O Reitor da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), Pe. Luis Ugalde, afirmou que "o maior pregador laico neste Estado é seu presidente", ao comentar o mau uso que faz o mandatário venezuelano do Cristianismo e da figura de Jesus Cristo em sua tentativa por "legitimar-se".

Em entrevista concedida ao jornal espanhol ABC, o Pe. Ugalde explicou que Chávez "sempre expõe tudo em termos de bons e maus, ou está comigo ou está com o Bush. Usa o cristianismo (e o socialismo) para defender valores humanos, como a solidariedade, a compaixão, a justiça, e legitimar-se mediante algumas crenças enraizadas em um povo católico".

Ao referir-se ao "socialismo do século XXI" do qual fala com freqüência o mandatário venezuelano, o sacerdote jesuíta afirma que "estamos em uma nova etapa, e necessitamos palavras novas, como socialismo ou cristianismo. Mas o que ele procura é fazer irreversível o processo: controle político, militar, policial, dos meios de comunicação..., e permitir à empresa privada que exista, sempre que não levante a voz".

"Chávez pensa que produzir para ganhar, e não para servir, é ser um capitalista explorador; acredita que a vacina contra o egoísmo na produção é o socialismo. Mas, a estas alturas, já deveria saber que todo mundo trabalha para ganhar, e que em questão de valores não há vacina", prosseguiu.

Projeto educativo laicista

O Reitor da UCAB também se referiu ao tema da educação no país e destacou que "na intenção de fundo, na lógica do Governo, está uma educação à cubana, onde somente o Estado tem a atribuição de educar".

"Isso não quer dizer que todos os membros do Governo estejam de acordo, porque eles têm seus filhos na educação privada; e muitos, na educação religiosa. Pois, a pouco que analisam, dão-se conta de que o modelo cubano -embora seja admirável a ele sentimentalmente- não tem muito futuro", acrescentou o presbítero.

O Pe. Ugalde também denunciou como o Presidente Chávez "rechaçou furioso" uma lei de educação que a Assembléia tinha formulado e que era "bastante razoável, em que não se discutia o papel do Estado, mas sim a idéia de formar os professores para a 'doutrinação'".

Seguidamente explicou que "a educação não melhorou nada nestes oito anos; as escolas bolivarianas, que em princípio eram uma boa idéia, é um fracasso. Por isso, tirar agora uma lei que obrigue a todo mundo a levar a seus filhos a uma má escola oficial, não é atrativo nem para os setores mais pobres".

"O Governo não pode suprimir de um dia para outro a educação privada: seria uma bomba cujo custo político pode ser retirado das mãos. E menos, depois das reações às últimas medidas contra a inflação e o desabastecimento, com as quais o Governo jogou por terra alguns de seus maiores lucros", assegurou o sacerdote espanhol.

Finalmente e após afirmar que "hoje ninguém está disposto a dar a vida" por alternativas como a cubana, o Pe. Ugalde disse que "o povo se aponta na Revolução porque aí há muito dinheiro. Essa é a tragédia do Governo, assediado pela ineficiência e a corrupção. Por isso confrontou a reforma com a missão «Moral e Luzes» (as duas primeiras necessidades da Venezuela, segundo Bolívar), nem tanto para as escolas para formar entre a classe operária a militantes no 'socialismo do século XXI'".