Durante a apresentação, hoje ao meio-dia, da Exortação Apostólica Pós Sinodal de Bento XVI "Sacramentum Caritatis", sobre a Eucaristia fonte e ápice da vida e da missão da Igreja, o Patriarca de Veneza e relator geral da 11º Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Cardeal Angelo Scola, explicou a estrutura geral, conteúdos fundamentais e novidades doutrinais do novo documento pontifício.

O Cardeal assinalou na Sala Stampa vaticana que a Exortação se apóia "no elo inseparável de três aspectos: mistério eucarístico, ação litúrgica e novo culto espiritual" e "está estruturada em três partes, cada uma das quais aprofunda uma das três dimensões da Eucaristia", quer dizer: " Eucaristia, mistério acreditado; Eucaristia, mistério celebrado e Eucaristia, mistério vivido".

"O ensinamento do Santo Padre –acrescentou– ilustra com claridade como a ação litúrgica (mistério celebrado) é aquela ação específica que faz possível a conformação da vida cristã (mistério vivido, novo culto) por parte da fé (mistério acreditado)". O Papa, "com uma segunda novidade doutrinal de grande importância", ressalta além disso "a relevância da 'arte de celebrar' para uma participação ativa, plena e frutuosa".

"Eucaristia, mistério acreditado"

Na primeira parte, "Eucaristia, mistério acreditado ", fala-se do "Dom da Trindade", e "ilustra-se o mistério da Eucaristia a partir de sua origem trinitária, que assegura seu caráter permanente de dom".

Sobre os laços entre "Instituição cristológica e obra do Espírito", o Santo Padre aborda "a instituição da Eucaristia em relação com a ceia pascal judeu" em um "passagem decisiva para iluminar o 'novum' radical que Jesus contribui à antiga ceia ritual".

"Eucaristia e Igreja", o segundo afastado, destaca que "a Eucaristia princípio causal da Igreja: "confessamos, em cada celebração, o primado do dom de Cristo; o influxo causal da Eucaristia, que está na origem da Igreja, revela em última análise a precedência não só cronológica mas também ontológica do amor de Jesus relativamente ao nosso: será, por toda a eternidade, Aquele que nos ama primeiro" . Bento XVI, enquanto afirma a relação cíclica entre a Eucaristia que edifica a Igreja e a Igreja mesma que celebra a Eucaristia, cumpre uma significativa opção magisterial pelo primado da casualidade eucarística sobre a eclesiástica.

O Papa aborda a relação entre a Eucaristia e outros sacramentos, afirmando que esta "leva a iniciação cristã à plenitude e é como o centro e fim de toda a vida sacramental". Respeito ao sacramento da reconciliação, o Papa insiste na exigência de "uma recuperação da pedagogia da conversão que nasce da Eucaristia".

Ao tratar a relação entre Eucaristia e Ordem, o Santo Padre reafirma o caráter "insubstituível do sacerdócio ministerial para a celebração da Santa Missa" e, além disso, "sublinha e aprofunda a relação entre ordem sacerdotal e celibato: "Respeitando a praxe e as diferentes tradições orientais –escreve– é necessário reafirmar o sentido profundo do celibato sacerdotal, considerado com justiça uma riqueza inestimável".

Em "Eucaristia e Matrimônio", o Santo Padre sustenta que , sacramento esponsal por excelência, "corrobora de forma inesgotável a unidade e o amor indissolúveis de todo matrimônio cristão".

Segundo o Arcebispo, o texto contém "importantes sugestões pastorais" em relação aos católicos divorciados que tornaram a casar. A Exortação, depois de reafirmar que "apesar de sua situação seguem pertencendo à Igreja, que segue com especial atenção", enumera nove modalidades de participação na vida da comunidade destes fiéis que, embora não recebam a Comunhão, podem adotar um estilo de vida cristão".

"Fala-se também dos que tendo celebrado validamente o matrimônio, por condições objetivas não podem dissolver os novos laços contraídos, propondo, com uma adequada ajuda pastoral, que se comprometam "a viver sua relação segundo as exigências da lei de Deus, como amigos, como irmão e irmã", quer dizer, transformando sua relação em amizade fraternal".

"Eucaristia, mistério celebrado"

O Cardeal se referiu à segunda parte da Exortação, "Eucaristia, mistério celebrado", em que se ilustra, "o desenvolvimento da ação litúrgica na celebração, indicando os elementos que merecem uma maior reflexão e oferecendo algumas sugestões pastorais de grande importância".

O Papa oferece umas indicações sobre a riqueza dos sinais litúrgicos (silêncio, paramentos, gestos: estar de pé, de joelhos, etc.) e a arte ao serviço da celebração. Neste contexto se recorda que o sacrário deve colocar-se em um lugar visível na Igreja, graças também à lamparina acesa.

Para favorecer uma participação ativa mais adequada no rito sagrado, o Santo Padre propõe alguns recursos pastorais e, deste modo propõe "um recurso mais habitual à língua latina, sobre tudo nas grandes celebrações internacionais, sem descuidar o peso do canto gregoriano".

"O Papa –continuou– recorda a unidade intrínseca do rito da Santa Missa", que deve se expressar também no modo com que se cuida a liturgia da Palavra". Bento XVI faz insistência no "notável valor educativo" da apresentação dos dons, o intercâmbio da paz e o "Ite missa est". "O Santo Padre confiou o estudo de possíveis mudanças sobre estes dois últimos pontos aos dicastérios competentes".

"Eucaristia, mistério vivido"

Na terceira e última parte, o Cardeal, indicou que "mostra-se a capacidade do mistério acreditado e celebrado de constituir o horizonte último e definitivo da existência cristã".

Na Exortação "destaca-se com força que o dom da Eucaristia é para o homem, responde às esperanças do homem. Os cristãos encontram na celebração eucarística ao Deus vivo e verdadeiro capaz de salvar sua vida. E esta salvação tem como interlocutora à liberdade humana".

Mais em

"A relevância antropológica da Eucaristia emerge com toda sua força no culto novo característico do cristão. Sobre a base da ação eucarística, cada circunstância da existência se converte, por assim dizer, em 'sacramental'", acrescentou.

Depois de recordar que "cada fiel está chamado a uma profunda transformação da própria vida", o Patriarca de Veneza destacou a importância da "responsabilidade dos cristãos que desempenham cargos públicos e políticos". Concretamente, os políticos e legisladores católicos devem "apresentar e apoiar –escreve o Santo Padre– leis inspiradas nos valores fundamentados na natureza humana. Tem além disso uma relação objetiva com a Eucaristia".

Do mesmo modo, o documento "recomenda vivamente a todos, mas em particular aos fiéis laicos, "cultivar o desejo de que a Eucaristia influa cada vez mais profundamente em sua vida cotidiana, convertendo-os em testemunhas visíveis em seu próprio ambiente de trabalho e em toda a sociedade".

O Cardeal afirmou que o texto não duvida em afirmar que "a Eucaristia impulsiona todo o que acredita a fazer-se 'pão partido' para outros, e portanto, a trabalhar por um mundo mais justo e fraterno".

Do mesmo modo, o Cardeal manifestou a convicção de que "na autenticidade da fé e do culto eucarístico se acha o segredo de um renascimento da vida cristã capaz de regenerar o Povo de Deus. No mistério da Eucaristia se acessa a realidade de Deus que é amor".

Por último, o Cardeal Scola destacou que no início e no final do documento, Bento XVI sublinha a relação entre a Eucaristia e a Virgem: "Em Maria Santíssima vemos perfeitamente realizado o modo sacramental com que Deus, em sua iniciativa salvadora, aproxima-se e implica à criatura humana. Dela temos que aprender a nos converter em pessoas eucarísticas e eclesiásticas".

Leia a Exortação Apostólica na integra em: http://www.acidigital.com/Documentos/eucaristia07.htm