Ao final da última missa do domingo de Páscoa, na catedral basílica de Nossa Senhora do Pilar, em São João Del Rei (MG), a imagem de Nossa Senhora das Dores é colocada em frente ao altar central, as espadas são retiradas de seu coração e uma coroa é colocada sobre sua cabeça. Esta é uma tradição que acontece na cidade há mais de 200 anos, segundo o pároco da paróquia da catedral, padre Geraldo Magela da Silva. “É para mostrar a participação de Maria no mistério pascal de Cristo. Ela não participa apenas da paixão. Ela participa também na vitória de Cristo. Isso está indicado na sua assunção ao céu. Nossa Senhora participa dos efeitos da vitória de Cristo em primeiro lugar”, disse.

Padre Geraldo Magela contou à ACI Digital que esta é uma tradição específica de São João Del Rei, onde “há uma forte devoção mariana”, assim “como em todo o estado de Minas Gerais”. “Como o povo vê essa participação de Nossa Senhora junto ao sofrimento de Cristo, também quer contemplá-la junto de Cristo glorioso”, afirmou.

Antes da coroação, um padre ou um bispo faz uma reflexão “exaltando a participação de Nossa Senhora na paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Em seguida, “o bispo, em nome de toda a diocese, vai retirando do peito de Nossa Senhora as setes espadas que representam a participação de Nossa Senhora no caminho do amor e de dor de Nosso Senhor Jesus Cristo, as suas sete dores. Depois retira o diadema que Nossa Senhora das Dores usa e a coroa com uma rica coroa de prata, mostrando que agora a Senhora das Dores se manifesta a nós como a Senhora da Alegria”, contou o pároco.

Todo esse ritual acontece ao som do Regina Coeli, “o hino pascal que exalta a ressurreição de Cristo e a participação de Maria, porque tudo aconteceu porque ela disse ‘sim’ ao projeto de Deus, tornou-se mãe do Salvador. Por isso, esse hino vai dizer: ‘Aquele que trouxeste em seu seio ressuscitou como disse. Aleluia!’”.

A oração do Regina Coeli ou Rainha do Céu foi estabelecida pelo papa Bento XIV em 1742 e substitui durante o tempo pascal, da celebração da ressurreição até o dia de Pentecostes, a oração do Ângelus, cuja meditação central é o mistério da Encarnação.

O setenário das dores

O padre Geraldo Magela destacou como a solene coroação de Nossa Senhora na noite do domingo de Páscoa está ligada à Semana das Dores, vivida pela Igreja na semana que antecede a Semana Santa e que recorda a sete dores de Maria, também chamado setenário das dores. Na catedral de São João Del Rei, a celebração do setenário começou na sexta-feira (24) e termina hoje (30).

“Toda a Quaresma, principalmente aqui em nossa região, temos muito a figura da Senhora das Dores. Principalmente agora nesses dias, estamos a cada dia refletindo uma dor de Nossa Senhora. Precisamos dar este passo, porque Ela participou da vida de Cristo, Ela se entregou com Cristo”, disse o pároco.

As sete dores de Maria refletem sobre momentos da vida de Nossa Senhora retirados dos evangelhos. São eles: a apresentação de Jesus no Templo e a profecia de Simeão; a fuga para o Egito; a perda do Menino Jesus no Templo; o encontro com Jesus no caminho do calvário; o momento em que se encontrou de pé junto à cruz de Jesus; quando teve o corpo de Jesus morto em seus braços; o sepultamento de Jesus.

Soledade de Nossa Senhora

Seguindo com a programação que recorda a participação de Nossa Senhora no mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus, amanhã (31) haverá após a missa das 19h na catedral de São João Del Rei a procissão da Soledade de Nossa Senhora.

O padre Geraldo Magela destacou que soledade “vem de solidão”. Esta procissão, então, recorda quando “Nossa Senhora deixa o corpo de Jesus sepultado e volta para a casa sem o seu Jesus”. O pároco contou que, “segundo uma antiga tradição”, neste caminho de volta para casa, “Nossa Senhora teria passado novamente pelos locais que marcaram a paixão de Cristo”.

O sacerdote ressaltou que “essa dor da ausência de Jesus, essa saudade”, foi “ao mesmo tempo vivida na ótica da fé”. “Nossa Senhora, apesar de não saber plenamente como Deus ia agir, confiava que algo novo estava para acontecer.

“A soledade quer reviver esse momento entre o sepultamento de Jesus e sua ressurreição. É o silêncio de Maria no Sábado Santo, por isso todos os sábados são dedicados a Nossa Senhora, em memória dessa luz da fé que não se apagou em seu coração mesmo com a morte de Cristo. Os discípulos estão desanimados, vemos os discípulos de Emaús voltando para casa. Mas, Nossa Senhora continua esperando em Deus”, disse.

Maria deve ser nosso exemplo

Para o padre Geraldo Magela, “esses mistérios que estamos celebrando são uma metáfora de nossa vida” e são “uma mensagem muito forte de esperança”.

“Vivemos nesse mundo tão conturbado. O papa Francisco fala de uma terceira guerra mundial em pedaços, vemos a violência em nosso país, e também os dramas pessoais de cada um de nós. Então, a tentação seria o desespero, a revolta, o desânimo. Mas, não. Se vivermos toda essa realidade com Cristo, procurando viver a sua palavra, procurando colocar em prática a sua palavra, nós vamos sair vencedores de tudo isso. A última palavra não é da morte, mas da vida, porque Cristo ressuscitou”, disse.

“Nossa Senhora fica para nós, então, como esse exemplo. As suas dores, a sua soledade, tudo isso foi vivido na dimensão da fé. Ela sempre confiou em Deus, sempre esperou em Deus. Por isso, Ela participa da vitória de Cristo”, concluiu.

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