O padre jesuíta alemão Hans Zollner, um dos especialistas em prevenção de abusos na Igreja Católica, denunciou a falta de "transparência, respeito pelas regras e prestação de contas" da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores (PCTM), órgão criado pelo papa Francisco em 2014 para combater os abusos perpetrados pelo clero.

Zollner deu uma entrevista coletiva em Roma anteontem (17) sobre a sua renúncia do órgão.

O padre pediu desculpas se alguém se sentiu "ofendido" com as acusações que fez após a demissão, mas considerou que indicar as coisas que não funcionam servirá para escutar e proteger melhor as vítimas de abuso. "Se alguém se sente ferido, sinto muito e quero pedir desculpas aqui agora", disse ele.

Não é a primeira vez que um membro da Comissão pede demissão do cargo. A especialista irlandesa Marie Collins, vítima de abuso na infância, apresentou sua carta de demissão em 2017 e o britânico Peter Saunders em 2016.

Collins havia alegado "falta de colaboração" e impedimentos "vergonhosos" contra a missão da PCTM diante dos obstáculos colocados por diferentes escritórios da Cúria Romana.

A decisão do padre Zollner, diretor por 11 anos do Instituto para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana, foi anunciada em 29 de março pelo cardeal Patrick Sean O'Malley, presidente da Comissão, que disse que o padre pediu para ser dispensado de seu cargo "depois de refletir sobre sua recente nomeação" como consultor de abusos da diocese de Roma.

“Não são ataques pessoais”

O padre jesuíta disse na entrevista coletiva que "as observações da minha parte não pretendem ser polêmicas ou prejudicar a Comissão, mas sim desenvolver e melhorar internamente o trabalho e o funcionamento da Comissão em harmonia com as preocupações das vítimas que foram feridas pelos abusos dentro da Igreja e de acordo com as preocupações do Santo Padre".

A Comissão foi renovada pelo papa Francisco em 30 de setembro de 2022, nomeando dez novos membros, sete deles mulheres. O padre Zollner foi confirmado no cargo.

Transparência

Na entrevista, o padre Zollner disse que para a Igreja continuar a trilhar o caminho da Proteção de Menores é necessário melhorar "a transparência, o cumprimento e a responsabilidade".

“A transparência é a base de uma Igreja sinodal que permite a participação de muitos”, enquanto o cumprimento é “a base da justiça pela qual as regras se aplicam a todos”, acrescentou.

A prestação de contas é “a base do respeito mútuo e fraterno”. “Quando faltam transparência, cumprimento e responsabilidade, a porta está aberta para abuso e encobrimento”, alertou.

O papa pede uma Igreja que escute as vítimas

O padre Zollner disse que o papa Francisco é "um exemplo de como a Igreja deveria ser".

“Além das regras, além das instituições, além das diretrizes, a Igreja deve lidar com as pessoas e deve ouvir e não fugir e se defender como primeira reação”.

O caso do padre Marko Rupnik

Para o padre Zollner, o caso dos abusos do padre Marko Rupnik não influenciou sua decisão de renunciar à Pontifícia Comissão.

O padre fez questão de responder a perguntas de jornalistas sobre a carta que teria recebido de uma vítima do artista jesuíta e sua falta de resposta.

“Em 15 de junho, recebi um e-mail de uma das vítimas de Rupnik ao qual deveria responder”, admitiu. "A razão pela qual não respondi é que se tratava de uma carta aberta", disse, na qual 17 pessoas apareceram como destinatários, entre eles o cardeal Luis Francisco Ladaria, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, e o arcebispo de Ljubljana, dom Stanislav Zore.

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Na carta, disse o padre Zollner, a vítima também fazia referência a "processos em andamento". Por isso, considerou oportuno aguardar. Mas, disse, que “hoje responderia” à carta.

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