Diversas autoridades eclesiais e a União Européia expressaram nas últimas horas seu unânime apoio ao Papa Bento XVI pela tergiversação do discurso que pronunciou na Universidade de Ratisbona e seu disconformidade com a onda de ameaças e reações violentas em diversos âmbitos do mundo muçulmano.

Na Espanha, o Núncio Apostólico, Dom Manuel Monteiro, qualificou o discurso do Pontífice como um convite ao diálogo respeitoso, "franco e sincero" entre as culturas e as religiões.

Em uma entrevista coletiva convocada com caráter de urgência na sede da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), Dom Monteiro explicou que ao ser o discurso do Santo Padre uma tese acadêmica, contém uma série de citações que logo são refutadas por ele mesmo para chegar à conclusão: quem atua contra a razão o faz também contra a essência de Deus.

O Papa, acrescentou o Núncio, expressou reiteradamente sua avaliação pela religião muçulmana e deseja que Cristianismo e Islã, duas grandes religiões monoteístas, continuem dando testemunho da existência de Deus e que "juntos colaboremos nos valores da justiça, a misericórdia e o bem comum de todos os povos com respeito mútuo".

Itália e Rússia

Por sua vez, o Vigário do Papa para a diocese de Roma e Presidente da Conferência Episcopal da Itália (CEI), Cardeal Camillo Ruini, lamentou hoje a má interpretação que se fez do discurso de Bento XVI e expressou o apoio do episcopado italiano ao Pontífice.

"Como bispos italianos expressamos nosso total apoio e solidariedade com o Papa e intensificamos nossas preces por ele, pela Igreja, pela liberdade religiosa, pelo diálogo e a amizade entre as religiões e os povos", declarou o Cardeal em um discurso aos membros da CEI.

"Por outra vez, lamentamos essas interpretações –que tampouco estão ausentes em nosso país– que atribuem ao Santo Padre responsabilidades que de maneira nenhuma tem, enganos que não cometeu e apontam a danificar sua pessoa e seu ministério", assinalou o Cardeal.

Na Rússia as reações dos bispos não se fizeram esperar. O Presidente da Conferência Episcopal Católica Russa, Dom Joseph Wert, afirmou que os muçulmanos tergiversaram o discurso do Santo Padre.

"Quem quer utilizar qualquer palavra para manifestar-se contra o Papa, a Igreja Católica e o Cristianismo, sempre pode encontrar uma desculpa para isso", disse Dom Wert, chamado pela agência Interfax.

"Estou seguro de que nenhum deles leu o discurso, por isso não podem expressar uma opinião correta", acrescentou. Segundo Dom Wert, "quem tem boa vontade, escuta com franqueza as palavras do Santo Padre, busca o positivo e o encontra".

Comissão Européia: Reações inaceitáveis

A Comissão Européia classificou de "inaceitáveis" as reações "desproporcionadas e que rejeitam a liberdade de expressão" como as produzidas depois das palavras do Santo Padre sobre o Islã.

"A liberdade de expressão é uma pedra angular dos valores da UE, como o é o respeito a todas as religiões, cristianismo, islã, judaísmo ou laicismo", afirmou nesta segunda-feira em uma coletiva de imprensa o porta-voz da Comissão, Johannes Laitenberger.

Segundo o porta-voz, é preciso considerar o discurso do Papa "em seu conjunto" e não reagir a "frases fora de contexto e menos ainda a frases tiradas deliberadamente de contexto".

América Latina

Na América Latina, o Arcebispo de San Salvador, Dom Fernando Saenz Lacalle, qualificou neste domingo de "desproporcionadas" as ações de violência contra Igrejas cristãs no Oriente Médio durante o fim de semana.

"É uma reação que não tem nenhuma base. Analisando o discurso do Papa, é uma citação histórica mas que não ofende absolutamente o Islã; portanto, essa reação é desproporcionada e não é conveniente", disse o prelado salvadorenho em entrevista coletiva na Catedral Metropolitana.

Finalmente, no Peru, o Arcebispo de Lima, Cardeal Juan Luis Cipriani, afirmou que Bento XVI jamais "foi promotor da violência ou maltrato de uma religião".

O Cardeal limenho lembrou em uma rádio local que foi o próprio Papa quem faz uns meses pediu evitar o desprezo de Deus e o cinismo de brincar com as coisas sagradas e os sinais, criticando ao Ocidente por ridicularizar as diferentes expressões da religião, como foi o caso das vinhetas contra Maomé que se publicadas em vários jornais europeus.

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"É um homem muito honesto com a verdade, a razão e a inteligência e busca o diálogo com outras religiões", expressou o Cardeal.