Em uma entrevista concedida à agência EFE por ocasião da visita do Papa Bento XVI a Espanha, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Joaquín Navarro-Valls, afirmou que este país não é tão resistente à Igreja e o Papa como pretendem apresentar alguns meios de comunicação.

Ao a ser perguntado se acredita que o âmbito mediático apresenta a Espanha real, muito secularizada, reacionária à Igreja, anticlerical e que "passa" do Papa, o porta-voz vaticano respondeu em sentido negativo. "Não, isso ninguém acredita nem dentro nem fora da Espanha. Às vezes se apresenta a realidade de um determinado modo não porque a realidade seja assim, mas sim porque alguns gostariam que fosse assim".

Em relação às "medidas sociais" que o governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero empreendeu na Espanha como a equiparação das uniões homossexuais aos casamentos e o divórcio rápido, o porta-voz precisou que mais que sociais "são temas humanos" e que "o problema" é tratar os temas humanos "como se fossem políticos".

"Por essa via se corre o risco de desumanizá-los. Não se podem tratar os temas éticos como se fossem políticos", assinalou Navarro-Valls, citando o poeta alemão Holderlin para dizer que "alguns querendo fazer de seu estado o céu, convertem-no no inferno".

O Papa conhece e ama a Espanha

Sobre a relação do Papa Bento XVI e a Espanha, o Diretor lembrou que o Pontífice "a visitou como cardeal em várias ocasiões; recebeu nela um Doutorado Honoris Causa" e acrescentou que acreditava não exagerar ao dizer que "Bento XVI ama a Espanha". "É um amor antigo e fundado que amadurece com o tempo. Também porque a freqüente presença de espanhóis nas audiências romanas, o fez crescer", indicou.

Segundo EFE, são seis as visitas que o Pontífice realizou à Espanha como cardeal: em 1989 (Madri), 1990 (Madri), 1993 (Toledo), 1998 (Navarra), 2002 e 2004 (Murcia).

Valência: Uma encontro essencial neste Pontificado

Sobre a possível mensagem do Santo Padre em Valência, Navarro-Valls afirmou que embora "teremos que esperar alguns dias para ouvir suas palavras", acredita que "com sua grande riqueza conceitual oferecerá elementos extraordinários de reflexão e de ensino sobre temas dos que a modernidade pede esclarecimento: família, amor humano, direitos naturais, interação entre pessoa e sociedade, quer dizer, realidades básicas do ser humano".

'Até certo ponto diria que Valência representa uma entrevista essencial neste Pontificado", assegurou o porta-voz papal.

Pastoral da "inteligência"

Depois de lembrar que o encontro que terá o chefe de governo espanhol com o Papa se emoldura dentro dos regulares "encontros de cortesia", Navarro-Valls se referiu à riqueza intelectual de Bento XVI afirmando que sempre o considerou "um dos quatro ou cinco primeiros pensadores de nossa época porque seu pensamento não está circunscrito só no âmbito teológico e sua reflexão se manifesta em de modo acessível; brilhante e profundo mas inteligível para o não especialista que o escuta".

"Tem um estilo formal que não trata de impor nada mas sim de convencer", acrescentou sobre este tema.

Do mesmo modo, o porta-voz da Santa Sé assinalou que Bento XVI já está deixando marcas "'e após apenas quinze meses de sua eleição".

Por último, ressaltou que o Santo Padre recebe diariamente personalidades de todo tipo, muitas delas não católicas, "que querem escutá-lo" e que dentro da Igreja está desenvolvendo uma pastoral da "inteligência" que é "precisamente o que nossa época pede e necessita".