Os bispos da Espanha responderam à “acusação gravemente injusta” da Ministra Ione Belarra, na qual acusava a Igreja Católica de “encobrir” abusos sexuais. A Conferência Episcopal Espanhola assegurou que o bom trabalho de milhões de pessoas "não pode ficar ofuscado" pelas "opiniões de políticos que, presas de um anticlericalismo rançoso, utilizam a Igreja para o confronto político numa estratégia de ruptura e confronto".

Durante a sessão plenária do Congresso dos Deputados na qual foi aprovada a Lei de proteção da criança contra a violência, a ministra dos Direitos Sociais e da Agenda 2030, Ione Belarra, do partido de extrema esquerda Podemos, assinalou a Igreja Católica como cúmplice no encobrimento de casos de abusos sexuais.

“É uma verdade incômoda, mas é preciso dizer que a Igreja Católica foi cúmplice muitas vezes neste país, encobrindo a violência sexual contra crianças, e isso tem que acabar”, disse Belarra no Congresso dos Deputados, em 15 de abril.

Diante dessas acusações, a Conferência Episcopal Espanhola (CEE) publicou uma resposta na qual assegura que se trata de "uma acusação gravemente injusta que visa sujar a atividade de milhões de pessoas durante décadas e que não corresponde em nada à verdade".

Ressaltaram, ainda, que isso “não pode ser ofuscado nem pelas ações de alguns de seus membros que são indignos desse trabalho nem pelas opiniões de políticos que, presas de um anticlericalismo rançoso, utilizam a Igreja para o confronto político numa estratégia de ruptura e confronto”.

O comunicado da CEE recordou também que estudos independentes recentes revelaram a gravidade deste problema no nosso país e indicam que "0,2% dos casos ocorreram em atividades religiosas" e que embora seja "grave para nós, coloca as dimensões do problema em sua magnitude e indica quais são os ambientes em que ocorrem majoritariamente os abusos, que devem ter especial atenção e proteção”.

“Como parte da sua missão, a Igreja está firmemente comprometida na promoção integral dos menores e desenvolve anualmente milhares de iniciativas que procuram formá-los em valores relevantes como a solidariedade, o respeito pela diferença, o serviço ao bem comum ou o cuidado do ambiente segundo os princípios do humanismo cristão”, asseguraram.

Além disso, renovaram "o compromisso da Igreja com a proteção dos menores que continuará dando passos adiante" e agradeceram o trabalho de todos "aqueles que, dentro e fora da Igreja, trabalham no cuidado dos menores e na sua formação, para um futuro melhor".

No comunicado da CEE recordaram também que “a Igreja Católica iniciou em 2002 um longo processo de atualização dos seus protocolos e do seu código de direito, especialmente em matéria de prescrição destes crimes e prevenção de abusos no presente e no futuro, aspectos que agora estão incorporados na legislação espanhola. Desde aquele ano, foram desenvolvidos protocolos e ambientes seguros para menores nos locais onde a Igreja desenvolve a sua atividade. As congregações religiosas desenvolveram um número significativo de iniciativas para atender com segurança aos menores e a Igreja diocesana também está seguindo este caminho e instalou escritórios de proteção aos menores e prevenção de abusos em todas as dioceses espanholas”.

A lei de proteção das crianças contra a violência foi aprovada no Congresso dos Deputados em 15 de abril e agora deve ser ratificada no Senado. A aprovação final está prevista para junho.

O ponto principal desta lei de proteção da criança contra a violência é a mudança do prazo de prescrição dos crimes graves contra menores que começará a valer quando a vítima fizer 35 anos, e não 18, como é atualmente.

Os menores de 14 anos ou pessoas com deficiência devem testemunhar apenas uma vez durante a fase de investigação do processo judicial, terão direito a defesa e representação gratuitas e aqueles que perceberem indícios de violência contra menores são obrigados a denunciar à autoridade correspondente”.

Esta lei é conhecida como “ley Rhodes” em referência ao pianista James Rhodes que sofreu abusos sexuais durante a infância e que trabalhou para que esta lei fosse aprovada na Espanha, que é uma das mais avançadas em prevenção e reparação.

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