O arcebispo de Malta, dom Charles J. Scicluna, disse que as pessoas que sofreram abusos do padre jesuíta Marko Rupnik “têm direito a uma resposta”.

Scicluna, que também é secretário adjunto do Dicastério para a Doutrina da Fé, falou com a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, após a conferência dada aos jornalistas em Roma sobre o seu papel na resposta aos abusos na Igreja.

O evento "Da escuridão à luz", foi organizado pela Associação Internacional de Jornalistas Credenciados junto à Santa Sé (AIGAV, sigla em italiano), em colaboração com o Instituto de Antropologia da Pontifícia Universidade Gregoriana.

A conferência que aconteceu ontem (18), na sede da Igreja Nacional da Espanha, em Roma, foi inaugurada pelo padre Hans Zollner, um dos especialistas em prevenção de abusos na Igreja Católica, que deixou a Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores (PCTM) por causa da falta de "transparência, respeito pelas regras e prestação de contas".

Entre os palestrantes estavam dom Charles Scicluna; Brian Devlin, sobrevivente de abusos; Tina Campbell, consultora internacional para proteção de menores; e o padre Davide Cito, consultor do Dicastério para os Textos Legislativos.

A mensagem do papa Francisco

O papa Francisco dirigiu uma mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin aos jornalistas que participaram do encontro.

O papa espera “que seus debates e experiências compartilhadas entre jornalistas, sobreviventes e especialistas ajudem a lançar mais luz sobre o flagelo dos abusos e promova uma cooperação mais eficaz dentro da Igreja e da sociedade em geral, a fim de erradicar este mal profundo”.

Ele exortou os jornalistas a continuar "com seu importante trabalho a serviço da verdade" e, ao mesmo tempo, agradeceu os "esforços contínuos para promover a transparência, devolver a dignidade e a esperança aos sobreviventes de abusos e garantir o bem-estar de todos os filhos de Deus".

O caso Rupnik

No final do encontro, a ACI Prensa perguntou ao arcebispo sobre o caso do padre Rupnik, um jesuíta acusado de ter abusado psicológica e sexualmente de várias freiras.

Dom Scicluna disse que as vítimas "têm direito a uma resposta" do padre e disse: "Se a resposta não vier, também têm o direito de pedir ajuda a vocês" jornalistas, disse Scicluna.

O padre Marko Rupnik, responsável pelas meditações da Quaresma para a Cúria Romana em anos anteriores, é cofundador da Comunidade Loyola na Eslovênia, que surgiu na década de 1980, onde teria abusado de freiras adultas.

Em um comunicado de 2 de dezembro de 2022, os jesuítas disseram que, após uma investigação preliminar confiada à Companha de Jesus, a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), da Santa Sé, “considerou que os fatos em questão prescreveram, por isso arquivou o processo no início de outubro” daquele ano.

Alguns dias depois, em 14 de dezembro, o superior-geral dos jesuítas, padre Arturo Sosa, confirmou que Rupnik havia sido excomungado em maio de 2020 por ter dado a absolvição, em confissão, a uma das freiras de que abusou. Ela confessou o pecado sexual de que ele era cúmplice, o que acarreta excomunhão.

Os jesuítas publicaram uma cronologia do caso Rupnik em 18 de dezembro, segundo a qual, em maio de 2020 a Congregação para a Doutrina da Fé havia, de fato, declarado a excomunhão de Rupnik, mas a sentença foi revogada no mesmo mês.

O padre Rupnik está proibido de atender confissões, exercer a direção espiritual e acompanhar exercícios espirituais. Também não pode fazer atividades públicas sem a autorização do seu superior.

Em 21 de fevereiro, os jesuítas anunciaram restrições “mais rígidas” contra o padre Rupnik, após novas acusações de abuso que teriam acontecido entre 1980 e 2018. Segundo a Associated Press (AP), os denunciantes seriam 14 mulheres e um homem e seriam “pessoas individuais” e outras “que fizeram parte do Centro Aletti”.

Os jesuítas informaram que, após ler o dossiê, o delegado da Delegação para as Casas e Obras Interprovinciais Romanas da Companhia de Jesus (DIR), que é a autoridade sobre o padre Rupnik, padre Johan Verschueren, decidiu “promover um procedimento interno na Companhia onde o próprio padre Rupnik possa dar sua própria versão dos fatos”.

Diante deste procedimento e de “forma cautelar”, o superior “reforçou as regras restritivas contra o padre Rupnik, proibindo-o, por obediência, de qualquer exercício artístico público, especialmente em estruturas religiosas”.

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Em entrevista à AP, publicada em 25 de janeiro, o papa Francisco disse sobre o caso Rupnik: “Não tive nada a ver com isso”.

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