O Arcebispo de Toledo e recém nomeado Cardeal, Antonio Cañizares, assinalou que reduzir a liberdade religiosa ao âmbito exclusivo da consciência pessoal é um engano que leva a considerar a religião como um "assunto privado" e a Igreja como qualquer organização não governamental.

Durante a Missa celebrada neste domingo na catedral primaz da Espanha, o também Vice-presidente da Conferência Episcopal Espanhola denunciou a consolidação de uma tendência que queria "privatizar" cada vez mais as Igrejas, particularmente a Igreja Católica. Esta tendência, acrescentou, permite a cada pessoa aderir-se a qualquer fé sempre e quando esta não tenha expressões públicas.

Segundo o Primaz da Igreja na Espanha, o erro de fundo, inaceitável para os crentes nem para os não crentes, consiste na redução da liberdade religiosa ao âmbito exclusivo da consciência pessoal, com o que, usualmente se fala da religião como de um "assunto particular" e se considera a Igreja Católica da mesma maneira que qualquer ONG.

O novo Cardeal insistiu na necessidade de respeitar o direito de liberdade religiosa para que exista uma autêntica vertebração e integração de uma sociedade de convivência. Tudo o que recorte, impeça ou comprometa esta liberdade não faz outra coisa que desfigurar e destruir a sociedade, acrescentou.

Neste sentido, o Cardeal Cañizares explicou que o reconhecimento pleno do verdadeiro âmbito do religioso, é "completamente vital" para uma correta e fecunda presença da Igreja na sociedade.

Em sua homilia, o Cardeal lembrou a importância que João Paulo II atribuía à liberdade religiosa. Assim, fez memória do que o hoje Servo de Deus escrevera por ocasião de uma das jornadas mundiais da Paz, assinalando que o direito social à liberdade religiosa, na medida em que alcance o âmbito mais íntimo do espírito, revela-se um ponto de referência, e de certo modo, chega a ser um parâmetro de outros direitos fundamentais que deve preponderar na vida do homem.

Cristianismo e regimes autoritários

Em sua intervenção, o Cardeal Cañizares indicou que, sem infravalorizar outras religiões, "é um fato que a Europa e que nossa região se afirmou ao mesmo tempo em que era evangelizada", e por isso, "é um dever de justiça recordar que até há pouco tempo, os cristãos, ao promover a liberdade e os direitos do homem, contribuíram para a transformação pacífica de regimes autoritários, assim como à restauração da democracia na Europa Central e Oriental".

O cristianismo, disse finalmente, respeita as demais crenças, por isso "exigimos o mesmo respeito a nossas próprias convicções" porque sem o respeito ao que "é mais santo para nós não há paz"