O Bispo de Huesca e de Jaca, Dom Jesus Sanz, manifestou que "com o setor mais beligerante do islã extremista não se pode dialogar –como com nenhum grupo terrorista–, e menos ainda pactuar", em sua carta desta semana em referência à polêmica surgida após do discurso do Papa Bento XVI em Regensburgo.

O Prelado argumenta que "há alianças impossíveis de civilizações heterogêneas, nas que no melhor dos casos só cabe a paridade do mútuo respeito, e mais nada". Em sua opinião, o Santo Padre não pediu desculpas pelas palavras que pronunciou em Regensburgo, "porque nem quis ofender nem constituíram uma ofensa".

Dom Sanz explica neste sentido que o Papa "não correu a pedir desculpas como se estivéssemos complexados, assim como tampouco jogou a provocar com arrogância". Simplesmente, continua, "convidou-nos a voar com essas duas asas, a fé e a razão; voar por cima dos nossos enganos passados ou das nossas mesquinharias presentes".

Porque "só na altura de miras, podemos nos respeitar e até reconhecer o que nos une parcialmente para construir daí o que o único Deus quis confiar a nossas mãos neste trecho da história", comenta o bispo.

A missiva do Prelado, titulada “Duas asas para voar (fé e razão)” explica como "o Papa somente disse o que qualquer pessoa de bem, sensata, amante da liberdade e a verdade pode dizer: que a religião e a violência não podem ir unidas, mas sim a religião e a razão" porque "a fé e a razão são como as duas asas com as quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade", como disse João Paulo II na Encíclica Fides et Ratio, recorda.

Dom Sanz insiste em que "a fé e a razão não são contrárias, senão complementares" embora "quando a fé se faz crédula convertendo-se em irracional, ou quando a razão se enche de soberba fechando-se ao mistério, então pode dar pé a qualquer forma de violência em nome de uma falsa fé, fazendo nada menos que de Deus o cúmplice para todo tipo de barbárie, ou fazendo de nossa ideologia da raça ou de nação, o pretexto para qualquer totalitarismo político, econômico ou cultural. Exemplos sobram", assinala.

O Prelado considera "incompreensível" que diante "da altura moral do Santo Padre, sua profundidade intelectual e seu compromisso com a paz e a verdade, com Deus e com a humanidade", tenha acontecido uma "morna ou inclusive torpe reação que pudemos comprovar em tantos homens da política ou da cultura ocidental".

"Parece que fosse uma batalha privada do Papa, ou dos cristãos –comenta o Bispo–, até o ponto de ter dado conselhos ao Pontífice, sem deixar de acrescentar com irrecusável cinismo alguma citação evangélica, quando não inclusive uma 'bronca' retórica pelos defensores do nada".

"Não é tão simples compreender a eqüidistância malabarista, e menos ainda a bronca hostil que deu-se ao Santo Padre por parte de quem costuma liderar e até financiar de mil modos, as causas mais pitorescas e oportunistas", conclui o Prelado.