A organização humanitária International Christian Concern revelou que 30 cristãos foram presos na Índia acusados de violar a lei de conversão do país.

Em 24 de fevereiro deste ano, a assembleia do estado de Uttar Pradesh aprovou uma lei que pune, de forma inafiançável com até 10 anos de prisão, as conversões religiosas forçadas por meio do matrimônio, engano, coação ou sedução. A lei não se aplica à reconversão ao hinduísmo.

Segundo informação da agência Asia News, um recente relatório da organização humanitária International Christian Concern revelou que, no mês de julho deste ano, a polícia prendeu 30 cristãos acusados de violar a lei. O número representa um significativo aumento dos casos após a aprovação da lei.

Em 18 de julho, nove cristãos foram detidos em Uttar Pradesh. A organização cristã publicou o testemunho de um dos detidos, Sadhu Srinivas Gautham. Ele relatou que participava de uma reunião de oração na cidade de Gangapur, no domingo 18 de julho, quando um grupo de 25 extremistas hindus atacou os fiéis e acusou-os de converter cidadãos hindus ao cristianismo por meio da força.

“Estavam furiosos comigo, era como se quisessem me matar no ato”, disse Gautham. “Depois, a polícia chegou e nos levaram à delegacia”, disse ele.

A organização disse que a repressão não parou com a detenção de Gautham e que os policiais também atacaram os cristãos detidos. Gautham e outros seis cristãos foram acusados de violar a lei contra a conversão religiosa forçada. “Disseram-nos que deveríamos negar a nossa fé cristã e voltar ao hinduísmo”, disse o fiel cristão.

A organização humanitária também informou que, no dia 21 de julho, “um pastor que dirige um orfanato foi detido junto com sua esposa e seu irmão. Os policiais assumiram a custódia das crianças que estavam hospedadas na instituição”, disse a Asia News.

A perseguição às minorias religiosas na Índia, incluindo os cristãos, aumentou desde que o partido nacionalista hindu, Bharatiya Janata, chegou ao poder em 2014. A partir de então, milhares de incidentes ocorrem anualmente, segundo a organização cristã Open Doors, que acusa o partido do governo de permitir que os extremistas ataquem os cristãos impunemente.

Em 20 de abril, a Pontifícia Fundação Ajuda à Igreja Necessitada (ACN) apresentou seu relatório anual sobre a liberdade religiosa. Ele revela que a perseguição religiosa por parte de governos autoritários tem se intensificado por causa da apologia a favor de supremacias étnicas e religiosas. Países asiáticos de maioria hinduísta e budista são os lugares onde se registram mais casos. Eles exercem pressão sobre as minorias e reduzem seus membros a uma cidadania de segunda classe. O caso mais evidente é o da Índia, mas políticas semelhantes são praticadas no Nepal, Sri Lanka e Birmânia.

A dois dias da aprovação da lei, o bispo da diocese de Lucknow, na Índia, dom Gerald Mathias disse à Asia News que “a lei contra a conversão vai contra o direito fundamental de professar, praticar e propagar a religião e a própria fé”. Segundo ele, “atenta contra a liberdade fundamental de uma pessoa de escolher e praticar uma religião segundo a sua escolha”, a qual “é um direito dado por Deus, baseado na lei natural e garantido na Constituição” da Índia.

Também qualificou de “absurda” a norma que obriga as pessoas a “obterem uma permissão do DM [magistrado do distrito] se quiserem converter-se a outra religião”. Ele lamentou que a lei “faz com que os casamentos entre [pessoas de diferentes] religiões sejam quase impossíveis, privando assim os adultos da liberdade de escolher o seu casal”.

O prelado observou que a medida não se aplica para o hinduísmo, embora sejam relatados muitos casos de conversões forçadas a essa religião no país. “Habilmente, um ´Ghar wapasi´ [voltar para casa] não é considerado uma conversão forçada, quando, na verdade, é nele que a força, a intimidação e as ameaças” são usadas “para a reconversão”, disse o bispo.

Ele também frisou que “a lei pode facilmente ser mal utilizada” ou usada de forma “abusiva” e lamentou que já “existem vários casos desse tipo”, como “a falsa acusação de uma diretora, Sr Bhagya SD, da Sacred Heart Convent School, uma escola católica em Madhya Pradesh”.

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