Em um formato simples de perguntas e respostas, a revista italiana "Famiglia Cristiana" publicou nesta quarta-feira 1 de fevereiro uma carta do Papa Bento XVI dirigida aos leitores da revista, explicando os motivos que o levaram a escrever sua encíclica "Deus é Amor".

Em sua singela e cordial carta, o Santo Padre assinala que "me alegra que Famiglia Cristiana vos envie em casa o texto de minha encíclica e me dê a possibilidade de acompanhá-la com umas poucas palavras que querem facilitar a aproximação à leitura".

O Pontífice assinala que "no início, de fato, o texto pode parecer um pouco difícil e teórico. Quando, entretanto, se adianta a leitura fica evidente que eu só quis responder a um par de perguntas muito concretas para a vida cristã".

Perguntas

O Papa expõe algumas perguntas que devem ser respondidas.

"A primeira pergunta é a seguinte: pode-se verdadeiramente amar a Deus? E ainda: O amor pode ser imposto? Não é um sentimento que temos ou que não temos?"

E assinala que a resposta é: "sim, podemos amar a Deus, dado que Ele não ficou a uma distância inalcançável, mas entrou e entra em nossa vida. Vem para nós, para cada um de nós, nos sacramentos através dos quais atua em nossa existência; com a fé da Igreja através da qual se dirige a nós; fazendo encontrar homens, que são tocados por ele e transmitem sua luz; com as disposições através das quais intervém em nossa vida; com os sinais da criação, que nos doou".

"Ele –continua o Santo Padre– não nos ofereceu somente o amor, mas antes o viveu e chama de tantas formas nosso coração para suscitar nosso amor de resposta. O amor não é só um sentimento, pertencem-lhe também a vontade e a inteligência. Com sua palavra, Deus se dirige a nossa inteligência, a nossa vontade e a nosso sentimento em modo que podemos aprender a amá-lo ‘com todo o coração e com toda a alma’".

"O amor, de fato, não o encontramos já belo e preparado, mas sim cresce; por assim dizer, nós podemos aprender lentamente de modo que cada vez abrace mais nossas forças e nos abra o caminho para uma vida reta", acrescenta o Pontífice.

A segunda pergunta que expõe o Santo Padre em sua carta a Famiglia Cristiana é "Podemos de verdade amar ao ‘próximo’, que nos é estranho ou inclusive antipático?".

"Sim, podemos, responde se formos amigos de Deus. Se formos amigos de Cristo e neste modo é sempre mais claro que Ele nos amou e nos ama, a pesar de que freqüentemente separamos Dele nosso olhar e vivemos seguindo outras orientações. Se sua amizade se converter, pouco a pouco, para nós importante e incisiva, então começaremos a amar àqueles a quem ele ama e que têm necessidade de minha ajuda. Ele quer que nós sejamos amigos de seus amigos e nós podemos obtê-lo se estivermos interiormente próximos a Ele".

O sentido do amor

Bento XVI lança uma pergunta ainda mais complexa, a que quis responder em sua encíclica: Com seus mandamentos e suas proibições, A Igreja não nos faz amargo o gozo do eros, do ser amado, que nos empurra ao outro e quer que se converta em uma união?

"Na encíclica –responde o Pontífice– procurei demonstrar que a promessa mais profunda do eros pode amadurecer somente quando não procuramos aferrar a felicidade repentina. Ao contrário, encontramos juntos a paciência de descobrir sempre mais o outro no profundo, na totalidade de corpo e alma, de modo que ao final a felicidade do outro seja mais importante que a minha. Então não se pode tomar sozinho, mas sim doar e justo nesta libertação do eu o homem encontra a si mesmo e se enche de alegria".

"Na encíclica falo de um percurso de purificação e amadurecimento necessário para que a verdadeira promessa do eros possa se cumprir. A linguagem da tradição a chamou ‘educação para a castidade’, que, ao final, não significa outra coisa que o apreendimento do amor total na paciência do crescimento e do amadurecimento", acrescenta.

A Igreja e a Caridade

Referindo-se então à segunda parte da encíclica, o Papa Bento assinala duas perguntas. A primeira: a Igreja não poderia deixar este serviço a outras organizações filantrópicas que se formam em muitos modos?

"Não –responde o Papa–, a Igreja não o pode fazer. Esta deve praticar o amor pelo próximo também como comunidade, de outro modo anuncia ao Deus do amor de modo incompleto e insuficiente".

A segunda pergunta: "Não é preciso melhor tender a uma ordem da justiça em que não há mais necessitados e por isso a caridade se torna supérflua?".

E a ela, o Santo Padre responde: "indubitavelmente o fim da política é criar uma justa ordem da sociedade, na qual a cada um é reconhecido o seu e nenhum sofre miséria. Neste sentido, a justiça é o verdadeiro objetivo da política, assim como o é a paz que não pode existir sem justiça. Por sua natureza a Igreja não faz política em primeira pessoa, mas sim respeita a autoria do Estado e de sua ordem".

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Mas o Pontífice constata que "freqüentemente, entretanto, a razão é cegada pelos interesses e pela vontade de poder. A fé serve para purificar a razão, para que possa ver e decidir corretamente. É tarefa da Igreja o curar a razão e de reforçar a vontade do bem. Neste sentido- sem fazer ela mesma política- a Igreja participa apaixonadamente da batalha pela justiça. Aos cristãos comprometidos nas profissões públicas espera na ação política o abrir sempre novos caminhos para a justiça".

Bento XVI assinala, além disso, que a segunda metade da resposta a sua pergunta é que "a justiça não pode jamais fazer supérfluo o amor. além da justiça, o homem terá sempre necessidade de amor, que só dá uma alma à justiça. Em um mundo ferido como o experimentamos em nossos dias, não há verdadeira necessidade de demonstrar o dito".

"O mundo espera o testemunho do amor cristão que nos é inspirado pela fé. Em nosso mundo, freqüentemente tão obscuro, com este amor brilha a luz de Deus", conclui a missiva do Papa.