Os bispos dos Estados Unidos (USCCB) pediram ao presidente Donald Trump e aos congressistas que encontrem uma solução para a crise na fronteira com o México e cheguem a um acordo final para colocar fim ao fechamento do governo.

“Assegurar as fronteiras e tratar humanamente quem foge da perseguição e buscam uma vida melhor são dois aspectos que não se excluem mutuamente. Os Estados Unidos podem garantir ambas as coisas e deve fazê-lo sem colocar medo nem semear o ódio. Continuaremos defendendo uma reforma migratória para promover o bem comum e abordar esses temas”, indica uma declaração emitida na quinta-feira, 10 de janeiro, pelo Episcopado e assinada pelo Bispo de Austin e presidente do Comitê de Migração, Dom Joe Vasquez.

O Bispo recordou que os migrantes não são estatísticas, mas pessoas. Por isso, incentivou os legisladores “a olhar além da retórica e recordar a dignidade humana que Deus nosso Pai deu a cada um de nós simplesmente porque todos somos seus filhos”.

“O presidente e os líderes do Congresso precisam entrar em acordo e terminar o fechamento do governo com uma solução que reconheça a dignidade do trabalho dos funcionários afetados, respeite a humanidade de todos independente de sua situação migratória e proteja a santidade da vida humana”, concluiu.

Fechamento do governo

Um “fechamento do governo” acontece quando os escritórios considerados não essenciais fecham porque não se aprovou o orçamento federal para o próximo ano fiscal.

O orçamento deve ser aprovado pelo Congresso e requer o acordo entre republicanos e democratas.

Os funcionários que trabalham nos escritórios que devem fechar não recebem pagamento porque se considera que durante esse período estão com uma permissão especial.

O fechamento de governo começou em 21 de dezembro de 2018. A principal razão que levou a essa situação é o desacordo que existe entre ambos os partidos sobre os cinco milhões de dólares que Trump solicita para construir o muro na fronteira com o México.

O fechamento afeta centenas de milhares de funcionários públicos.

Declarações de Trump sobre os migrantes

Em 8 de janeiro, Trump fez uma nova declaração sobre a crise humanitária na fronteira com o México e fez um chamado a incrementar a segurança, o que foi lamentado por diversos católicos no país, os quais também expressaram sua preocupação.

Nesse dia, Trump disse que 90% da heroína que ingressa nos Estados Unidos entra pela fronteira com o México. “Mais americanos morrerão pelas drogas neste ano nos EUA do que durante toda a Guerra do Vietnã”, disse o mandatário.

Trump também se referiu aos perigos do caminho da América Central até os Estados Unidos e indicou que as crianças são usadas como “peões” pelos “coiotes viciosos e bandos sem regras”.

Issac Cuevas, diretor de imigração e assuntos públicos da Arquidiocese de Los Angeles, disse a CNA – agência em inglês do Grupo ACI – que está de acordo com Trump de que há uma crise humanitária na fronteira, mas indicou que suas declarações, assim como as respostas dos senadores democratas, não são sinais de progresso.

“Ambos os grupos estão de acordo de que o tema da imigração já não pode ser ignorado, mas também devem entrar em acordo sobre onde começar a mudança”, acrescentou Cuevas.

“Estas desafios da imigração não desaparecerão com a implantação de barreiras, mas todos estamos concordamos que o sistema, especialmente do ponto de vista legal, está quebrado e deve ser consertado”, ressaltou.

Cuevas explicou a CNA que seria uma “solução de senso comum” para ambas as partes trabalhar juntos e criar um plano para fortalecer a segurança na fronteira e gerar um caminho para a “cidadania, para as boas pessoas que dão contribuições positivas a nossas comunidade e nossa forma de vida neste país”.

Por sua parte, o Bispo da Diocese fronteiriça de Brownsville, Dom Daniel Flores, escreveu em sua conta de Twitter no dia 9 de janeiro que “as mães e as crianças estão fugindo dos elementos criminosos que nós mesmos reconhecemos como um perigo mortal. Não somos capazes de sustentar uma resposta que proteja os vulneráveis e restrinja as ameaças?”.

Do mesmo modo, o Cardeal Joseph Tobin, Arcebispo de Newark, indicou em 9 de janeiro que estava “muito decepcionado com as palavras desumanas usadas para descrever nossos irmãos imigrantes. Estes homens, mulheres e crianças não são números nem estatísticas criminosas, mas pessoas de carne e osso com suas próprias histórias. A maioria foge da miséria e da violência brutal que os ameaça”.

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“As caricaturas falsas buscam provocar uma espécie de amnésia que faria com que esta grande nação negue suas raízes de imigrantes e refugiados”, acrescentou.

Tudo isso ocorre enquanto os bispos dos Estados Unidos celebram, de 6 a 12 de janeiro, a Semana Nacional de Migração.

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