Três meses após o motu proprio Traditionis custodes, com que o papa Francisco restringiu o uso da liturgua anterior à reforma do Concílio Vaticano II, os bispos continuam a implementar este documento pontifício em suas respectivas dioceses com perspectivas diferentes.

O Bispo de Lake Charles, no estado da Lousiana, EUA, dom Glen Provost, permitiu que as missas tradicionais em latim fossem celebradas na paróquia da catedral e em uma segunda paróquia na diocese. Ele concedeu a ambas as paróquias uma dispensa canônica das restrições do motu proprio, que proíbe explicitamente a celebração da missa tradicional em igrejas paroquiais.

"Como pastor e bispo, estou ciente das necessidades do rebanho e a eles me dirijo", diz carta do bispo Provost publicada no site da diocese no dia 19 de outubro. Ele observou que sua diocese sofreu vários desastres naturais no último ano, além da pandemia covid-19 ainda em curso, e que muitos dentro de sua diocese ainda estão deslocados de suas casas.

"Dado estes fardos e a ênfase na misericórdia demonstrada por nosso Santo Padre, sou levado a abordar esta implementação, onde for apropriado, num espírito de epikeia e com a aplicação do cânon 87", disse. Epikeia é uma palavra grega e, em teologia moral, designa a aplicação mais leniente de uma lei com base na convicção de que a intenção do legislador visa o bem dos que estarão sujeitos à lei.

O Cânon 87 do Código de Direito Canônico afirma: "O Bispo diocesano, sempre que julgar que isso contribui para o bem espiritual dos fiéis, pode dispensá-los das leis disciplinares tanto universais como particulares promulgadas pela autoridade suprema da Igreja para o seu

território ou para os seus súditos, mas não das leis processuais ou penais nem

daquelas cuja dispensa esteja especialmente reservada à Sé Apostólica ou a outra

autoridade".

Segundo o bispo, a diocese de Lake Charles já procura atender as necessidades de certos grupos católicos, "como, por exemplo, nossos estudantes universitários, a comunidade hispânica, e os deficientes auditivos".

"Nossa preocupação pastoral se estende também àqueles que frequentam a missa oferecida no usus antiquior, ou seja, com o Missal Romano de 1962, e que o fazem desde a criação desta diocese", escreveu.

Na carta em que explica o Traditionis custodes, o papa Francisco alega estar "entristecido" que a celebração da Missa Tradicional em Latim" é frequentemente caracterizada por uma rejeição não só da reforma litúrgica, mas do próprio Concílio Vaticano II, alegando, com afirmações infundadas e insustentáveis, que esta traiu a Tradição e a 'verdadeira Igreja'".

Em sua carta, o bispo Provost escreveu que "não tinha conhecimento de ninguém nesta comunidade que tenha expressado oposição ao Concílio Vaticano II, muito menos negado sua legitimidade", e que "aqueles que optaram por conversar comigo sobre sua devoção ao usus antiquior insistiram na validade da liturgia reformada".

Restringir a missa em latim na diocese, disse Provost, "seria uma negligência grosseira, até mesmo insensível", à luz do que os católicos desta diocese sofreram.

"Nos muitos anos em que tive o privilégio de celebrar os sacramentos na diocese de Lake Charles, sempre fiquei impressionado com a devoção dos fiéis", disse o reitor. "Também estou ciente, tanto quanto possível, das necessidades do povo tal como elas me expressaram". Seja nas missas em ritos mais novos ou mais antigos, conheço o povo e suas preocupações".

Essas preocupações, explicou, incluem questões financeiras, desemprego, mortes, doenças, e muitas outras.

"Eles sofrem silenciosamente, sem anunciar seus problemas, procurando algum consolo nos ritos da Igreja, seja em língua vernácula ou em latim", disse ele. "Se nós, como pastores, não reconhecermos estas realidades e, em vez disso, continuarmos a nos engajar em argumentos que os fiéis acham incompreensíveis, então corremos verdadeiramente o risco de nos tornarmos um 'gongo retumbante e um címbalo que retine' e igualmente irrelevante".

A Diocese do Lake Charles foi estabelecida em 29 de janeiro de 1980, quase uma década e meia após o encerramento do Concílio Vaticano II.

O bispo de Raleigh, na Carolina do Norte, EUA, dom Luis Zarama, também permitiu missa tradicional em igrejas paroquiais, embora tenha dito, em carta aos padres de sua diocese, que a missa pós-Vaticano II deve "ter prioridade" na diocese.

"É minha expectativa que os padres que servem todas as paróquias, missões, igrejas e capelas celebrem a missa usando o Missal [aprovado pelos bispos americanos em 2011] todos os domingos e nos dias da semana, como a(s) celebração(ões) principal(is) do dia", escreveu o bispo em carta de 12 de outubro aos sacerdotes desta diocese.

As missas trdicionais na Catedral do Santo Nome de Jesus em Raleigh e no Santuário Basílica de Santa Maria em Wilmington continuarão, decidiu o bispo, assim como as missas tradicionais em duas outras paróquias da diocese. As missas tradicionais dos dias da semana serão suprimidas com a implementação da Traditionis custodes. As mudanças entrarão em vigor em 1º de janeiro de 2022, escreveu o bispo.

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Somente os sacerdotes que receberam a permissão de celebrar em latim diretamente do bispo Zarama estão autorizados a celebrar segundo o Missal Romano de 1962, escreveu ele, "pois a faculdade de fazê-lo é um privilégio pessoal e não um privilégio próprio de uma paróquia ou comunidade de fé, nem de qualquer outro grupo de fiéis". Com Traditionis custodes, o papa Francisco revogou o motu proprio Summorum pontificum, do papa Bento XVI, que declarava ser um direito de padres e fiéis celebrar a missa tradicional.

"É minha esperança que esta diretriz possa nos ajudar como família diocesana a continuar a crescer em santidade através de um relacionamento renovado com Deus através de nossa oração e integridade de vida, mas também promovendo uma maior formação em toda nossa Diocese sobre a beleza, teologia e praxis da sagrada liturgia, onde encontramos Nosso Senhor de forma mais íntima", disse dom Zarama.

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