O bispo de Augsburg, na Alemanha, Dom Bertram Meier afirmou em uma recente entrevista ser favorável à existência de diaconisas na Igreja ao partilhar sua visão de futuro para a pastoral.

Dom Meier, abertamente favorável a esta proposta do Caminho Sinodal da Igreja na Alemanha, afirmou em um episódio do podcast "Augsburger Allgemeine" que vê favoravelmente a criação de um ministério ou serviço diaconal feminino. Segundo o bispo, não se trataria de um ministério ordenado, mas um “serviço diaconal” com um “perfil adequado" às mulheres.

Meier reconheceu que a igreja não tem potestade para ordenar mulheres como sacerdotes e não especificou como seria este “serviço diaconal feminino”, posto que as mulheres tampouco podem receber a ordenação diaconal.

Vasculhando a formação acadêmica do bispo de Augsburg, descobre-se que não é um principiante em teologia. Na verdade, Dom Meier é um teólogo e um eclesiástico com um extenso currículo. É doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, onde especializou-se em eclesiologia. Estudou também na Pontifícia Academia Eclesiástica, a escola de candidatos para o serviço diplomático da Santa Sé, em Roma e esteve ao serviço da Santa Sé como chefe do departamento de língua alemã da Secretaria de Estado do Vaticano entre 1996 e 2001. Nessa época, foi Vice-Reitor do Campo Santo Teutônico e professor de Teologia Dogmática e Teologia Ecumênica na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Em 2000, foi eleito pároco da catedral de Augsburg exercendo diferentes cargos e responsabilidades tanto na sua diocese como na Conferência Episcopal alemã, até ser nomeado bispo pelo Papa Francisco em 2020.

O tema das diaconisas foi tema de uma investigação confiada pelo Papa Francisco a uma comissão de peritos e sobre o qual ele mesmo posicionou-se magistralmente nos numerais 99, 100 e 101 da Exortação "Querida Amazônia", o documento escrito após o Sínodo da Amazônia ocorrido em outubro de 2019 no Vaticano.

Nesta Exortação o Santo Padre ensina sobre as mulheres e o ministério diaconal:

“Na Amazónia, há comunidades que se mantiveram e transmitiram a fé durante longo tempo, mesmo decénios, sem que algum sacerdote passasse por lá. Isto foi possível graças à presença de mulheres fortes e generosas, que batizaram, catequizaram, ensinaram a rezar, foram missionárias, certamente chamadas e impelidas pelo Espírito Santo. Durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja de pé nesses lugares com admirável dedicação e fé ardente. No Sínodo, elas mesmas nos comoveram a todos com o seu testemunho”.

“Isto convida-nos a alargar o horizonte para evitar reduzir a nossa compreensão da Igreja a meras estruturas funcionais. Este reducionismo levar-nos-ia a pensar que só se daria às mulheres um status e uma participação maior na Igreja se lhes fosse concedido acesso à Ordem sacra. Mas, na realidade, este horizonte limitaria as perspectivas, levar-nos-ia a clericalizar as mulheres, diminuiria o grande valor do que elas já deram e subtilmente causaria um empobrecimento da sua contribuição indispensável”.

“Jesus Cristo apresenta-Se como Esposo da comunidade que celebra a Eucaristia, através da figura de um varão que a ela preside como sinal do único Sacerdote”, conclui o Papa Francisco.

Entretanto, no final do Sínodo Amazônico, que foi acompanhado de não pouco tumulto e distorções, o Vaticano anunciou em 8 de abril de 2020 que criaria outra comissão para "investigar" a questão do diaconato feminino na história da Igreja, respondendo a um pedido de alguns participantes do Sínodo.

Na ocasião, o Papa Francisco alertou contra a "tentação do feminismo" com vistas a esta investigação.

Esta, aliás, não é a primeira vez que o Vaticano se debruça sobre o tema das diaconisas.

Um relatório da renomada Comissão Teológica Internacional de 2003, intitulado " O Diaconato: Desenvolvimentos e Perspectivas ", dedicou um capítulo inteiro ao "serviço das diaconisas" e seu papel na igreja primitiva.

No que diz respeito à ordenação de mulheres ao diaconato, os especialistas enfatizaram que as "diaconisas" jamais exerceram um ofício próprio do ministério ordenado. Suas funções se limitavam a acompanhar mulheres enfermas e instruir as neófitas.

Segundo a Comissão Teológica Internacional, “não há um paralelismo rigoroso entre os dois ramos do diaconato. Diáconos foram escolhidos pelo bispo para "cuidar de muitas coisas necessárias", e diaconisas apenas "para o serviço das mulheres".

A questão do diaconato feminino tem sido examinada e discutida no controverso " Caminho Sinodal", um evento que já dura mais de um ano, promovido pelos bispos alemães em sessões de diálogo com participação clérigos, religiosos e leigos, para buscar novas alternativas e soluções para temas pastorais na Alemanha. No entanto, o mesmo tem provado ser palco de propostas que distam da doutrina católica. Entre elas, estão a proposição de um ritual de bênção para uniões homossexuais, o acesso de mulheres a ministérios ordenados e a revisão da regra do celibato sacerdotal.

O Caminho Sinodal Alemão deve se estender até fevereiro de 2022 e os bispos que o promovem querem que suas decisões sejam vinculantes para os prelados de todo o país.

 

Publicado originalmente em CNA Deutsch, traduzido e adaptado por Rafael Tavares. 

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