Os bispos da Argentina responderam ao ex-embaixador e deputado eleito pela Frente de Todos, Eduardo Valdés, depois que este expressou que o Papa será compreensivo diante do debate sobre o aborto.

Antes de assumir seu cargo político no Congresso Nacional em 5 de dezembro, Valdés falou ao programa de rádio "Antes e Depois" e manifestou sua postura sobre a possibilidade de que o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, aprove o aborto.

“A tendência é que a Interrupção Voluntária da Gravidez (aborto) seja lei. Eu sei e vejo para onde a sociedade evolui”, disse Valdés em 24 de novembro.

“Eu sou dos que acreditam, e quis desconstruir-me como dizem os jovens, que quando há um embrião, há vida. Não tenho dúvida disso, é minha convicção”.

"Mas, sinceramente, acho que quem não pensa como eu não deve ser preso”, acrescentou.

Consultado sobre o que o Papa Francisco pensa, Valdés disse que “ele deve pensar o oposto do que eu penso”, mas “para Deus o que é de Deus e para César o que é César. A sociedade civil vai por um lado e o religioso vai por outro. Digo isso sendo que eu não sou um fanático verde, mas entendo para onde a sociedade vai”, insistiu.

Do mesmo modo, assegurou que o Santo Padre “vai compreender e vai interpretar para onde marcha o mundo. Nunca vai dizer que está de acordo, mas também não vai morrer por isso”.

Ao ser perguntado se o Papa Francisco realizará alguma gestão pela possível legalização do aborto na Argentina, o deputado manifestou que não vê que seja possível, porque não o fez em outras ocasiões.

Nesse sentido, os bispos da Argentina expressaram "o compromisso irrevogável do Santo Padre com a defesa da vida, desde a concepção até a morte natural".

“Como mencionamos na carta ‘Francisco, o Papa de todos’: o Papa Francisco se expressa em seus gestos e palavras de pai e pastor, e através dos porta-vozes formalmente designados por ele. Ninguém falou nem pode falar em nome do Papa”, explicaram.

Nesse sentido, consideraram que “subordinar seu magistério doutrinário a conjunturas políticas é inaceitável. Por isso, convidamos a descobrir que a contribuição de Francisco para a realidade do país deve ser encontrada em seu abundante magistério e em suas atitudes como pastor, não em interpretações tendenciosas e parciais”.

Em diferentes ocasiões, o Papa Francisco foi muito claro em sua rejeição ao aborto e em sua postura permanente de defesa da vida.

Em uma entrevista realizada em março deste ano e falando sobre o aborto por estupro, o Santo Padre disse que “a pergunta é, antes da lei civil, antes da lei religiosa, ao humano: é justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? É justo pagar um matador de aluguel para resolver um problema?”.

Um mês antes, em fevereiro, o Pontífice alertou que o aborto não pode ser entendido como um "direito humano".

“Então a vida também se reduz a bens de consumo, de usar e jogar fora, para nós mesmos e para os outros. Quão dramática é essa visão, infelizmente generalizada e enraizada, e quanto sofrimento causa aos mais fracos dos nossos irmãos!”, disse o Papa em audiência com o Movimento pela Vida.

Em junho de 2018 e em um encontro com uma associação de famílias, o Papa Francisco disse que, "no século passado, todo mundo se escandalizava com o que os nazistas faziam pela pureza da raça”, porém, “hoje fazemos o mesmo com luvas brancas”.

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