Os Legionários de Cristo publicaram pelo terceiro ano consecutivo o "Informe Anual Verdade, Justiça e Reconciliação", no qual prestam contas sobre os compromissos assumidos em relação às vítimas de abuso na congregação e a criação de ambientes seguros.

Segundo dados fornecidos pelos Legionários de Cristo, ao menos 27 padres abusaram sexualmente de menores, o que representa 1,9% de seus padres.

Desde a publicação do Informe Histórico 1945-2019, foram recebidas 11 denúncias de novos casos. Em três deles “não foi possível verificar abuso sexual contra menor”.

Dos demais, um padre foi reduzido ao estado laical, dois padres aguardam a conclusão de seus processos civis e canônicos e outro aguarda a conclusão de seu processo eclesiástico. Outros quatro estão sendo investigados dentro da Igreja, sem que um processo tenha sido aberto.

Atenção às vítimas

Quanto ao atendimento às vítimas, 42 são acompanhados pela Eshmá, uma instituição especializada independente. Destas, 29 sofreram crimes sexuais quando eram menores, e dois, após a maioridade. Onze pessoas denunciaram abusos de poder e de consciência.

Mantém-se o diálogo direto "com mais de 60" das 170 vítimas conhecidas de padres, o que representa 35% do total.

O Informe Anual apresentado pelos Legionários de Cristo detalha que em 2023 está prevista a criação de uma comissão para lidar “de forma global e sistemática” com o fenômeno do abuso de autoridade e de consciência.

Reparação econômica

Em 2022, foi estabelecido um programa internacional de reparações. Durante o ano passado, foram constituídos comitês para esse fim nos territórios do México e da Espanha, e foram tratados 11 casos.

“A Congregação está ciente de que nenhum reparo pode fazer desaparecer ou compensar os danos causados pelo abuso”. No entanto, diz o Informe Anual, “busca oferecer reparação integral para ajudar a trazer justiça e facilitar a cura da vítima”.

Desde 2010, 32 vítimas de abuso sexual receberam compensação financeira dos Legionários de Cristo.

A instituição religiosa contempla quatro tipos de reparação: apoio para a terapia, reparação econômica, subsídio para o sustento e outros apoios institucionais como encontros restauradores.

Todos são oferecidos sem condições aos atingidos e são calculados com base na gravidade do abuso, na idade da vítima e na negligência verificada pela instituição.

Processos canônicos

No ano passado, quatro dos seis processos canônicos em andamento foram concluídos. Em um deles foi decretada a demissão do estado clerical e, em outros dois, a proibição do ministério sacerdotal público. O quarto caso, referente a um padre que não pertence mais à congregação, foi arquivado.

Nesse mesmo período, foram instaurados mais sete processos, por isso no total são nove ativos. Todos os padres envolvidos têm restrições em seu ministério até que os fatos sejam esclarecidos.

A Legião de Cristo diz que "todos os casos conhecidos de sacerdotes que cometeram abusos e permanecem na Congregação dos Legionários de Cristo já foram encaminhados ao Dicastério de Doutrina da Fé para receber instruções sobre os procedimentos a seguir ou ainda são objeto de investigação prévia”.

Encobrimento e negligência

Ao longo de 2022, foi concluída uma investigação independente "sobre as ações dos superiores maiores" em relação a um caso de abuso anterior a 1992.

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Este trabalho teve como objetivo “apurar possíveis responsabilidades pessoais por parte de autoridades da Congregação” além do fundador, Marcial Maciel.

As conclusões do investigador, juiz de um tribunal canônico diocesano do México, foram apresentadas ao Dicastério de Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica e ao diretor dos Legionários de Cristo.

Ambientes seguros

Em relação aos ambientes seguros, seis dos nove territórios da instituição foram credenciados pela organização especializada Praesidium.

Foi nomeado um novo diretor internacional para esta área e cada território tem um coordenador.

Compromisso “irrenunciável”

O padre Javier Cerceda LC, diretor territorial da Espanha, reiterou numa carta a "disposição total" da instituição em relação às vítimas com as quais mantém contato e se ofereceu aos demais:
"Para aqueles que, por quaisquer circunstâncias, não puderam se apresentar, queremos dizer-lhes que estamos à sua disposição. Queremos ouvi-los, respeitamos seu tempo e seu processo, e queremos nos encontrar com elas".

"Nossa própria história só pode ser restaurada através da verdade, da justiça e da cura das vítimas que fazem parte dela, e a quem estamos em dívida", continua ele.

Dirigindo-se a "todos aqueles que sofreram o horror dos abusos de nossos irmãos", o religioso diz que "conscientes de que não podemos apagar o passado, nos comprometemos de forma irrenunciável a acompanhá-los em seu caminho de cura".

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