As autoridades educativas decidiram interromper a distribuição das polêmicas cartilhas de educação sexual, questionados por diversos setores devido a sua metodologia não seria adequada para crianças de educação inicial e básica.

O secretário de Educação, Rafael Pinheiral Ponce, anunciou a formação de uma comissão mista para que avalie o conteúdo dos guias antes de que sejam distribuídos nos centros escolares.

A polêmica começou quando a deputada Martha Lorena de Casco apresentou uma parte dos guias para alunos da pré-escola –que têm entre 4 e 5 anos de idade– que mostra desenhos de duas pessoas nuas e propõe organizar as crianças "em semicírculos, para explorar, identificar as partes de seu corpo, especialmente os genitais e observar no que são iguais e no que são diferentes".

A parlamentar considerou além disso que os guias mostram "o sexo como uma brincadeira, na qual tudo é permitido, exceto não usar a camisinha". Casco pediu criar um conselho consultivo em educação sexual que envolva os pais de família e tenha a responsabilidade de criar oficinas, políticas de educação sexual e a supervisão dos materiais e conteúdos a implementar.

Segundo o Padre Jesus Mora, porta-voz da Arquidiocese de Tegucigalpa, "estes guias ensinam às crianças que a única diferença entre uma menina de um menino são seus genitais, além disso, fala de penetração anal, vaginal e oral a crianças do jardim de infância e o que se está criando é distorção da sexualidade porque a apresentam como uma brincadeira".

Em declarações ao jornal La Prensa, o sacerdote esclareceu que se o que se deseja é promover o combate à AIDS, deve haver um impulso de uma educação sexual apoiada na responsabilidade e em princípios morais.

"Este material é muito parcial, não se leva em conta aspectos de respeito à pessoa, unicamente enfatizam que a criança possa dizer que preferência sexual tem", disse Mora.

Temas íntimos

Para o Carlos Beltramo, especialista em educação sexual da Aliança Latino-americana para a Família (ALAFA), estas cartilhas "não respeitam a diferente sensibilidade que possa ter cada criança ao enfrentar esta visão dos temas genitais. A genitalidade pertence à intimidade e tem que ser revelada na intimidade, não em público".

Segundo Beltramo, "a família tem os recursos afetivos necessários para lhe dar suporte ao descobrimento das realidades da sexualidade e o amor, até as mais delicadas. Se um pai considerar que seu filho pode compreender as diferenças pode explicar-lhe mas não a um nível público onde há outros elementos básicos em jogo como a não consideração do diferente desenvolvimento evolutivo da mentalidade da criança; e o derrubar os elementos constitutivos do pudor".

"Quando uma criança percebe que os genitais são expostos de maneira pública embora seja em um desenho, pode interiorizar que não há nada de mau nessa exposição. Não nos opomos a que as crianças conheçam a anatomia íntima mas não é algo que deva fazer-se em grupo", explicou.

ALAFA trabalhou durante o governo de Ricardo Maduro na elaboração de um plano de educação sexual em valores, que o governo anterior nem este finalmente adotaram. "Surpreendeu-nos que tenham evitado o plano trabalhado e em troca aceitem um material com uma clara agenda ideológica", indicou.

As polêmicas cartilhar foram financiadas pelo Fundo Global, Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).