O jornalista italiano Vittorio Messori propôs aos católicos criarem uma "Liga Ante Calunia" para desbaratar a "manipulação ideológica" que certos setores fazem da história contra a Igreja.

"Os católicos, reduzidos já a uma minoria (ao menos no plano cultural), deveriam seguir o exemplo de outra minoria, a judia, e criar também uma ‘Liga Ante Calunia, que intervenha nos meios para restabelecer as verdades históricas distorcidas, sem pretender, por outro lado, nenhuma censura nem privilégio, mas sim apenas a possibilidade de retificações apoiadas em dados exatos e documentos autênticos", afirma o vaticanista em sua coluna reproduzida pelo jornal espanhol La Razón.

Messori põe como exemplo o caso dos cátaros (heresia também conhecida como dos albigenses), que goza de protagonismo no Código Da Vinci e similares, esquecendo que seus membros "eram seguidores de uma obscura, feroz e sanguinária seita de origem asiática".

Em sua coluna, o jornalista italiano comenta o que para alguns é o episódio mais recordado com relação a este grupo: "o assédio e a tomada de Béziers em julho de 1209", aonde teria ocorrido a massacre de 40 mil pessoas, coisa que nunca aconteceu.

Esta suposta matança teria originado da resposta que Dom Arnaldo Amalrico, abade de Citeaux e "assistente espiritual dos cruzados", deu aos barões que perguntavam a ele o que fazer com a cidade conquistada, "Matem todos. Deus reconhecerá os seus!", teria ordenado Amalrico.

"Pois bem: dá-se a casualidade de que possuímos muitas crônicas contemporâneas da queda de Béziers, mas em nenhuma delas há notícia daquele ‘matem todos’", adverte Messori.

O jornalista assinala que mais de sessenta anos depois, "um monge, Cesáreo de Heisterbach, que vivia em uma abadia do Norte da Alemanha da qual nunca se saiu, escreveu um pasticho fantasioso conhecido como ‘Dialogus Miracolorum’", onde inventou "o milagre" de que "enquanto os cruzados faziam estragos em Béziers (...) Deus tinha ‘reconhecido os seus’, permitindo àqueles que não eram cátaros escapar da matança".

Na realidade, relata Messori, é que os católicos não desejavam uma matança, por isso enviaram embaixadores à cidade para que se rendesse. "Pelo resto, depois de um longo período de tolerância, o Papa Inocêncio III se decidiu à guerra só quando os cátaros, no ano anterior, assassinaram seu enviado que propunha um acordo e uma paz. Tinham falhado também as tentativas pacíficas de grandes Santos como Bernardo e Domingo", assinala o vaticanista italiano.

O jornalista recorda que "os cátaros replicaram com a violência de seu fanatismo à oferta de diálogo e negociação", tentando um ataque surpresa, mas se encontraram com os Ribauds, que eram companhias de mercenários e aventureiros que os perseguiram até a cidade. "Quando os comandantes católicos foram com as tropas regulares, o massacre já havia começado e não houve modo de frear aqueles ‘soldados' enfurecidos", precisou Messori.

"Vinte, possivelmente quarenta mil mortos?", pergunta o vaticanista e afirma em seguida que "houve uma matança, impensável para a mentalidade de então e explicável com a exasperação provocada pela crueldade dos cátaros, que não só em Béziers, mas também há anos perseguiam os católicos".

Por isso, adverte que "só um contador de estórias como Dan Brown pode falar com ignorância de uma ‘mansidão albigense’". Em sua coluna, Messori recorda que o episódio principal ocorreu na igreja da Madalena, onde não cabiam mais de mil pessoas; e que Béziers não ficou despovoada e derrocada, porque houve posteriores resistências e foi necessário um novo ataque.

"Uma Liga Ante Calunia não só seria desejável e necessária para os católicos, mas também para dar lugar a um julgamento equânime e realista sobre o passado da Europa forjada durante tantos séculos também pela Igreja", finaliza Messori.

A íntegra está em http://www.larazon.es/noticias/noti_fyr16013.htm