O arcebispo metropolitano de Piura, dom José Antonio Eguren, fez um apelo ao presidente do Peru, Pedro Castillo, para que limpe seu gabinete ministerial de pessoas ligadas ao grupo guerrilheiro comunista Sendero Luminoso.

Ao celebrar a missa neste 12 de setembro, dom Eguren disse que “os peruanos, nem por um instante, devemos esquecer o que essa ideologia intrinsecamente perversa encarna, bem como o imenso sofrimento que causou na história recente do nosso país, e menos permitir que hoje em dia possa ter o poder total”.

“Por isso, senhor presidente, limpe seu gabinete”, conclamou o arcebispo.

Desde a campanha eleitoral, Pedro Castillo e seu entorno foram acusados de ter vínculos com o grupo terrorista Sendero Luminoso. Uma vez no poder, as críticas aumentaram por causa dos ministros que Castillo escolheu para acompanhá-lo no poder executivo.

Nas últimas semanas, o próprio presidente do Conselho de Ministros, Guido Bellido, foi acusado pela imprensa peruana de aderir ao “pensamento Gonzalo”, forma como a ideologia do Sendero Luminoso era conhecida.

A deputada peruana Patricia Chirinos denunciou que, durante uma conversa, Bellido lhe disse que “só falta que você seja estuprada”.

Existe também uma denúncia policial que acusa Iber Maraví, atual ministro do Trabalho e da Promoção do Emprego, de pertencer ao Sendero Luminoso.

“Também celebramos uma festa mariana muito bonita. Nada menos que a festa do ´Santíssimo` ou ´Dulcíssimo Nome de Maria”, disse dom Dom José Antonio Eguren sobre o dia 12 de setembro. “Além disso, em um dia como hoje, há 29 anos, durante esta festa mariana, foi capturado o líder do Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, que morreu ontem (11 de setembro)”.

“Com ele, caíram os principais membros de seu grupo comunista, terrorista, genocida e assassino, que causou, nos anos 80 e 90, massacres de comunidades inteiras do humilde povo dos nossos Andes e da selva”, disse o arcebispo.

Dom Eguren disse que, “no dia da captura de Guzmán, se cumpria também um ano do início da campanha ´A paz do Peru vale um terço`”.

“Aquela campanha foi concebida e promovida por dom Ricardo Durand Flórez, jesuíta, um grande bispo peruano que, ao longo de toda sua vida e ministério, trabalhou intensamente pelos mais pobres a partir do Evangelho”, afirmou ele.

O arcebispo de Piura disse que, “graças à poderosa intercessão de santa Maria, cujo doce e santo nome se invocava incessantemente naqueles tempos de tensão e temor, começou o fim de uma era de terror, violência, destruição e morte”.

Dom José Antonio lamentou que, “vinte e nove anos depois, vemos com indignação e profunda preocupação que o terrorismo diabólico e demencial do Sendero Luminoso passeia impunemente pelo palácio do governo”.

“Personagens com uma história tenebrosa de corrupção e vinculação a movimentos terroristas ocupam cargos no governo e no congresso”, alertou, dizendo que “também denigrem a dignidade e o respeito devido às mulheres”.

“Por isso, devemos invocar o ´Santíssimo e Doce Nome de Maria`, sobretudo com a recitação diária do santo terço, para que a graça de Deus que emana intensamente de Nossa Mãe Santíssima, dissipe as trevas do perigo e do mal que o Sendero Luminoso-Modavef-Conare representa” para o país.

Esse grupo, denunciou dom Egurem, “utilizando a democracia, na qual [ele] não acredita, ameaça capturar o poder e impor-nos sua ideologia violenta e totalitária para destruir a liberdade e a independência do Peru”.

Abimael Guzmán e seu legado de terror e morte no Peru

Abimael Guzmán encabeçou, na década de 1960, uma facção do Partido Comunista Peruano que tinha como lema “pela trilha luminosa (sendero luminoso, em espanhol) de Mariátegui”, tomando como inspiração o escritor e político peruano José Carlos Mariátegui.

Naquela época, Abimael Guzmán começou a utilizar o codinome de “presidente Gonzalo”, sendo dessa forma reverenciado pelos terroristas do Sendero Luminoso.

No final da década de 70, o Sendero Luminoso iniciou o caminho da violência e do terror, seguindo a ideologia que os terroristas descreviam como “marxismo-leninismo-maoísmo-pensamento Gonzalo”.

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A atuação violenta do Sendero Luminoso se estendeu da serrania sul do Peru a todo o país, com assassinatos de camponeses, líderes de comunidades, profissionais, policiais, militares, políticos e qualquer pessoa que fosse considerada um obstáculo no seu caminho ao poder.

Estima-se que o Sendero Luminoso assassinou mais de 30 mil pessoas.

Foi somente em 12 de setembro de 1992 que a polícia, após um longo trabalho de inteligência, conseguiu capturar Abimael Guzmán em Lima, capital do Peru.

Com a captura do líder terrorista, o Sendero Luminoso iniciou um processo de retirada que os levou a se associar com o narcotráfico em regiões inóspitas do Peru e a criar um braço político chamado Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais (MOVADEF).

Os pequenos grupos ainda existentes do Sendero Luminoso também teriam estendido sua atuação a um grupo radical de professores escolares denominado CONARE, Comitê Nacional de Reorientação do SUTEP (Sindicato Unitário de Trabalhadores na Educação do Peru).

Na campanha eleitoral de 2021, o partido do atual presidente eleito Pedro Castillo, Perú Libre, foi acusado de ter diversos vínculos com o MOVADEF.

Em seu plano de governo, o partido de Castillo afirma que, quando uma pessoa se diz de esquerda sem reconhecer-se marxista, leninista ou mariateguista, o que faz “é simplesmente agir em favor da direita com decoro da mais alta hipocrisia”.

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