O arcebispo de Munique e Freising, cardeal Reinhard Marx, disse na terça-feira que pediu ao presidente alemão Frank-Walter Steinmeier que não lhe conceda a Cruz de Mérito Federal, após um protesto feito pelas vítimas de abuso sexual clerical.

O cardeal iria receber o Bundesverdienstkreuz, a única condecoração federal da Alemanha, no Palácio Bellevue, em Berlim, em 30 de abril. No entanto, o cardeal Marx disse em 27 de abril que queria se retirar do evento.

Em uma carta, o cardeal de 67 anos agradeceu a Steinmeier pela "grande honra do prêmio".

“É meu grande pedido para vocês não receber o prêmio. Estou convencido de que este é o caminho certo em consideração àqueles que estão obviamente ofendidos pelo prêmio, e especialmente em consideração aos sobreviventes [de abuso sexual]”, disse o Cardeal, segundo a CNA Deutsch, agência em alemão do grupo ACI.

O cardeal Marx, presidente da Conferência Episcopal Alemã de 2014 a 2020, acrescentou que não queria chamar a atenção negativa sobre outros homenageados. Durante sua presidência deu-se início ao Caminho Sinodal, em curso na Igreja alemã com propostas de alterar a doutrina católica sobre moral sexual, incluindo o homossexualismo, ordenação de mulheres e maior participação de leigos na administração e liderança da Igreja.  

“Obviamente, também não quero prejudicar o gabinete do presidente federal. Levo muito a sério as críticas manifestadas pelas pessoas afetadas pelo abuso sexual no âmbito da Igreja, independentemente da veracidade das declarações individuais em cartas abertas e nos meios de comunicação”, disse.

Peter Bringmann-Henselder, membro do Conselho Consultivo de Pessoas Afetadas da Arquidiocese de Colônia, havia pedido a Steinmeier em uma carta aberta para não conceder o prêmio, informou a CNA Deutsch.

Além disso, citou como o cardeal Marx lidou com casos de abuso sexual quando era bispo de Trier entre 2001 e 2007.

Bringmann-Henselder disse que a honra concedida ao arcebispo de Munique e Freising poria em causa "tudo aquilo pelo qual nós já lutamos e trabalhamos".

O cardeal Marx receberia a Cruz do Cavaleiro Comandante, que o próprio Bringmann-Henselder recebeu por seu trabalho em prol dos sobreviventes de abusos.

Bringmann-Henselder disse que devolveria a medalha caso Marx recebesse esta honra e aconselharia outros homenageados a que fizessem a mesma coisa.

"Se isto acontecer, todos aqueles que já receberam a Cruz de Mérito Federal pelos seus autênticos serviços às vítimas de violência sexual devem devolvê-la, pois esta comendação perderá o seu valor real de honra ao mérito, se o Cardeal Marx for condecorado com ela".

Na carta aberta, também afirmou ter o apoio de outros membros do conselho consultivo.

"É incompreensível para nós como se pode atribuir a Cruz de Mérito Federal ao Cardeal Marx, um homem que continua a ser criticado por não ter investigado consistentemente casos de violência sexual na sua antiga diocese de Trier e que é acusado de um encobrimento neste contexto", disse.

A carta também dizia que, como arcebispo de Munique e Freising, o cardeal Marx não havia publicado até agora um relatório de 2010 sobre os casos de violência sexual na arquidiocese.

Acrescentou que esse relatório "não está acessível ao público até hoje, ao contrário da opinião dos peritos da Arquidiocese de Colônia", uma referência ao Relatório Gercke de 800 páginas publicado pela Arquidiocese de Colônia em março.

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