O papa Francisco abordou a crise do abuso sexual na Igreja Católica em seu encontro com membros da Companhia de Jesus na Hungria.

No segundo dia da viagem apostólica à Hungria, 29 de abril, o papa Francisco se encontrou com os jesuítas do país em uma reunião fechada como costuma fazer em todos os países que visita.

No diálogo publicado pela revista jesuíta La Civiltà Cattolica ontem (9), o papa falou sobre os abusos cometidos por membros do clero e sobre pastoral juvenil, entro outros assuntos.

Um jesuíta húngaro perguntou-lhe como era possível seguir o mandamento de Jesus de amar os inimigos ao lidar com um abusador sexual.

No início de sua resposta, o papa observou: “Como nos aproximar, como falar com os abusadores pelos quais sentimos repugnância? Sim, eles também são filhos de Deus. Mas como podemos amá-los? Sua pergunta é muito forte”.

“O abusador deve ser condenado, mas como irmão”, disse o papa Francisco. “Condená-lo deve ser entendido como um ato de caridade. Há uma lógica, uma forma de amar o inimigo que se expressa também desta forma. E não é fácil de compreender e viver”.

“O abusador é um inimigo. Cada um de nós se sente assim porque temos empatia com o sofrimento dos abusados. Quando sentimos o que os abusos deixam no coração dos abusados, a impressão que levamos é tremenda”, disse o papa, identificando-se também com a dor das vítimas dos abusos.

O abusador provoca repulsa

“Também falar com o abusador nos causa repulsa, não é fácil. Mas eles também são filhos de Deus. E é preciso uma pastoral para eles. Eles merecem um castigo, mas também cuidado pastoral. Como fazê-lo? Não, não é fácil. Tem razão".

Pastoral juvenil

Por outro lado, o papa respondeu a outra pergunta sobre a pastoral juvenil: como se comportar com os jovens?

"Para mim, a palavra é 'testemunho'. Sem testemunho nada pode ser feito. Termina como aquela linda canção da Mina [Mazzini]: 'parole, parole, parole...' [palavras, palavras, palavras]. Sem testemunho nada se faz. E dar testemunho significa coerência de vida”, disse.

Sobre o comportamento dos formadores de jovens noviços ou jovens em geral, o papa aconselhou a “falar claro” com eles.

“Você tem que falar com clareza, mostrar coerência. Os jovens têm faro para a incoerência. Com os jovens em formação é preciso falar como adultos, como se fala com homens, não com crianças”.

Desta forma, observou ele, eles são introduzidos na experiência espiritual. “Os jovens não toleram a duplicidade de linguagem, para mim isso é claro. Mas falar com clareza não significa ser agressivo de forma alguma. A clareza deve ser sempre acompanhada de bondade, fraternidade e paternidade”.

Para o papa, a palavra-chave é “autenticidade”: “Que os jovens digam o que sentem. Para mim, o diálogo entre os jovens e os idosos é importante: conversar, discutir. Espero autenticidade, que as coisas sejam ditas como são, as dificuldades, os pecados. E você, como formador, tem que ensinar coerência aos jovens”.

Francisco exortou os jovens a dialogar com os mais velhos. “a profecia de um jovem é aquela que nasce de uma relação de ternura com os idosos. ‘Ternura’, é uma palavra-chave de Deus: proximidade, compaixão e ternura. Por esta via não erraremos nunca. Este é o estilo de Deus”.  

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