Dom Francisco Ceballos, bispo de Riohacha, Colômbia, e presidente da Comissão para a Promoção e Defesa da Vida do Episcopado Colombiano, publicou uma mensagem em vídeo para Martha Liria Sepúlveda Campo, de 51 anos, pedindo que desista da eutanásia que decidiu receber neste domingo.

“Como pastor da Igreja Católica, com muito respeito e muito carinho, quero manifestar a minha irmã Martha que não está sozinha, que o Deus da Vida sempre nos acompanha”, disse o bispo na mensagem publicada ontem, 6 de outubro. “Sua tribulação pode encontrar um significado transcendente, se se converter em um chamado ao Amor que cura, ao Amor que renova, ao Amor que perdoa”, acrescentou.

Martha Liria Sepúlveda Campo tem 51 anos, mora em Medellín e sofre de esclerose lateral amiotrófica, conhecida como ELA, doença dos neurônios no cérebro, tronco cerebral e medula espinhal que controlam o movimento dos músculos voluntários, afetando 5 pessoas em cada 100 mil no mundo. Por causa da doença, Martha Liria Sepúlveda perdeu os movimentos das pernas no ano passado.

Em reportagem da rede de TV Caracol de 3 de outubro, Martha disse que está “tranquila” com a decisão de receber a eutanásia. Dizendo-se católica, ela disse: “Considero que tenho muita fé em Deus, mas, repito, Deus não quer me ver sofrer e acho que não quer ver ninguém. Nenhum pai quer ver os seus filhos sofrerem”.

O Catecismo da Igreja Católica ensina, no número 2.277: “Quaisquer que sejam os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inaceitável.” E prossegue: “Assim, uma acção ou uma omissão que, de per si ou na intenção, cause a morte com o fim de suprimir o sofrimento, constitui um assassínio gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito do Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo, em que se pode ter caído de boa fé, não muda a natureza do acto homicida, o qual deve sempre ser condenado e posto de parte.”

Na reportagem, que não fala sobre a doutrina da Igreja sobre eutanásia, informam que a morte de Martha está programada para o domingo, 10 de outubro, às 7h.

Caso persista em sua decisão, Martha Liria Sepúlveda seria a primeira mulher em estado não terminal a morrer após a decisão da Corte Constitucional da Colômbia que permitiu, em julho deste ano, estendeu a eutanásia a pacientes não-terminais.

À TV, Federico Redondo, filho de Martha, de 21 anos, disse que apoia a decisão da mãe e agora está “focado em fazê-la feliz, em fazê-la rir, em alegrá-la um pouco, e em que sua permanência na Terra, o que lhe resta, seja um pouco mais amena”.

“Martha, eu a convido a refletir com calma sobre a sua decisão; espero que seja, se as circunstâncias permitirem, longe do assédio dos meios de comunicação que não duvidaram em pegar a sua dor e a de sua família, para fazer um tipo de propaganda da eutanásia, em um país marcado pela violência”, pediu dom Ceballos em sua mensagem.

O bispo recordou depois as palavras do papa Bento XVI no Ângelus que presidiu no domingo, 1º de fevereiro de 2009: “Efetivamente, a verdadeira resposta não pode consistir em propiciar a morte, por mais ‘dócil’ que seja, mas sim em dar testemunho do amor que ajuda a enfrentar a dor e a agonia de modo humano”.

O bispo colombiano pediu aos fiéis que rezem muito por Martha Liria e por sua família, para que possa reconsiderar a sua decisão.

“Para envolvê-la em sua reflexão, convido carinhosamente todos os católicos a se unirem na oração por nossa irmã Martha, por seu filho, por seus familiares e pelos profissionais que a atendem, para que o Deus da Vida, que é o Amor Supremo, encha-a com sua misericórdia”, exortou o bispo.

Dom Ceballos também convidou Martha Liria para participar da missa na qual rezará por ela no sábado, 9 de outubro.

“Convido também Martha Liria para a missa que irei oferecer no dia 9 de outubro de 2021, às oito horas da manhã (6h de Brasília), na Igreja Catedral Nossa Senhora dos Remédios, em Riohacha, na qual rezaremos por sua vida, para que o Senhor, que assumiu a dor até a morte e uma morte na cruz, dê-lhe a coragem de acompanhá-lo, até a mesma cruz”, disse o bispo.

A missa pode ser acompanhada neste link https://www.facebook.com/PaginaDiocesisDeRiohacha

Em sua mensagem, o bispo de Riohacha explicou que “segundo as convicções cristãs mais profundas, a morte não pode ser a resposta terapêutica para a dor e para o sofrimento em nenhum caso”.

“A morte realizada mediante o suicídio assistido ou a eutanásia não é compatível com a nossa interpretação da dignidade da vida humana”, destacou.  

Se a eutanásia é um suicídio, do ponto de vista do paciente que a escolhe, do ponto de vista do médico que a realiza, é um homicídio.

Em setembro, o bispo auxiliar de Medellín, dom Mauricio Vélez García, publicou um artigo sobre a eutanásia que diza: “A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a eutanásia como aquela 'ação do médico que provoca deliberadamente a morte do paciente’. Essa definição evidencia a intenção do ato médico, ou seja, querer causar voluntariamente a morte do outro”.

“A eutanásia pode ser realizada por ação direta: fornecendo uma injeção ou um produto letal ao paciente, ou por ação indireta: não fornecendo o suporte básico para sua sobrevivência”, disse o bispo.

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“Em ambos os casos, a finalidade de acabar com a vida de quem sofre um mal, se sente incapaz de continuar vivendo ou conta com uma doença em fase terminal, se chama e deveria continuar se chamando de homicídio”, destacou.

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