O jornal italiano "Il Riformista" publica hoje um artigo em que, recorrendo a anedotas e diversos testemunhos narrados por seus amigos pinta de corpo inteiro a personalidade do recentemente nomeado Secretário de Estado da Santa Sé, o carismático Cardeal Tarcisio Bertone, e no qual afirma que o Papa Bento XVI teria decidido chamá-lo a seu lado poucos meses depois de sua eleição como Pontífice.

Sobre sua eleição como novo Secretário de Estado, considerada uma das primeiras grandes mudanças do Santo Padre em seus planos de reforma da cúria, o jornal lembra que o Cardeal diz em tom de brincadeira "ter sido escolhido porque é o único que sabe discernir perfeitamente a diminuta caligrafia do Pontífice: por anos foi secretário da Congregação para a Doutrina da Fé quando Ratzinger era o Prefeito".

Entretanto, o jornal afirma que "o Papa, parecia que já tinha decidido chamar Bertone nos meses sucessivos à sua eleição como sucessor de Pedro. Desde o verão do ano passado, escutando também os conselhos de algum cardeal, ele tinha decidido trazer Bertone a Roma, a seu lado".

"Bertone, para o Papa, é um homem fiel, um que aos jantares de gala, nos salões e nas conversações prefere a reserva e o silêncio não obstante seja capaz de humor e brincadeiras, características que bem se compendiam com a austeridade do Papa alemão", afirma o jornal do norte da Itália.

Um cardeal que brinca com os jovens no ônibus

Contam seus amigos que em uma de suas visitas a Roma, o Cardeal decidiu deslocar-se do seu alojamento ao Vaticano de ônibus. "Vamos ao Vaticano de ônibus. Nada de carro. Nada de motorista", disse ao jovem sacerdote encarregado de lhe acompanhar.

Vestido de negro e vermelho púrpura e a grande cruz de prata no peito, o Cardeal chamou a atenção de um grupo de alvoroçados estudantes: "Uma atração para o cardeal tão amante da vida e do anúncio evangélico; um perigo para seu secretário, consciente que quando Tarcisio decidia juntar-se entre as pessoas, as coisas iam que iam".

"Os estudantes, no ônibus, notaram a alta figura cardinalícia que parado na frente do ônibus os olhava divertido. E do grupo de garotos começou a sair uma que outra brincadeira. Tarcisio não resistiu. Com um grande sorriso no rosto –sorriso conhecido, talvez a característica principal de Bertone– foi na direção dos garotos".

"Quebrou o gelo e em pouco tempo, ficou ali, falando seriamente com eles sobre o tema clássico da adolescência: o amor. E portanto o sexo, a virgindade e a castidade. Uma discussão animada e que envolveu um pouco a todos os passageiros, ao menos até o momento em que o Cardeal não teve que desder: tinha chegado a salvo –para alegria de seu secretário– ao Vaticano".

Motivos para a eleição

Entre os testemunhos de quem o conhece destaca o do diretor do escritório cultura e universidade da cúria genovesa, Dome Francesco Moraglia, que opina que "O Papa escolheu ter Bertone a seu lado porque é um homem sereno e também de ação".

Dom Moraglia, lembra o jornal "aquela vez que na catedral ele estava esperando o Cardeal para celebrar Missa. Bertone chegou atrasado e enquanto estava pondo os ornamentos litúrgicos" lhe pediu que organizasse um congresso sobre o ‘Código da Vinci’. É necessário dizer algo –disse– porque estão minando nossos princípios históricos e, portanto, a fé".

Por sua vez, o Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja e a arqueologia sacra, Dom Mauro Piacenza, compartilha algumas de suas impressões sobre o novo Secretário de Estado: "Sentido da Igreja, vida de bom religioso caracterizado pelo carisma do instituto de pertença, quer dizer a sociedade salesiana, inteligência vivaz, lealdade, intrepidez missionária, são aspectos que se vêem rapidamente no Cardeal".

"Se a tudo isso acrescentamos sua experiência variada do oratório, do mundo acadêmico, da cúria romana, de duas sedes metropolitanas (Vercelli e Gênova), do hábito de trabalho com aquele que seria o Sumo Pontífice, compreende-se bem o motivo da opção de Bento XVI", continua.

Segundo Dom Piacenza, "o Pontífice do grande magistério e das grandes ações na sociedade contemporânea encontra no Cardeal Bertone, agora novamente o primeiro e mais imediato colaborador, um amigo confiável, que compartilha intelectualmente as análises e, portanto, dispõe-se com tenacidade e motivada rapidez a traduzi-los no plano operativo. A complementaridade dos caracteres e a franqueza da relação, de fato, podem garantir eficácia ao governo pastoral da Igreja universal".