O Arcebispo de Buenos Aires e Presidente da Conferência Episcopal Argentina, Cardeal Jorge Bergoglio, assinalou que os bispos não intervêm na vida pública baseados nas ciências humanas, mas sim à luz do Evangelho.

Durante a apresentação do livro "Igreja e democracia na Argentina", que reúne os documentos elaborados pelos bispos argentinos durante as últimas décadas, o Cardeal destacou que a palavra da Igreja sobre as questões referidas à dignidade humana ou às realidades sociais "não se centra nas pesquisa nem nos dados sócio-econômicos ou outros instrumentos certamente muito úteis para sociólogos, economistas ou políticos"; mas sim "é uma palavra profética sobre a realidade pronunciada no Evangelho, uma palavra que não pretende contribuir com soluções técnicas mas despertar as consciências em ordem à consecução do bem comum".

O Cardeal Bergoglio destacou, entre os textos incluídos no mencionado livro, a "Igreja e comunidade nacional" (1981), que considerou "um marco", dado que "então começa a gerar o retorno à democracia e com este luminoso documento os Bispos acompanham esses esforços de políticos, sindicalistas, organizações populares e muitos outros atores sociais".

"Foi uma palavra profética pronunciada a partir do Evangelho, que acompanhou a marcha da Igreja e de todos os homens de boa vontade nessa imensa e complexa tarefa que foi o restabelecimento da democracia em nossa pátria", destacou.

O Arcebispo argentino advertiu entretanto que uma correta leitura dos documentos episcopais "não permite arrancar parágrafos ou frases isolando-as do contexto, porque deste modo se altera seu significado e se faz dizer o documento o que não diz ou, pior ainda, o contrário do que diz".

"A instrumentalização de um documento episcopal por meio deste reducionismo fragmentário desnaturaliza a mensagem construtiva e profética da Igreja. Por isso, é necessário aproximar-se das mensagens episcopais com uma hermenêutica totalizante e adequada", insistiu.

O Cardeal Bergoglio explicou que o texto, de 700 páginas, está dividido em quatro blocos temáticos: "A Igreja e a construção da democracia e a justiça social"; "A defesa da vida e a família em democracia", "A Igreja e a defesa desde os direitos humanos" e "Os conflitos internacionais".

Por último, o Cardeal expressou o desejo de que "se conheça mais e melhor a contribuição que a Igreja tem para oferecer na hora de construir uma convivência pacífica em que se respeite a dignidade de cada cidadão. Desejamos pois, servir a nossa pátria oferecendo, além disso do esforço sempre insuficiente de consolar e auxiliar aos que sofrem, aquelas reflexões que brotam de nossa fé e que consideramos úteis para todos os homens de boa vontade".

Entre os presentes na apresentação do livro esteve o Ministro do Interior, Aníbal Fernández; o Ex-presidente da Nação, Raúl Alfonsín; os senadores Hilda González de Duhalde, José Pampuro e Antonio Cafiero; o secretário de Culto da Nação, Guillermo Oliveri; e outros representantes da política, o diálogo inter-religioso e a ação social.