O Cardeal George Pell, Prefeito da Secretaria de Economia da Santa Sé, esclareceu alguns boatos que pretendem mostrá-lo como se estivesse contra o Santo Padre e disse: “Não sou um rebelde nem um opositor do Papa Francisco”.

Em entrevista concedida ao Grupo ACI no contexto do Sínodo dos Bispos sobre a Família, que acontece em Roma até o dia 25 de outubro, o Cardeal australiano negou que esteja contra o Pontífice: “Com certeza, não estou. Trabalho muito perto do Papa, ajudo a cuidar da economia, sou membro do C9”, grupo de cardeais consultores que colaboram com o Papa para a reforma do Vaticano.

O Cardeal Pell, também Arcebispo Emérito de Sydney (Austrália), afirmou que “o Pontífice pediu que o diálogo (no Sínodo) seja livre, pois está aberto a escutar-nos. Podemos expor um tema e o Papa nos escuta. Ele confia em mim e mencionou as minhas preocupações. O Papa disse que a doutrina não será modificada. Além disso, não sou um rebelde nem um opositor do Papa”.

As preocupações do Cardeal Pell estão relacionadas à metodologia do Sínodo e a Comissão que prepara o documento final. Com relação a este assunto, disse ao Grupo ACI que estas “já foram respondidas. O Santo Padre disse que a doutrina não será modificada. Haverá um documento final e votaremos parágrafo por parágrafo do documento e o Santo Padre comentou que não haverá manipulação”.

A carta dos 13 cardeais para o Papa

Sobre a carta que ele e outros cardeais enviaram ao Papa Francisco, o Cardeal Pell disse que as reações negativas que gerou poderiam ser porque “não havia muita emoção durante a primeira semana e a imprensa queria um pouco de emoção”. “Grande parte dos deveres de um Cardeal é escrever cartas ao Papa. Durante estes anos, escrevi várias cartas aos Papas. Por que esta foi filtrada? Não sei. Mas o que eu tenho certeza é que nenhum dos 13 assinantes a filtrou”, ressaltou.

Em seguida, o Cardeal australiano indicou que “com frequência enfatizamos as deficiências do Sínodo, mas o Sínodo é uma invenção maravilhosa. Foi maravilhoso escutar os testemunhos dos casais e foram muito mais interessantes que as intervenções dos bispos”.

Comunhão para divorciados em nova união

“Acho que o Sínodo, basicamente, está em bom caminho, embora haja este controverso tema da comunhão para os divorciados em nova união, mas o mais importante é que a doutrina é única, embora existam várias teologias”, indicou.

Em relação a este tema, o Cardeal Pell assinalou que “não se pode dizer que na Polônia acreditam na divindade de Cristo e que na Alemanha vão dizer que Cristo não é divino. Não podemos ter duas pessoas na mesma situação com as mesmas circunstâncias (os divorciados recasados); e que alguém receba a comunhão e cometa um sacrilégio; e no país ao lado” a situação seja diferente.

O Prefeito de Economia da Santa Sé disse ainda que “o Cardeal Arinze diz que não se pode nacionalizar o que está bem ou mal. Temos um credo, uma única fórmula de batismo, um Deus e uma só fé. Católico significa universal, não continental”.

Depois de assegurar que no Sínodo “somos guiados por bispos individuais conduzidos por sua vez pelo Santo Padre”, o Cardeal disse ao Grupo ACI que o clima entre os prelados é de grande liberdade, porque todos podem “dar suas opiniões. Eu estou fazendo isso. Meu grupo em inglês tem uma grande liberdade para expressar suas ideias. Às vezes existem divisões evidentes, mas existe um ambiente cristão e maduro, uma comunidade que conversa”.

50 anos do Sínodo

Sobre os trabalhos desta terceira semana, o Purpurado australiano comentou que estão “trabalhando muito no Sínodo, fizemos um progresso substancial. Estamos entrando na terceira parte do documento. Nas duas primeiras partes houve um consenso muito forte em diversos de temas”.

Quanto ao discurso do Santo Padre que aconteceu no último sábado e a celebração dos 50 anos da inauguração do Sínodo pelo Beato Paulo VI, o Cardeal Pell comentou que o Papa Francisco destacou “seu papel central como Sucessor de Pedro e enfatizou também que ele é o verdadeiro fiador da Tradição. Somente podemos viver e trabalhar dentro da Tradição, o essencial da Tradição”.

Em relação ao que espera do resultado do Sínodo, o Cardeal assinalou ao Grupo ACI que gostaria de “uma lista das melhores práticas. Exemplos de todo o mundo sobre estratégias e práticas que ajudem à Igreja”.

“Acredito que precisamos de um claro ensinamento do Sínodo e também do Santo Padre porque existe certo grau de confusão e queremos esclarecer o assunto da misericórdia e da verdade, que estão no coração do ensinamento moral cristão e do ensinamento sacramental cristão. Devemos estar no coração da vida familiar”, concluiu o Cardeal Pell.