A arquidiocese de Nova York instruiu seus padres a não conceder isenção de vacinas de covid-19 alegando que isso contradiria o papa. “Não há nenhuma base para que um padre emita uma isenção religiosa da vacina”, disse um memorando de 30 de julho assinado pelo chanceler da arquidiocese, John P. Cahill, a todos os pastores, administradores e vigários paroquiais da arquidiocese. “O papa Francisco deixou bem claro que é moralmente aceitável tomar qualquer uma das vacinas e disse que temos a responsabilidade moral de nos vacinar. O cardeal Dolan disse a mesma coisa”, diz o memorando. O cardeal Tomothy Dolan é o arcebispo de Nova York.

O documento da arquidiocese de Nova York começa reconhecendo “a sincera objeção moral” de alguns indivíduos a receber vacinas contra covid-19 “devido à conexão delas com o aborto”. “Essa preocupação é particularmente aguda em pessoas que são fortemente pró-vida e muito leais ao ensinamento da fé”, diz o documento.

A arquidiocese de Nova York considera que, ao dar uma isenção religiosa à vacina, um padre estaria “agindo em contradição às determinações do papa e participando em um ato que poderia ter sérias consequências para os outros”.

Em entrevista a uma rede de TV em janeiro deste ano, o papa Francisco disse: “Creio que, eticamente, todo mundo tem que se vacinar”. Por outro lado, a Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé havia emitido uma nota em dezembro de 2020 determinando que “vacinação não é, como regra, uma obrigação moral” e “portanto, deve ser voluntária”. A congregação reconheceu que pode haver “razões de consciência” para recusar ser vacinado.

As isenções se tornaram necessárias porque empregadores de Nova York estão exigindo que seus empregados tomem vacina. Algumas instituições católicas declararam apoio a objeção de consciência contra vacinação obrigatória, ou forneceram material para indivíduos com objeção de consciência a receber vacinas de covid-19. O Centro Nacional Católico de Bioética pôs em sua página na internet um formulário para católicos que queiram isenção de obrigatoriedade de vacinar-se.

A Associação Médica Católica, rede americana de médicos e profissionais de saúde católicos, declarou em 28 de julho que se “opõe a vacinações obrigatórias contra covid-19 como condição de emprego sem isenção por razões de consciência ou religiosas”.

A arquidiocese diz em seu documento que “todo indivíduo é livre para exercer seu discernimento sobre tomar a vacina baseado em suas próprias crenças sem buscar a imagem inexata de que se trata de instruções da Igreja.” Padres, no entanto, “não devem ser participantes ativos em ações como essas” ao conceder isenção religiosa, diz o memorando.

“Imagine um estudante que recebe uma isenção religiosa, contrai o vírus e espalha-o pelo campus. Claramente seria um constrangimento para a arquidiocese. Alguns até alegam que poderia levar a responsabilidade jurídica pessoal do padre”, diz o memorando.

Todas as vacinas contra coronavírus no mercado usaram em algum momento de sua produção ou teste células de uma linhagem produzida em laboratório a partir de células de bebês abortados. Das vacinas disponíveis nos EUA, a que é fabricada pela Johnson & Johnson foi produzida com o uso direto dessas linhagens de célula.

A CDF determinou que, como esses abortos estão muito distantes no tempo e não foram feitos com o fim de produzir as vacinas, tomar essas vacinas é “moralmente aceitável”. Mesmo assim, a congregação diz que os católicos devem preferir “vacinas de covid-19 moralmente irreprocháveis” quando disponíveis.

A Conferência de Bispos Católicos dos EUA (USCCB na sigla em inglês) declarou que todas as vacinas aprovadas nos EUA são “moralmente aceitáveis”. “Se se puder escolher entre vacinas igualmente seguras e eficazes, a vacina com menor conexão com oas as células derivadas de aborto devem ser preferidas”, disse a USCCB em março deste ano. “Portanto, se alguém tem a possibilidade de escolher uma vacina, as vacinas da Pfizer ou da Moderna devem ser escolhidas em vez da vacina da Johnson & Johnson”.

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