O papa Francisco celebrou hoje (5) diante de milhares de fiéis de todo o mundo a missa pelo funeral do papa Bento XVI na praça de São Pedro no Vaticano. Foi a primeira vez na história da Igreja que um papa celebrou o funeral de seu antecessor.

No início da homilia, o papa Francisco recordou as últimas palavras de Jesus Cristo na cruz: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito", frase que para o papa Francisco "é capaz de confirmar aquilo que caracterizou toda a sua vida: uma entrega contínua nas mãos de seu Pai".

Para o papa Francisco, este último suspiro do Senhor é também “o convite e o programa de vida que inspira e quer moldar o coração do pastor como um oleiro, até que nele batam os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”.

Com base nesta afirmação, Francisco falou de três tipos de “dedicações” que Jesus Cristo mostrou ao se doar completamente e cumprir a vontade de seu Pai.

Dedicação agradecida, orante e sustentada

Em primeiro lugar, falou da “dedicação agradecida feita de serviço ao Senhor e ao seu povo, que nasce da certeza de se ter recebido um dom totalmente gratuito”.

“É a condescendência de Deus e a sua proximidade, capaz de colocar-se nas mãos frágeis dos seus discípulos para alimentar o seu povo e dizer com ele: tomai e comei, tomai e bebei, este é o meu corpo, que é entregue por vós”, disse o papa.

O papa Francisco falou de uma “dedicação orante” que “se plasma e aperfeiçoa silenciosamente por entre as encruzilhadas e contradições que o pastor deve enfrentar e o esperançado convite a apascentar o rebanho”.

“Como o Mestre”, continuou o papa, “carrega sobre os ombros a canseira da intercessão e o desgaste da unção pelo seu povo, especialmente onde a bondade é contrastada e os irmãos veem ameaçada a sua dignidade”.

Ele também falou da "confiança orante e adoradora, capaz de interpretar as ações do pastor e ajustar seu coração e decisões aos tempos de Deus".

Sobre a “dedicação sustentada”, o papa disse que esta se dá “pela consolação do Espírito, que sempre o precede na missão e transparece na paixão de comunicar a beleza e a alegria do Evangelho”.

E também "pelo testemunho fecundo daqueles que, como Maria, permanecem de muitas maneiras ao pé da cruz, naquela paz dolorosa, mas forte, que não agride nem oprime".

O papa Francisco exortou a acolher “as últimas palavras do Senhor e o testemunho que marcou sua vida” e como comunidade eclesial, “seguir seus passos e confiar nosso irmão nas mãos do Pai”.

“Que estas mãos misericordiosas encontrem a sua lâmpada acesa com o azeite do Evangelho, que ele difundiu e testemunhou durante a sua vida”, disse.

No final da homilia, o papa Francisco recordou são Gregório Magno, que, ao finalizar a Regra Pastoral, “convidava e exortava um amigo a lhe oferecer esta companhia espiritual”.

Para o papa Francisco, “Bento XVI cultivou a consciência do pastor que não pode carregar sozinho aquilo que, na realidade, nunca poderia sustentar sozinho e, por isso, soube abandonar-se à oração e ao cuidado do povo que lhe está confiado.".

"Bento, fiel amigo do esposo"

Por fim, referindo-se ao papa emérito Bento XVI, disse que “é o povo de Deus que, reunido, acompanha e confia a vida de quem foi seu pastor”.

“Como as mulheres do Evangelho no sepulcro, estamos aqui com o perfume da gratidão e o unguento da esperança para lhe mostrar, mais uma vez, aquele amor que não se perde; queremos fazê-lo com a mesma unção, sabedoria, delicadeza e dedicação que ele soube espalhar ao longo dos anos”, acrescentou.

“Queremos dizer juntos: 'Pai, nas tuas mãos entregamos o seu espírito'. Bento, fiel amigo do Esposo, que a tua alegria seja perfeita escutando definitivamente e para sempre a sua voz!”

Mais em