O ex-frade brasileiro, Leonardo Boff, que depois da censura anos atrás de seus textos pela Santa Sé abandonou o ministério sacerdotal e a Ordem Franciscana para dedicar-se, entre outros trabalhos, a escrever livros de ecologia e cozinha, assinalou que a censura vaticana às obras de seu colega, o jesuíta Jon Sobrino, marcará um retorno da teologia marxista da libertação na América Latina.

Boff, que fora junto a Sobrino, Gustavo Gutiérrez e Juan Luis Segundo um dos mais destacados expoentes desta vertente teológica que afetou a vida da Igreja na América Latina em décadas passadas, reagiu duramente contra a decisão da Congregação para a Doutrina da Fé de censurar algumas obras do teólogo de origem basca que reside em El Salvador.

Em declarações à agência AFP, Boff assinalou que Sobrino "é um dos teólogos mais sérios, mais evangélicos, diria que é um dos teólogos pessoalmente mais Santos que temos. Por isso, a condenação em seu contrário tem uma gravidade especial".

"Acredito que uma condenação assim defrauda muito os pobres, porque Jon Sobrino foi sempre um aliado dos pobres. E a Igreja pode decepcionar os ricos, mas não pode trair os pobres", disse Boff, quem se encontra na capital costa-riquenha para dar a aula inaugural do curso letivo na estadual Universidade da Costa Rica.

Boff assegurou que "a teologia da libertação segue viva na América Latina, Ásia e África, embora a polêmica em torno de seus postulados tenha diminuído nos últimos tempos". "Os teólogos da libertação seguiram trabalhando", adicionou, advertindo que a censura às obras de Sobrino "pode alentar os ânimos daqueles cristãos" seguidores da teologia da libertação.

O outrora franciscano também recordou que a decisão da Santa Sé, que tem a aprovação do Papa Bento XVI, ocorre a poucos meses da primeira visita do Pontífice a América Latina para inaugurar a V Assembléia Geral do Episcopado Latino-americano, que se realizará no Brasil de 13 a 31 de maio.