VERONA, 19 de out de 2006 às 12:31
No discurso que pronunciou hoje em Verona, o Papa Bento XVI precisou que a caridade cristã que a Igreja oferece deve estar livre de ideologias ou simpatias políticas.O Pontífice lembrou que "a Igreja na Itália tem uma grande tradição de proximidade, ajuda e solidariedade com os necessitados, doentes e marginalizados".
Neste sentido, disse que era "muito importante que todos estes testemunhos de caridade se mantenham livres de insinuações ideológicas e de simpatias políticas. A ação prática é importante, mas o que mais conta é nossa participação pessoal nas necessidades e nos sofrimentos do próximo".
Previamente, o Papa assegurou que os católicos "estão chamados a ser homens e mulheres novos para ser testemunhas do Ressuscitado e dessa forma portadores da alegria e a esperança cristã no mundo e em concreto da comunidade onde vivemos".
Referindo-se à situação italiana, o Santo Padre afirmou que o país "se apresenta como um terreno profundamente necessitado e ao mesmo tempo favorável para esse testemunho".
Exclusão de Deus
"A Itália participa da cultura predominante no Ocidente segundo a qual seria racionalmente válido só o que se pode experimentar e calcular, enquanto no âmbito prático a liberdade individual se erige como um valor fundamental ao qual se devem sujeitar todos outros. Deus se exclui assim da cultura e a vida pública e a fé nele se faz mais difícil porque vivemos em um mundo que se apresenta como nossa obra, no que Deus não aparece diretamente e se considera supérfluo e alheio", advertiu.
Neste contexto, afirmou que "a ética se encerra nas fronteiras do relativismo e o utilitarismo com a exclusão de qualquer princípio moral que seja válido e vinculante de por si. Não é difícil ver como este tipo de cultura represente um talho radical com as tradições morais e religiosas da humanidade e não possa estabelecer um verdadeiro diálogo com as demais culturas, nas quais a dimensão religiosa está fortemente presente".
Proteger raízes cristãs
Apesar disso, afirmou que na Itália "a Igreja é uma realidade muito viva, que conserva uma presença capilar entre a gente" e "as tradições cristãs continuam enraizadas". Não obstante, "adverte-se a gravidade do perigo de separar-se das raízes cristãs da civilização, inclusive entre pessoas que não praticam nossa fé".
O Papa esclareceu que "nossa atitude não terá que ser a de um renunciatário sobre nós mesmos", mas a de "manter vivo e se for possível incrementar nosso dinamismo, a de abrir-se com confiança a relações novas, sem deixar de lado energia alguma que possa contribuir para o crescimento cultural e moral da Itália".
"O cristianismo –destacou o Papa– está aberto a tudo que é justo, verdadeiro e puro nas culturas e as civilizações. Os discípulos de Cristo reconhecem portanto e acolhem de bom grado os valores autênticos da cultura contemporânea, como os conhecimentos científicos e o desenvolvimento tecnológico, os direitos humanos, a liberdade religiosa e a democracia". Mas, conscientes da fragilidade humana, não se esquecem das tensões interiores e as contradições de nossa época. Por isso, a obra de evangelização não é uma simples adaptação às culturas, mas também e sempre uma purificação que favorece a maturidade e o saneamento".
O Pontífice dirigiu estas palavras aos participantes do IV Congresso Eclesial Italiano, cujo lema é "Testemunhas de Jesus ressuscitado, esperança do mundo".