Em sua nova coluna semanal, o Arcebispo de Los Angeles (Estados Unidos), Dom José Gómez, refletiu acerca da misericórdia como alternativa à pena de morte, no marco da votação do dia 8 de novembro, na Califórnia, sobre uma proposta para derrogar a pena capital neste estado.

A Medida 62 – como este projeto é conhecido – propõe como pena máxima a cadeia perpétua para os condenados por homicídio. Além disso, estes réus trabalhariam dentro da prisão e 60% de seu salário seria dirigido às famílias das vítimas.

O Prelado indicou que a pena de morte “nega o plano de misericórdia e justiça de Deus. Viola a dignidade da pessoa condenada e a priva da oportunidade de transformar o seu coração e de fazer a reparação dos seus crimes”.

Dom Gómez assinalou que os bispos e ele estão apoiando a iniciativa contra a pena de morte na Conferência Católica da Califórnia e esclareceu que “ao procurar acabar com a pena de morte, não estamos esquecendo das vítimas do crime nem dos seus entes queridos, mas os confiamos ao Pai das misericórdias e rogamos que lhes conceda a cura e a paz”.

O Arcebispo de Los Angeles recordou que “a Igreja Católica sempre ensinou que os governos legítimos têm o direito de impor a pena de morte às pessoas culpados pelos crimes mais graves. Este ensinamento permaneceu durante séculos, tanto nas Escrituras, como nos escritos dos Padres da Igreja e nos ensinamentos dos papas”.

Entretanto – prossegue –, “nos últimos anos, surgiu um crescente consenso de que o uso da pena de morte já não pode ser aceito. Este consenso está no Catecismo da Igreja Católica, nos ensinamentos das conferências episcopais de todo o mundo e nos ensinamentos de João Paulo II, do Papa Bento XVI e atualmente do Papa Francisco”.

Com relação a este assunto, recordou as palavras de São João Paulo II, que em sua visita apostólica aos Estados Unidos em 1999 “disse que a pena de morte era algo ‘cruel e desnecessário’. E é verdade”.

“Mas reconhecemos que matar um criminoso não faz justiça às vítimas. Nosso país tem maneiras muito mais eficazes de aplicar a justiça aos assassinos e de proteger a sociedade dos criminosos violentos”, expressou.

O Prelado indicou que em vez de condená-los à morte, como cristãos, “deveríamos rezar pela sua conversão e favorecer sua reabilitação e restauração definitiva dentro da sociedade”.

Entretanto, “no caso de alguns criminosos, isto nunca será possível. Seus corações estão muito danificados, tornaram-se muito cruéis e endurecidos. Mas sabemos que a conversão e o arrependimento são obra de Deus e não nossa”.

Nesse sentido, o Prelado recordou o exemplo de alguns doutores da Igreja, como Santo Agostinho e Santo Ambrósio, que em seu tempo também pediram às autoridades que mostrem misericórdia nos casos de pena capital.

“E, obviamente, temos o testemunho de Jesus Cristo, que perdoou a mulher surpreendida em adultério, o qual era um crime que, naquele tempo, implicava uma sentença de morte obrigatória”, assinalou.

Dom Gómez esclareceu que “a Igreja não está mudando o seu ensinamento. Os governos sempre terão a justificativa de recorrer à pena de morte se for necessária para cumprir a sua missão de garantir a ordem social”.

“O que a Igreja está pedindo com insistência ao governo é que aplique a discrição, mostrando-se misericordioso como um tributo à santidade da vida humana e à possibilidade de que cada pessoa possa encontrar a redenção e a reabilitação”, assinalou.

“Em uma cultura de morte, acredito que só a misericórdia pode ser o único testemunho crível da santidade da vida e da dignidade da pessoa humana”, expressou o Arcebispo de Los Angeles.

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