à Igreja e a minha pessoa e que hoje aconteça isto", assinalou.

O ministro de Interior, Ramón Rodríguez Chacín, criticou na segunda-feira que a Nunciatura Apostólica estivesse dando asilo a Richard Nixon Moreno, um dirigente juvenil da oposição que o governo declarou "prófugo da justiça".

O Cardeal Urosa advertiu "as coisas estão escapando das mãos do Governo" e pediu "prudência e serenidade".

O grupo invasor leu um comunicado no que denunciou uma suposta cumplicidade entre meios de comunicação privados, setores oligárquicos e a hierarquia da Igreja católica para provocar a queda de Chávez.

Lina Ron advertiu que essa cumplicidade convertia a estas entidades em "objetivo dos grupos revolucionários", sem especificar no que consistiriam as ações das que seriam objeto.

O arrombamento do Arcebispado coincidiu com a celebração, por parte dos setores pró governamentais, do aniversário do "caracazo", um levantamento de protesto popular que começou em 27 de fevereiro de 1989 contra o governo do presidente Carlos Andrés Pérez.