O bispo de Matagalpa, Nicarágua, dom Rolando Álvarez, é impedido de sair de casa por ordem do governo nicaraguense, que mantém um cerco policial à sede da cúria episcopal desde sexta-feira (5).

Martha Patricia Molina Montenegro, advogada, membro do Observatório Pró-Transparência e Anticorrupção disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que dom Álvarez "é um dos bispos que tem uma trajetória impecável, ligada à verdade e ao Evangelho”.

“Ele é um bispo extremamente envolvido com seu povo e altamente respeitado e amado não apenas em sua diocese, mas na Nicarágua em geral”.

“Dom Álvarez é uma referência de fé e defesa dos direitos das pessoas mais vulneráveis”, disse ela.

Para Montenegro, “o ódio e a inveja do casal presidencial é porque não conseguiram silenciar sua voz, nem o difamar, nem que as pessoas lhe virassem as costas”. A advogada se refere ao presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e sua mulher, Rosario Murillo, vice-presidente do país. Ex-líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional, grupo guerrilheiro de esquerda que tomou o poder em 1979, Ortega governou a Nicarágua de 1979 a 1990. Em 2007 voltou à Presidência que ocupa até hoje.

"Pelo contrário, as pessoas estão ainda mais unidas a ele", disse Montenegro sobre o bispo. “Eu temo pela vida do bispo Rolando José e seu clero”.

“Pela recente mensagem de ódio contra dom Álvarez enviada pela primeira-dama e vice-presidente da Nicarágua, eu considero que uma mensagem com palavras ordinárias que não são comuns em um cargo tão importante, é um sinal de que a Igreja Católica estará sob ataque, e que já é uma situação de luta frontal e dirigida”, disse Montenegro à ACI Prensa.

Numa mensagem divulgada na sexta-feira (5), Murillo acusou a Igreja na Nicarágua de "infringir as leis" e "cometer crimes porque provocar, ostentar a impunidade é um crime sobretudo quando o que se provoca é a discórdia”. Ela também disse que a Igreja comete um “pecado contra a espiritualidade”.

Segundo o regime de Ortega, a Igreja organiza “grupos violentos”

Ao contrário de deter o assédio, a Polícia Nacional da Nicarágua divulgou um comunicado na sexta-feira (5) acusando a Igreja Católica, "liderada pelo bispo, dom ROLANDO JOSÉ ÁLVAREZ LAGOS", de "organizar grupos violentos, incitando-os a levar atos de ódio contra a população”.

Segundo a polícia de Ortega, a Igreja está “causando um clima de ansiedade e desordem, alterando a paz e a harmonia na comunidade, com o objetivo de desestabilizar o Estado da Nicarágua e atacar as autoridades constitucionais”.

 

A polícia anunciou um "processo de investigação" e alertou, sem dizer a quem se referia, que "as pessoas sob investigação permanecerão em suas casas".

Montenegro disse à ACI Prensa que Ortega e Murillo "nunca" tiveram respeito pela Igreja Católica: "não têm respeito não só pelos bispos e padres, mas não amam, não temem e não respeitam a Deus”.

A escalada violenta do regime de Daniel Ortega contra a Igreja Católica incluiu a expulsão do país das Missionárias da Caridade, fundadas por madre Teresa de Calcutá, e o fechamento de emissoras católicas de televisão e rádio.

“Estamos desarmados”

Montenegro disse que o governo de Ortega e Murillo comete "crimes contra a humanidade, que afetam não apenas os nicaraguenses, mas a comunidade em geral".

"Os nicaraguenses estão desarmados e também não sabemos nem queremos guerras", disse.

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Para Montenegro, os cidadãos nicaraguenses “não têm a menor chance de resolver a situação por nossos próprios meios, porque a Polícia Nacional, o Exército e os paramilitares têm ordens para reprimir, torturar e matar aqueles que se opõem”

“Nosso único meio de defender-nos tem sido a oração, a oração do terço e a documentação para manter o mundo informado”, disse.

"Grave perigo"

Montenegro disse que "os bispos e padres têm consciência do grave perigo que enfrentam hoje e estão dispostos a oferecer suas vidas para defender a do povo".

“Acho que estão preparados e sem medo, fruto das orações e da força que o Espírito Santo lhes dá”, disse.

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