Em um emotivo artigo difundido na Internet, o líder do Movimento Cristão Libertação, Oswaldo Payá, fez um chamado aos cubanos dentro e fora da Ilha a sobrepor-se à dor e desejos de vingança para cercar um diálogo que permita reconciliar o país.

Com o título "Um qüinqüênio cinza ou cinco décadas negras?" , Payá evocou seus próprios anos de cativeiro na Ilha de Pinos durante sua juventude. "Não as lembranças com ódio", assinalou apesar de ter sido obrigado "a trabalhar dez horas diárias como animais, vestidos com verdadeiros trapos e dormindo e nos transportando como gado".

Payá recordou que nos acampamentos de castigo, milhares de jovens " viram suas vidas destruídas para sempre. Confinavam religiosos, filhos emigrantes aos que não permitiam sair do país por ter idade militar, filhos de presos políticos, homossexuais, a qualquer que o Comitê de Defesa da Revolução assinalasse como desviado e também os que gostavam de Rock, dos Beatles e dos Rolling Stones".

"Milhares de jovens ou não jovens, foram expulsos das universidades e dos trabalhos, encarcerados, só por expressar-se livremente ou por não expressar incondicionalidade", evocou. Segundo Payá, a injustiça não começa "quando alguém decide ficar no estrangeiro e dizer o que não disse até esse momento. Compreendo a reação de muitos artistas e intelectuais ante a apresentação em televisão de alguém que causou dano ou que transgrediu seus direitos durante uma etapa, também em nome e com o poder da revolução. Apoio o direito ao protesto e a reivindicação dos artistas e intelectuais afetados. Muitos cubanos, milhões, vêem e escutam todos os dias em televisão coisas que machucam às quais queriam responder, mas não têm voz e os artistas e intelectuais que a têm não falam por eles".

"É um direito de todos os cubanos que se abra a memória histórica, mas há um direito maior, que inclui o anterior e é que se abra um novo horizonte de liberdade e direito para todos. Não em um ambiente de ajuste de contas, mas sim de reconciliação e libertação. Por esses ideais estão presos, os prisioneiros políticos pacíficos cubanos", adicionou.

A partir de sua própria experiência de dor, Payá fez um chamado "aos intelectuais, jornalistas e artistas, vivam dentro e fora de Cuba, de todas as posições e situações. Um chamado à humildade e à opção pelas pessoas, pelo povo. Mais que reivindicar a justiça para um grupo de pessoas por uma etapa cinza que sofreram, esta opção pelo povo, pela solidariedade, significa defender os direitos à liberdade de consciência e expressão para todos os cubanos e promover o dialogo nacional que nossa sociedade necessita".

"Cuba necessita do dialogo entre pessoas livres para abrir esse novo horizonte. Um diálogo sem fronteiras nem exclusões. Possivelmente não nos ponhamos de acordo sobre o passado, mas temos a responsabilidade de nos pôr de acordo sobre o futuro, de semear a esperança. Podemos construir nesse espírito o novo tempo para a nova geração, que tem direito, com cabelos longos, se voltarem a usar, ou raspados, se o preferirem, a fazer seu próprio tempo, sua própria vida, na liberdade e a fraternidade", concluiu.