Dois arcebispos lamentaram que o governo do presidente Francisco Sagasti tenha decidido não permitir a abertura de igrejas para as celebrações da Semana Santa, apesar do protocolo rigoroso adotado nos templos e que foi aprovado pelo Ministério de Saúde.

O Arcebispo de Piura e Tumbes, Dom José Antonio Eguren, publicou uma carta pastoral nesta segunda-feira, 29 de março, na qual disse que a decisão do governo de não permitir a abertura dos templos é “dolorosa para todos nós, porque somos um povo profundamente crente e católico, com fome da presença eucarística de Deus nas nossas vidas”.

“É uma decisão que não conseguimos compreender porque viola o direito fundamental de exercer adequadamente a liberdade religiosa e de culto”, disse ele.

No dia 27 de março, o governo de Sagasti publicou o decreto que estabelece a "imobilização social obrigatória" de quinta-feira, 1º, a domingo, 4 de abril, para evitar a propagação do coronavírus que levou o sistema de saúde do país ao colapso.

O decreto proíbe a abertura de igrejas, mas permite o funcionamento quase normal de lojas, mercados, supermercados, farmácias e restaurantes, com capacidade reduzida dependendo do nível de alerta de cada região.

Dom Eguren disse que aparentemente há por trás de tudo “uma visão ideológica laicista e equivocada do ser humano que subestima a dimensão espiritual da pessoa, como se ela não existisse, fosse irreal, ou não tivesse importância para 90% da população peruana, que se confessa crente”.

Esta atitude se contrapõe “ao artigo 50 de nossa Constituição Política, que afirma ‘que o Estado reconhece a Igreja Católica como um elemento importante na formação histórica, cultural e moral do Peru e lhe dá sua colaboração’”.

O Arcebispo comentou depois que “a Igreja não só ajudou intensamente com suas várias campanhas de oxigenação, medicamentos e alimentos para combater a Covid-19 durante um ano, mas, além disso, através da implementação rigorosa de seus protocolos de biossegurança, higiene e distanciamento físico em seus templos, não foi ocasião de contágios”.

“É um excesso proibir a nível nacional as celebrações litúrgicas dentro dos templos onde os protocolos sanitários que a Igreja Católica estabeleceu com o Ministério de Saúde são cumpridos rigorosamente, aplicados com responsabilidade em um ambiente controlado, com distanciamento e sem muita movimentação”, destacou o Prelado peruano.

O Arcebispo de Arequipa, Dom Javier del Río, no final da Missa do Domingo de Ramos do dia 28 de março disse que “o governo decretou uma estranha imobilização social porque não sabemos o que significa. Nos dias de Páscoa se pode ir ao mercado, aos serviços financeiros, ao transporte público, mas não podemos nos reunir para celebrar” a Semana Santa. “As autoridades não querem”.

O Arcebispo de Arequipa disse que diante desta situação “os bispos do Peru tomaram medidas. Há algumas semanas enviamos uma primeira carta ao presidente devido à proximidade da Páscoa, pedindo-lhe que aumente a capacidade nas igrejas”.

“Infelizmente, a resposta a isso foi: Os templos ficarão fechados”.

Dom Javier del Río disse que “diante desta resposta enviamos outra carta” no dia 17 de março “aprovada por todos os bispos do Peru. O presidente da conferência episcopal, Dom Miguel Cabrejos e o segundo vice-presidente, Dom Robert Prevost, entregaram-na pessoalmente ao presidente (Sagasti) na semana passada e falaram com ele, explicando a importância da Páscoa”.

“Um ou dois dias depois, veio a resposta: Absolutamente não. Os templos não podem ser abertos”, lamentou o Arcebispo de Arequipa.

“Essa é a nossa realidade e dói muito, queridos irmãos. Certamente, para um agnóstico ou para quem não tem fé, a Páscoa não é nada, não nos entendem. Por isso, lembro a importância de saber escolher”, disse o Prelado, referindo-se às próximas eleições presidenciais e parlamentares que ocorrerão no dia 11 de abril.

“Não há apenas um candidato católico, não estou fazendo campanha para um. Há outros candidatos”, afirmou.

Dom Del Río encorajou a “aproveitar este mal que eles querem nos fazer para obter o bem que devemos tirar. O bem é celebrar a Páscoa em família. Aproveitem estes dias para viver o recolhimento”.

“Não podemos ir aos templos, mas podemos nos reunir como família para rezar juntos: pais, filhos e netos. Celebrar a Páscoa em família que é a Igreja doméstica. Se celebrarmos bem e deixarmos Jesus entrar em nossas casas, veremos como o Senhor age. Assim, a família terminará mais unida”, destacou.

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