O escritório parlamentar dos bispos católicos da Escócia publicou uma carta que expõe os ensinamentos da Igreja sobre o aborto e o suicídio assistido, antes das eleições gerais no Reino Unido na próxima semana.

“É dever de todos nós defender o direito humano mais básico e fundamental: o direito à vida”, diz a carta da Conferência Episcopal da Escócia, publicada na quinta-feira, 5 de dezembro.

As eleições gerais serão nesta quinta-feira, 12 de dezembro, depois que em 6 de novembro o primeiro ministro britânico , Boris Johnson, com a aprovação da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes britânicos, propôs a dissolução do Parlamento britânico e a convocação das eleições devido à falta de consenso de como se deve realizar a saída do Reino Unido da União Europeia.

“Devemos exortar os candidatos a reconhecer a vida humana desde o momento da concepção até a morte natural e legislar para sua proteção em cada etapa, incluindo a proteção do feto, garantindo que tanto a mãe como a criança sejam aceitas e amadas”, acrescentaram os prelados escoceses.

Os bispos não apoiaram nenhum partido político ou candidato, mas disseram que o aborto, o suicídio assistido e a eutanásia são "sempre inaceitáveis do ponto de vista moral" e que todos os políticos devem ser incentivados a resistir à despenalização do aborto, o que conduz ao aborto a pedido por qualquer motivo.

O Escritório Parlamentar Católico (Catholic Parliamentary Office), uma agência da Conferência Episcopal Escocesa, também informa em seu site sobre os votos dos políticos em vários projetos de lei.

Esses votos incluem a despenalização do aborto, que segundo o escritório abriria caminho para o "aborto a pedido, por qualquer motivo, até o nascimento". Também registraram os votos dos parlamentares sobre um projeto de lei para legalizar o suicídio assistido, assim como a votação dos parlamentarem sobre as leis de liberalização do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Irlanda do Norte.

O site também fornece links para os manifestos e informações dos principais partidos sobre o registro de eleitores e os métodos de votação.

Os bispos da Escócia enfatizaram a necessidade de votar de uma maneira que reflita as crenças católicas.

“Essa eleição geral nos oferece a oportunidade de eleger um representante individual que reflita o mais fielmente possível as nossas crenças. Permite-nos revisar a doutrina social católica e conectar nossa votação com a nossa fé católica. Pode ser uma oportunidade de proclamar a dignidade e a coragem inerentes a cada ser humano, feito à imagem e semelhança de Deus, e para promover o bem comum”, disseram em sua carta.

Os bispos asseguraram que a política adquiriu um tom divisório, principalmente como resultado do referendo "Brexit" da União Europeia, e lamentaram que o vigoroso debate às vezes tenha se convertido em ataques pessoais e atos de violência “que nunca são aceitáveis”.

Anthony Horan, diretor do Escritório Parlamentar Católico da Escócia, enviou uma carta separada aos sacerdotes, relata o Scottish Catholic Observer.

“Embora tendamos a ver a política através de um prisma partidário, esta eleição geral nos dá a oportunidade de escolher um representante individual que reflita fielmente nossas crenças, incluindo a dignidade e valor inerentes a cada ser humano e a promoção do bem comum”, afirmou.

Horan exortou os sacerdotes e fiéis a "entrar em contato com todos os candidatos de sua circunscrição eleitoral e desafiá-los sobre os temas propostos na carta pastoral da Conferência Episcopal da Escócia sobre as eleições gerais de 2019”.

As circunscrições eleitorais escocesas compõem 59 dos 650 assentos na Câmara dos Comuns. Embora os candidatos não afiliados possam se apresentar como independentes, a grande maioria dos candidatos eleitos é membro de um dos principais partidos políticos.

A carta dos bispos da Escócia também criticou o apoio ao aborto por parte do governo do Reino Unido e do parlamento escocês.

"Nossos governos também deveriam promover uma cultura de vida no exterior, revertendo a prática atual do governo do Reino Unido de apoiar iniciativas contra a vida, que poderiam ser descritas como colonização ideológica", disseram os bispos.

Os prelados também abordaram a crescente falta de moradia e dependência de bancos de alimentos. Disseram que o limite de dois filhos para os créditos fiscais afeta desproporcionalmente as famílias religiosas.

“A sociedade depende da base da família para existir. O amor do homem e da mulher no matrimônio e sua abertura a uma nova vida é a célula básica e fundamental sobre a qual se constrói a sociedade”, disseram.

A tolerância e liberdade religiosa também foram um dos focos. Os bispos pediram uma legislação que acolha “todas as religiões ou nenhuma”, que respeite os direitos de consciência e suscite a necessidade de trabalhar contra a perseguição e intolerância religiosa em todo o mundo, incluindo a perseguição anticristã.

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“Acreditamos que uma intolerância progressiva às crenças religiosas, que inclui, mas não se limita ao cristianismo, se tornou parte da vida na Grã-Bretanha moderna. Certos políticos e cidadãos percebem que é cada vez mais difícil ser fiel à sua fé em um ambiente que tenta restringir a religião à esfera privada”, disseram os bispos.

De acordo com os comentários recentes do Papa Francisco em sua viagem ao Japão, os bispos escoceses também exortaram o próximo governo do Reino Unido a trabalhar para eliminar seu arsenal nuclear e afastar-se das indústrias de armas que “alimentam guerras e instabilidade em todo o mundo".

Cerca de 10% dos 5,4 milhões de habitantes da Escócia são católicos, enquanto cerca de 18% pertencem à Igreja Protestante da Escócia. Mais da metade dos escoceses diz que não professa nenhuma religião.

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